51

19 3 0
                                    

Ele piscou os olhos várias vezes, como se tentasse ajustar a visão, o olhar perdido, desnorteado. Por um breve instante, seu rosto refletia uma mistura de incredulidade e confusão, como se minha presença fosse algo impossível, uma assombração.

Seus lábios entreabriram, mas nenhuma palavra escapou, e eu quase podia ver o furacão de pensamentos que o atravessava.

Meus dentes batiam incontrolavelmente enquanto meu corpo tremia de frio, e percebendo meu estado, ele agarrou meu braço com uma firmeza quase desesperada. Sem dizer nada, me puxou para dentro do pequeno apartamento.

Seus olhos ainda fixos no chão, evitando o contato visual, ele pegou uma toalha grande e, com gestos precisos, a colocou sobre meus ombros. O silêncio entre nós era espesso, quase palpável, enquanto ele revirava as gavetas da cômoda, procurando algo.

— Tire essa roupa molhada e vista isso. — Sua voz soou seca, mas havia uma preocupação oculta em suas palavras. Ele me entregou algumas peças de roupas secas, sem erguer os olhos.

— Daehyun, eu não estou preocupada com isso. — Minhas mãos tremiam ao colocar as roupas na cama, e tirei a toalha das costas, encarando-o. — Eu quero conversar.

Ele nem sequer hesitou, sua expressão permanecia impassível, fria. — Tire essa roupa molhada, antes que pegue um resfriado.

Ignorei sua indiferença e dei um passo em sua direção, o coração acelerando.

— Esqueça isso! Eu estou aqui agora... — Mas ele me cortou antes que pudesse terminar, aproximando-se com uma intensidade que fez meu estômago se revirar. Com um movimento decidido, ele recolocou a toalha em meus ombros, seus olhos finalmente encontrando os meus, mas ainda vazios de qualquer emoção.

— Se você não tirar essa roupa molhada, eu mesmo tiro. — Sua voz saiu firme, e por um segundo, meu rosto queimou de surpresa.

Ele não estava brincando. Seu olhar duro e inexpressivo não deixava espaço para dúvidas. O ar entre nós parecia congelar. Não havia um traço de leveza, apenas uma determinação silenciosa.

Eu não tive escolha, cedi ao seu pedido porque sabia que, enquanto eu estivesse ali, com a roupa encharcada e o corpo tremendo, não haveria diálogo algum. Ele sempre foi teimoso assim. Não daríamos um passo à frente até que eu fizesse o que ele achava correto.

Ele colocou uma camisa, e de repente o peso dessa simples ação caiu sobre mim. Como se, sem perceber, tivéssemos perdido algo essencial. Aquela familiaridade que costumávamos ter, onde o corpo dele era parte do cenário natural pra mim. Agora, havia algo formal, um muro invisível.

Ele insistiu que eu secasse o cabelo, mas eu não conseguia me importar com isso. Eu queria gritar que aquilo era irrelevante.

Secar o cabelo? Não importava! O que importava era o vazio crescente entre nós, a distância que parecia alargar a cada segundo perdido. Mas ele, como sempre, ignorou meus protestos pegou o secador e, com movimentos cuidadosos e automáticos, começou a secar meu cabelo.

Enquanto ele secava meu cabelo, fiquei imóvel, tentando sufocar a urgência que me consumia.

A cada toque dele no meu cabelo, sentia um misto de emoções. O calor do secador contrastava com o frio que eu sentia por dentro. Estar ali, com ele, de novo naquele ambiente tão familiar, doía.

Tudo o que eu queria era desabafar, deixar que as palavras saíssem e desfizessem o nó no meu peito, mas ele estava tão calmo, meticuloso, como se não tivéssemos uma montanha de problemas pairando sobre nossas cabeças.

Quando terminou de secar meu cabelo, ele se afastou um pouco. Eu podia ver nos olhos dele algo que me fazia estremecer – era o olhar de alguém que se fechou.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora