capítulo 4

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Estava jogado no sofá entretido no meu celular quando alguma coisa chamou minha atenção, desviei o olhar e por um segundo pude jurar que todo o ar sumiu de meus pulmões, e que meu Sangue parou de circular pelo corpo.

A verdadeira descrição da perfeição, Katerina não estava mais com o olhar perdido e observando seu arredor. Agora ela estava com um olhar mortal, a maquiagem escura só serviu para realçar todo o ódio que brilhava em seus olhos.

O cabelo curto estava penteado para trás, nada o prendia e apesar disso ele permanecia no lugar. Um vestido tubinho preto cobria seu corpo ate a metade da coxa, três dedos depois ele dava lugar a uma bota de couro no mesmo tom. Por cima de seus ombros um casaco marrom se estendia ate o comprimento do vestido.

Meus olhos correram até se esbarrarem com o olhar dela, o olhar que, com certeza, até o diabo temia. Katerina estava de volta a cidade e agora tudo ia pegar fogo.

Ela chegou a base da escada e finalmente o ar retomou meus pulmões. Um instante depois eu estava de pé caminhando atrás dela até a entrada da casa.

Ela abriu a gaveta da mesinha onde ficava as flores e pegou uma das chaves de carro, eu seguí para minha camionete, liguei e esperei até que a porta da garagem se abrisse e um eclipse preto surgisse bem de vagar.

O carro baixo passou por mim e seguiu a estrada até a saída da casa e depois pela pista. Deixei que fosse na frente pois ela já sabia onde iríamos, no mesmo lugar no meio da estrada onde tomamos café da manhã por muitos anos.

Após vários minutos seguindo na rodovia que ia para outra cidade, como uma miragem o pequeno restaurante apareceu em meio a estrada vazia, os carros encostaram lado a lado e eu fui o primeiro a descer, seguido da katerina.

O lugar não mudara nada, o restaurante continuava sendo o único por quilômetros. O balcão como sempre bem recheados, com doces e salgados dos mais diversos.

- crianças! Que saudade que eu estava de vocês! - a voz da marta preencheu todo o ambiente que estava vazio exceto por nós três

- oi tia marta! Eu também estava morrendo de saudade de você! - katerina disse no mesmo entusiasmo e correu abraçar a senhora que chamávamos de tia desde nossa adolescência, mesmo sem ter parentesco algum conosco.

- e você? Olha como esta forte! - ela disse me observando antes de me abraçar também.

- e você continua exatamente igual tia! - exclamei fazendo a senhora a nossa frente rir.

- o que vão querer hoje? - marta perguntou passando para trás do balcão novamente

- eu quero um croissant de frango e um café bem docinho - katerina disse depois de analisar todo o balcão a nossa frente

- eu quero uma coxinha e um café - falei a primeira coisa que veio a minha mente.

- podem se sentar, eu levo lá pra vocês.

Katerina foi quem se afastou primeiro, indo até uma mesa no fundo da lanchonete, ao lado de uma janela grande onde era possível ver a rodovia.

Ela se sentou de costas para parede onde era possível ver todo o ambiente, e para não ficar de costas me sentei ao seu lado. O dia estava começando a esquentar então tirei meu blazer e puxei as mangas da camisa até a altura do cotovelo.

Quando olhei para o lado encontrei a katerina fitando meu braço, observando a tatuagem nórdica que começava na minha mão direita ia até o limite da camisa.

- o que achou? - perguntei pegando-a de surpresa

- ficou legal! - ela disse sem muita importância e olhou pela janela.

- já sabe o que vai disser pra ele? - perguntei tentando puxar ela de qualquer que fosse os pensamentos que estavam a consumindo

- a verdade - ela respondeu olhando no fundo dos meus olhos e além como se estivesse vendo a minha alma - que meus irmãos precisam de mim então vou tirar umas férias até resolver os assuntos da família.

- então é só isso? - a dúvida devia estar estampada no meu rosto pela forma que ela me olhou e então seu olhar ficou profundo, dava até pra ver um brilho diferente, um brilho que eu a muito tempo conheci

- o pedido de vocês - tia Marta falou quebrando a nossa troca de olhares. Ela colocou os salgados e os cafés na mesa - que bom que estão juntos novamente - ela disse com um sorriso no rosto antes de se virar e sair

- você não me respondeu - chamei a atenção da katerina entanto mexia o meu café

- sim. É só isso, nada mais e depois que eu resolver e o dinheiro voltar a cair na minha conta irei embora de novo. - sua resposta foi afiada e atingiu algo dentro de mim que me fez perder a fome

- contas que suponho eu, ele não faça a menor ideia da existência - já que ela queria me machucar eu estava disposto a entrar no seu maldito jogo

- não era algo extremamente necessário, quando chegasse o momento certo eu diria a ele - ela tomou um gole do café fazendo uma longa pausa antes de prosseguir - mas esse momento nunca chegou

- então ele não sabe nem de nós? - algo dentro de mim implorava para que eu parasse com as perguntas mas apesar disso eu não conseguia, eu precisava saber de tudo

- não, nunca veio ao caso disser que meu pai é um Don italiano, e que eu tenho cinco irmãos, apesar de nenhum ter o meu sangue correndo nas veias. - ela respondeu com um tom ainda mais afiado e um leve toque de deboche na voz

O mundo havia parado, eu não queria mais fazer perguntas, apesar de ter várias delas. Não queria saber como foi a recuperação dela depois de mandarem cada um pra uma cidade diferente, não queria saber como ela conheceu seu namorado ou como ele era com ela, não queria saber o que fazia em seu tempo livre, se tinha um bichinho de estimação, nada.

Respirei fundo deixando o ar fresco do outono entrar em meus pulmões, parecia que nunca havíamos coexistido, agora ela tinha outra vida, era outra pessoa e aparentemente não me queria por perto por mais que eu tentasse me aproximar.

Minha única escolha agora era deixá-la ter seu tempo, no fundo ela sabia que nunca mais, depois de hoje, voltaria pra casa pequena em que morava com o namorado, ou pro trabalho no escritório, nem mesmo voltaria pra suas amigas ou seu gato, só restava ela aceitar isso.

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