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Todas as noites, Lucas fica comigo ao telefone até que o sono me vença, mas hoje… hoje foi diferente. Nada do que ele dizia conseguia abafar o furacão que rugia dentro de mim. A imagem daquele beijo — Daehyun, com outra, tão íntimo, tão entregue — a cena estava cravada na minha mente como uma lâmina afiada que girava, rasgando, a cada segundo.

Eu soluçava no telefone, sem parar, e ele ouvia, paciente, tentando encontrar as palavras certas, mas nada… nada me acalmava. Lucas, do outro lado da linha, disse com uma voz baixa, quase um sussurro: "Se eu pudesse, eu estaria aí agora. Eu te abraçaria tão forte que você esqueceria tudo. Eu te salvaria de todo esse sofrimento, te protegeria de cada lágrima. Eu seria seu heroi."

Havia tanta doçura na sua voz, mas também uma fúria contida. Eu sabia que ele odiava Daehyun agora, mais do que qualquer coisa. O ódio que ele nutria por Daehyun era tão palpável que quase podia sentir sua raiva através do telefone.

No fundo, eu sei que não há motivos reais para odiar Daehyun. Nós não estamos mais juntos, e ele tem todo o direito de seguir com a vida dele, de buscar novos sorrisos, novos toques. Fui eu quem tomou a decisão de acabar, quem virou as costas para o que tínhamos. Talvez Lucas o odeie porque me viu desmoronar, porque ouviu cada soluço meu enquanto eu tentava juntar os pedaços que sobraram de mim.

Mas, no fundo, eu sei… a culpa é minha. Fui eu que soltei as mãos, fui eu que quis distância, achando que seria melhor, que o fim traria algum tipo de paz. Agora, a dor que sinto não é culpa dele. Ela nasceu das escolhas que eu mesma fiz, das consequências que agora se arrastam sobre mim como uma sombra pesada. Daehyun não me deve nada — ele só seguiu em frente, enquanto eu fiquei presa nas minhas próprias decisões.

Eu virei de um lado para o outro na cama, o lençol se enroscando em minhas pernas, meus dedos apertando o tecido com força, como se pudesse afastar aquela visão.

Ainda me sinto completamente confusa. Ver Daehyun beijando Maysane, e não Cat, que foi o pivô do nosso término, me deixou atordoada. É como se minha mente não conseguisse processar o que meus olhos viram. Tudo parece um emaranhado de emoções, e sinto como se a qualquer momento eu pudesse perder o controle, como se estivesse à beira de enlouquecer.

Pensei, em algum momento, que talvez fosse eu a imatura. Que, talvez, tudo não tenha passado de um grande mal-entendido. Que, no fundo, fui eu quem deixou aquela insegurança pequena, quase insignificante, crescer e se transformar em um monstro, até que me devorasse por completo.

Mas, mesmo se tivesse sido isso — apenas um mal-entendido —, sei que, mais cedo ou mais tarde, minha insegurança acabaria explodindo de qualquer maneira. Eu faria alguma besteira, era inevitável. O problema sempre foi mais profundo, uma rachadura que eu carregava dentro de mim.

Minhas feridas… elas são só minhas. Ninguém pode curá-las por mim. Não Daehyun, não Lucas, nem ninguém.

Preciso enfrentar isso sozinha, mergulhar nessas dores e, de algum jeito, encontrar a cura. Eu espero estar certa sobre isso. Porque, se não estiver, o que resta?

Eu queria ser forte, mas tudo que eu era… era uma menina. Uma menina frágil, insegura, mimada. Uma menina que perdeu o homem que amava porque nunca teve coragem de ser honesta consigo mesma ou com ele. Preferi engolir minhas emoções, esconder meus medos, ao invés de enfrentá-los. E agora, aqui estava eu, destruída, afogada nas consequências da minha própria covardia.

Mas não havia para onde fugir. Meus lábios tremiam e eu sentia meus olhos ardendo, mas não, eu não queria chorar mais. A cada suspiro, uma sensação de impotência me invadia, e minha garganta se fechava como se quisesse gritar, mas o som ficava preso, esmagado pela dor.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora