Ao me levantar, senti uma animação especial para o treinamento de Gustavo com espadas. Essa parte do treinamento era desafiadora, mas também emocionante, pois eu sabia que era uma habilidade essencial para qualquer guerreiro.
Os dias passavam rápido, em meio à correria dos treinamentos e ensinamentos para Gustavo. Nossa conexão se fortalecia a cada dia, e ele se tornava um aprendiz dedicado e habilidoso. Aprendíamos um com o outro, e a troca de conhecimento era enriquecedora.
Aos poucos, a saudade de cigana já não me abatia com a mesma intensidade. Ainda sentia sua falta, mas agora sabia que ela estaria sempre presente em meu coração. A dor da perda estava cedendo espaço para uma lembrança carinhosa, repleta de bons momentos compartilhados.
Sentar-se à mesa com meus quatro irmãos para tomar café da manhã pela primeira vez após a morte da Cigana trouxe uma mistura de emoções. A saudade ainda estava presente, mas estar cercado por minha família era reconfortante.
Enquanto conversávamos, percebi que Erick parecia distante, como se estivesse indiferente ao que acontecia ao redor. Aquela indiferença me causou uma pontada de raiva e incompreensão. Como ele podia parecer tão indiferente à perda da nossa irmã?
- Você está bem, Erick? - perguntei, tentando controlar o tom de minha voz.
Ele deu de ombros, sem olhar diretamente para mim.
- Estou bem, Alemão. Apenas focado no trabalho e nos negócios da organização.
A resposta dele me frustrou. Eu queria que ele compartilhasse o luto, que expressasse sua dor e saudade por Cigana. Era difícil entender como ele podia parecer tão imperturbável.
- Temos o direito de sentir falta dela - eu disse, com a voz carregada de emoção. - Ela era nossa irmã, Erick. Não podemos simplesmente ignorar a dor de sua partida.
Os outros irmãos olharam para mim, em silêncio, como se estivessem aguardando a resposta de Erick. Senti um nó na garganta, esperando por uma reação dele.
Finalmente, Erick suspirou e me encarou.
- Cada um lida com o luto de uma maneira diferente.
A resposta dele me pegou de surpresa. Talvez ele estivesse buscando sua própria forma de enfrentar a dor, mas sua aparente indiferença ainda me incomodava.
- Eu entendo que cada um lida com o luto à sua maneira - respondi, tentando acalmar minha raiva. - Mas não podemos nos fechar para nossos sentimentos. Precisamos enfrentar a dor de frente, compartilhar o que estamos passando.
Erick assentiu, parecendo refletir sobre minhas palavras.
- você tem certeza que quer falar sobre isso comigo? Se não fosse por mim você ainda estaria jogado naquele quarto escuro abraçado com uma garrafa de bebida e chorando
Após as palavras afrontosas de Erick, senti um turbilhão de emoções dentro de mim. A raiva, a tristeza e a frustração se misturavam, tornando difícil manter a calma. Decidi me afastar da casa e fui para o campo, onde poderia desestressar e lutar de espadas.
Gustavo ainda não havia chegado, então comecei a golpear o ar com a espada. Cada golpe era uma forma de liberar a tensão que estava sentindo. Minha mente se concentrava na luta, e os movimentos fluíam em uma dança frenética.
A espada cortava o ar, como se fosse uma extensão do meu corpo. A fúria e a raiva que sentia eram canalizadas para os golpes, e cada movimento era mais intenso do que o anterior.
Enquanto lutava contra o ar imaginário, sentia a presença de Cigana ao meu lado. Suas palavras de encorajamento ecoavam em meus ouvidos, lembrando-me de que a saudade não significava estar sozinho. Ela ainda estava comigo, em meu coração e em minhas lembranças.
A luta com a espada era uma forma de desabafar, mas também era uma maneira de me conectar comigo mesmo. Cada golpe era um reflexo da minha força interior e da determinação em superar os obstáculos que a vida me apresentava.
Gustavo chegou ao campo e me encontrou ali, ofegante, segurando a espada.
- Você está bem? - ele perguntou, preocupado.
Assenti, recuperando o fôlego.
- Estou melhor agora. A luta com a espada sempre me ajuda a clarear a mente.
Ele sorriu compreensivo.
- Entendo. Às vezes, precisamos encontrar uma forma de liberar o que estamos sentindo.
Concordei com ele, sabendo que a luta era uma válvula de escape para minhas emoções intensas. Mas também reconhecia que, em meio à saudade e à dor, precisava aprender a lidar com meus sentimentos de maneira mais saudável e aberta.
Gustavo pegou a outra espada no canto do campo, e eu o observei atentamente. Era hora de compartilhar com ele o que aprendi sobre o manejo da espada, algo que ia além de simples movimentos físicos. Era uma conexão profunda entre o guerreiro e sua arma.
- Primeiro, segure a espada firmemente, mas não com força excessiva - eu disse, colocando minha mão sobre a dele para demonstrar a posição correta. - A espada não é apenas um objeto, ela se torna uma extensão do seu braço, uma parte de você.
Gustavo prestou atenção nas minhas palavras, absorvendo cada ensinamento.
- Entendi. É como se eu e a espada fôssemos um só.
- Exatamente! - eu concordei. - Quando estiver lutando, você precisa sentir a espada como uma extensão natural do seu corpo. Ela se move com você, é uma dança coordenada entre guerreiro e arma.
Levei-o em um exercício inicial de posicionamento e movimentação, destacando a importância de manter os pés firmes e a postura equilibrada. Logo, ele começou a realizar os movimentos com mais fluidez.
- Sinta o ritmo da luta - eu disse. - A espada é uma extensão dos seus pensamentos e emoções. Ela deve seguir seus comandos e instintos.
Gustavo parecia compreender a essência do que eu estava ensinando. Seus olhos brilhavam com entusiasmo, e eu sentia que ele realmente estava se conectando com o conceito de "um com a espada".
- Não tenha medo de explorar as possibilidades - continuei. - A espada é uma ferramenta versátil, e é importante que você se sinta confortável com ela em todas as situações.
Enquanto nossas espadas se moviam em um ritmo coordenado, eu podia ver a dedicação de Gustavo em cada golpe. Ele estava se entregando ao aprendizado, assimilando não apenas os movimentos físicos, mas também a filosofia por trás da luta de espadas.
- Sinta o fluxo da energia - eu disse, aproximando nossas espadas e pressionando levemente. - Você e a espada estão em sintonia. Deixe que ela seja uma extensão natural dos seus movimentos.
Ele assentiu, parecendo concentrado e imerso na experiência. A cada momento que passávamos lutando juntos, nossa conexão se fortalecia, e eu percebia que, além de ensinar, também estava aprendendo com ele.
Com o tempo, Gustavo se tornaria um exímio lutador de espadas, assim como ele próprio me ensinava sobre a importância da determinação e da conexão com aquilo que é significativo para nós.
Enquanto treinávamos, eu sorri para ele, sentindo a alegria e a satisfação de compartilhar algo tão especial. A espada era mais do que uma arma; era uma expressão de quem éramos como guerreiros e como amigos, unidos na jornada de superação e crescimento mútuo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Herdeiros Do Submundo
Teen FictionNos recantos sombrios de uma cidade italiana envolta em segredos, a família D'Amico carrega consigo uma herança macabra. Após anos de luta para escapar do mundo do crime, os seis filhos do lendário mafioso italiano, Vincenzo D'Amico, se encontram in...