capítulo 5

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Terminei de comer em silêncio ao lado do Alemão, de relance percebi que a única coisa que ele fez durante o tempo em que ficamos ali foi olhar para porta de saída e tomar seu café, ele nem sequer tinha relado no salgado quando levantou e disse que precisava ir.

Observei ele enquanto pagava a conta, depois passou pela porta e entrou em seu carro sem nem sequer olhar para trás.

Após vários minutos olhando pela janela o movimento da rodovia, que não era muito por estar cedo, de levantei e fui novamente até o balcão.

- o menino deixou o seu pago, e um chocolate também - tia marta falou me entregando uma caixa de bombons - espero ver vocês mais vezes por aqui! - o sorriso no rosto dela era contagiante

Despedi-me dela e peguei os chocolates, entrei no carro e comecei a dirigir até a minha casa, dessa vez não liguei o som, minha mente já fazia barulho o suficiente não precisava de mais sons. E as perguntas que o alemão me fez ainda rodopiavam em minha mente, como se ele quisesse que eu largasse minha nova vida por ele.

Apesar de me doer ver o rosto triste dele quando disse que não permaneceria, isso havia sido um mal necessário.

Sim eu queria disser que estava disposta a largar tudo e voltar pra ele, voltar para minha família, para minha casa, mas acima de tudo queria disser que o perdoava e que meu coração ainda era totalmente dele, e que por mais que eu tentasse preencher o enorme espaço que ele havia deixado eu não conseguia de forma alguma.

Mas antes que eu conseguisse dizer alguma coisa as memórias de tudo o que ele me causou vieram a tona, toda a dor que eu senti quando ele me mandou pra longe, em uma cidade que não conhecia. apenas com um endereço e um trabalho, isso tudo após eu ter perdido meu bebê, no momento em que mais precisava de apoio.

O caminho foi longo, mas com minha mente a mil pareceu minutos até estar estacionada na frente da minha casa, mas ao descer do carro e olhar para o portão fechado, me senti perdida, como se estivesse no lugar errado, como se ali não fosse minha casa.

Passei pelo portão, lutando contra minhas pernas que se recusavam a ir em direção a casa, quando entrei, diferente dos outros dias, meu gato não veio ao meu encontro, a casa de repente pareceu extremamente silenciosa.

Quando entrei na cozinha Lucas estava sentado a mesa, com uma garrafa de vodka na sua frente pelo final e um copo já vazio.

- se deu o trabalho de voltar - ele riu em escarnio - agora você pode me explicar alguma coisa - Eu não podia acreditar, ele estava bêbado, nunca havia o visto assim, ele nunca bebia mais do que um copo, não importava a bebida que fosse.

- sim meu amor, eu vim te explicar tudo - falei com cautela

- então comece! E espero que tenha uma boa explicação pra carta com os chocolates.

- a minha familia, eles precisam de mim, por um tempo - ele começou a rir alto me fazendo parar de falar.

-sua família? EU sou sua familia!- ele falou um tom mais alto

- sim você é, mas eu também tenho meu pai e meus irmãos, e eles precisam de ajuda

- qual foi a reação deles quando você negou a ajuda? - ele me perguntou sorrindo de lado

- eu não neguei, é a minha familia e no que eles precisarem eu vou ajudar.- eu já estava ficando de saco cheio de toda essa situação

-se for não precisa nem voltar - o desafio nos olhos dele alimentou todo o stress que eu estava guardando. Não era nem meio dia e ele parecia querer me tirar do sério, se era isso que ele queria, meus parabéns porque eu não consegui controlar a chuva de palavras que saíram de mim

- eles são a MINHA família, sempre que sua família precisou você largou tudo para ajudá-los, então sim, eu vou ajudá-los e se isso for um problema pra você, por mim tanto faz, eu estou indo. - me virei e caminhei até a porta, sempre fiz tudo para ajudá-lo e agora ele me trata assim?

- se sair por essa porta eu vou atrás de você - a voz dele ecoou pela casa como uma ameaça

- pode tentar - foi a última frase que disse antes de fechar a porta e seguir para rua

Quando cheguei na porta do carro dei de cara com o gatinho, peguei ele no colo e acariciei seu pescoço tirando um ronronado dele. Nunca liguei muito para gatos, mas sabia exatamente quem ia adorar ele.

Entrei no carro e coloquei ele no banco do passageiro com meu casaco por cima, o que fez ele se aninhar. Liguei o som em uma rádio internacional e segui para cidade vizinha.

O caminho dessa vez pareceu demorar uma eternidade, mas eu estava decidida, e depois de gritar com o Lucas minha mente estava estranhamente silenciosa como se as peças de um jogo começassem a se encaixar.

Adentrei o portão principal da casa e segui pelo túnel de bambus até a clareira onde a casa permanecia a minha espera. Parei o carro ao lado da fonte, peguei o gatinho ainda enrolado no meu casaco e entrei na casa.

Ninguém estava lá, eu não sabia se isso era bom, coloquei o gatinho no chão e aproveitei meu momento sozinha para recordar algumas coisas, como a pequena mancha de vinho no carpete ao lado do sofá, que estava lá desde uma noite de filmes que acabou com todos bêbados quando eu tinha dezesseis anos.

O quadro de nós seis em um dos bailes na Espanha, estava ao lado da grande TV na sala de estar, todos vestidos de gala. Na parede oposta, um grande expositor continham seis espadas, uma diferente de outra e cada uma única no mundo, feitas pelos seis irmãos quando o Don decidiu que tinhamos que saber fazer uma espada antes de aprender a empunhá-la.

Um dos armários da cozinha ainda estava repleto de bebidas artesanais, muitas nem abertas ainda, outras apenas com um resto do líquido no fundo da garrafa. Subi as escadas e entrei na biblioteca, uma parte da grande estante de livros, ainda continha lembranças que coletamos em várias partes do mundo. Cheguei a janela no fundo do lugar e olhei a piscina, tantas festas, tantas noites de bebedeira.

- Cigana! Tá aí? - a voz do coiote ecoou pela casa fazendo-me virar e sair correndo escada abaixo para encontra-lo, agora sim estávamos todos nessa.

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