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Um estrondoso ruído, de Palmas se chocando, irrompe do silêncio e invade meus ouvidos, arrancando-me de um sono profundo

Minhas pálpebras pesadas resistem a se abrir, mas meu subconsciente insiste, lembrando-me das minhas obrigações.

Com esforço, forço meus olhos a se abrirem, irritada com o som repetitivo que ameaça enlouquecer-me.

— Ei, acordem e saiam... todos já desceram do ônibus — uma voz resmungada me adverte — Não tenho tempo, vocês precisam sair.

Sinto o peso do cansaço em meu corpo, prendendo-me, enquanto minha mente ainda está turva, incapaz de identificar a pessoa que fala.

Depois de inúmeras tentativas, finalmente consigo abrir os olhos completamente e encontro o rosto rechonchudo e carrancudo do motorista nos encarando, com as sobrancelhas franzidas.

O garoto irritante de Busan e eu somos os únicos que permanecem a bordo.

Apenas agora percebo que minha cabeça estava confortavelmente apoiada em seu ombro, e ele, por sua vez, também repousava a cabeça sobre a minha.

Constrangida com a proximidade involuntária, pulo para me afastar, fazendo minha cabeça bater no queixo dele e fazendo-o reclamar de dor.

— Quando você vai parar de fazer isso? — ele franze o rosto, massageando o queixo com a mão — Você é um perigo para a sociedade.

Ele me lança um olhar ardente, ajusta sua mochila nas costas e se prepara para sair.

Pondero a ideia de pegar o primeiro avião de volta ao Brasil, caso a companhia dele resulte em mais constrangimentos.

Contudo, ao me preparar para descer do ônibus, um tropeção causado pelos meus cadarços me faz cair sobre ele, derrubando-o no corredor.

Ele acaba deitado de bruços, e eu rapidamente me ergo, envergonhada, permitindo que ele se levante.

— Você se machucou? — meu rosto fica vermelho de vergonha.

"Brasil, aí vou eu!" É o que penso ao encarar seu olhar entediado, que parece perguntar por que sou sempre assim tão desastrada.

Decido seguir meu caminho e correr para fora do ônibus, sem ousar olhar para trás.

Agarro minha mala no bagageiro e caminho na direção do campus da faculdade.

— Ei, era você no festival das Cerejeiras naquele dia, certo? — ouço uma voz atrás de mim.

Me viro e vejo o rapaz dos olhos negros caminhando em minha direção com calma, sem pressa.

A noite está estrelada, a lua minguante e o ar frio, mesmo que a primavera esteja apenas começando. Uma brisa gélida brinca com meus cabelos enquanto tento entender por que ele está conversando comigo, quando claramente não suporta minha companhia.

— Eu me lembro da cor do seu cabelo. Lembro de você parada no meio do caminho, tentando tirar fotos de algo ou sei lá o que...

Franzo a testa, tentando recordar o que ele está falando.

— Você é aquele coreano mal-educado que esbarrou em mim e derrubou meu celular no chão?

Quando ele finalmente chega perto de mim, ele sorri e gentilmente afasta um fio de cabelo que o vento sopra em meu rosto, tornando o ar ainda mais frio com seu toque.

A mesma brisa bagunça os cabelos dele, destacando sua beleza absurda.

— A única coisa que lembro daquele dia é a cor do seu cabelo — ele finge pensar, enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo — E... eu não teria esbarrado em você se você não estivesse atrapalhando o caminho.

Sinto a raiva percorrer meu corpo enquanto afasto sua mão de meu cabelo com um tapa. Como ele pode ser tão presunçoso?

— Eu não estava atrapalhando nada — contesto — Você estava claramente distraído, e a culpa foi toda sua.

Ele bufa como uma criança mimada.

— Você estava no meio do caminho, parecendo louca — argumenta.

— Como você pode ser tão arrogante? Nem sequer teve a cortesia de pedir desculpas.

Os olhos são muitas vezes considerados as janelas da alma, e consigo ver claramente a intensidade de suas emoções. Agora, só espero que ele consiga ler o quanto ele me deixa furiosa.

— Você não pode admitir que estava errada? — ele aperta a mandíbula.

— Se eu estivesse errada, teria me desculpado, como fiz em Busan. Mas, neste caso, você estava errado, seu convencido.

— Daehyun. É meu nome. — seu tom de voz fica irônico.

— Tanto faz... — dou de ombros e começo a andar em direção ao dormitório feminino.

— Garota problema. Qual é o seu nome? Apenas por precaução. — ele grita enquanto a distância entre nós cresce.

— O que você vai fazer? Correr na direção oposta toda vez que ouvir meu nome?

— Sim, vou fazer isso. Vou saber que, não importa onde você esteja, preciso ir na direção oposta — ele sorri.

— Se estiver tão interessado, descubra por conta própria.

A lua ilumina seu rosto, fazendo seu sorriso brilhar. Sua beleza é inegável, mas também é um desperdício de ser tão bonito e tão insuportável.

Quando chego ao meu quarto, sou ignorada por Luana, que age como se eu nem existisse. Pego meu celular e vejo cinquenta mensagens de Lilly, curiosa para saber quem era o cara que estava ao meu lado no ônibus.

Daehyun é o nome do garoto insuportável, de Busan.

Amor de Algodão DoceOnde histórias criam vida. Descubra agora