capítulo 13

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Ao abrir meus olhos, sou recebido por um ambiente familiar, um quarto pequeno e escuro que me transporta diretamente para a minha infância. As cortinas pesadas bloqueiam a entrada da luz do sol, deixando o ambiente envolto em uma penumbra reconfortante.

À medida que me espreguiço e me aconchego nos lençóis macios, posso sentir o aconchego familiar das paredes pintadas em um tom suave de azul, que sempre me transmitiam uma sensação de tranquilidade. Os poucos móveis no quarto são simples e desgastados pelo tempo, testemunhas silenciosas de incontáveis brincadeiras e momentos de descoberta.

Olho ao redor e vejo um guarda-roupa de madeira, com suas portas rangendo levemente quando abertas. As roupas penduradas ali me lembram das mudanças de estação e das ocasiões especiais em que minha família se reunia para celebrar. Uma pequena cômoda ao lado guarda lembranças preciosas, como fotografias antigas e cartas.

A luz fraca que penetra pela fresta das cortinas revela uma mesinha próxima à janela, onde costumava passar horas, montando e desmontando armas até que fosse simples como colocar uma roupa.

Abri um pouco a cortina e pude ver a área de lazer na lateral da casa, com sua enorme piscina com um quiosque no meio, e muitas cadeiras e mesas ao seu redor, além daquele espaço familiar, emergia um bosque, as árvores com um misto de cores pela primavera que dava seus primeiros sinais.

- o café será no jardim, vocês tem dez minutos! - como sempre Natalie não precisava bater de porta em porta, sua voz ecoava por toda a mansão penetrando cada espaço espaço livre.

Abri o guarda roupas antigo e puxei uma camisa florida em tons neutros, coloquei uma calça clara e sai para o corredor, pequenos raios de sol ousavam ultrapassar as grossas paredes de pedras e cortinas pesadas. Na outra ponta do corredor Gabriel apareceu vestido uma camisa branca e uma bermuda.

- bom dia meu querido - ele falou em tom de deboche - a carcereira já desceu?

- parece que nem subiu - respondi rindo

Descemos juntos e passamos por outro corredor, com diversas salas escuras, mesmo de manhã ainda tinha vários homens com armas grandes passando pela casa.

Ao descer as escadas que levam à área da piscina, o aroma tentador do café da manhã se mistura com o suave perfume das flores ao redor. O sol da manhã brilha intensamente. Meu pai, Natalie e dois dos meus irmãos já estão reunidos ao redor de uma mesa espaçosa, coberta por uma toalha colorida que contrasta com o azul cristalino da piscina próxima.

Sento-me em uma cadeira confortável, sentindo a brisa suave acariciar meu rosto enquanto observo a mesa em minha frente. Frutas coloridas e suculentas estão dispostas em uma bandeja, proporcionando um contraste vibrante com o verde das folhas. Ao lado delas, encontro uma seleção de pães recém-assados, ainda quentes e crocantes, acompanhados por uma variedade de geleias e manteiga.

O aroma tentador de ovos mexidos e bacon grelhado enche o ar, provocando meu apetite. Ao lado, uma seleção de queijos e frios espera para ser saboreada. Não posso deixar de notar os sucos frescos, dispostos em jarras de vidro transparente, que convidam a um refrescante gole matinal.

Erick e Katerina caminha do bosque em direção a mesa, com os braços dados e uma conversa empolgante. Observo de longe eles rindo, um vestido rosa rodado, cobre boa parte de seu corpo, uma sandália branca sobe por suas pernas combinando com o grande chapéu branco que ela usa, atrás do chapéu um enorme laço da cor do vestido repousa balançando com a leve brisa que passa por todos nós. Erick mantém sua calça escura mas a camisa é de um tom quase igual ao vestido de katerina. Eles se aproximam da mesa e em silêncio sentam nas únicas cadeiras que sobraram.

- bom dia crianças - a voz do pai como sempre cortante me tirou de meus devaneios, enquanto todos o responde com um bom dia sem vontade - antes de começarmos vamos rezar. Benedici, o Signore, noi e questi doni che riceviamo dalla tua generosità. Per Cristo nostro Signore. Amém!

A atmosfera está tensa, uma sensação de mistério paira no ar. Estou ciente de que algo importante será discutido durante essa refeição, algo que meus irmãos e eu estamos prestes a descobrir e a aceitar.

- acredito que já tenham a minha resposta - Vicenzo não apresentava reações, seu rosto não dava nenhum sinal do que ele falaria

- está decidido! - Erick respondeu antes que qualquer um pudesse falar - vamos ficar! A imagem da família tem que ser preservada, ninguém negocia com nossa família, nós rouba e sai impune!

Quando a questão era fingir e dançar conforme a música, Erick era bom, mas também era muito bom em ser egoísta e achar que era o líder e nós simplesmente seguiríamos ele aonde quer que fosse.

- mas deveríamos saber um pouco mais sobre o que realmente o senhor quer que façamos - chamei a atenção do pai cortando Erick, se ele queria mostrar que era nosso pastor e que éramos ovelhinhas, eu estava disposto a mostrar pra ele que na verdade eu sou um lobo.

- mas é claro que vocês vão saber mais - o pai respondeu com um sorriso predatório no rosto - Natalie já se encarregou de tudo.

Natalie pegou os papéis que estavam em seu colo e nos entregou uma pasta marrom com arquivos, uma para cada filho. Abri a minha pasta e observei apenas a primeira página, a ficha de quem estávamos atrás.

Santiago Garcia, a foto recente mostrava ele saindo de um carro esportivo enquanto quatro homens com sub-metralhadoras estavam parados ao lado observando o local. Em baixo vários endereços de propriedades dele, e lugares que frequenta.

Fechei a pasta e olhei ao redor, os meninos já se serviam do farto café da manhã que estava a nossa frente, cigana a única além de mim que abriu a pasta, ainda folheava distraída enquanto bebia sua xícara de café fumegante.

- o planejamento fica com vocês, só quero o meu dinheiro em casa! - Vicenzo tomou seu café enquanto todos faziam o mesmo em silêncio, o clima ainda estava estranho entre todos, mas agora estávamos decididos.

- vamos precisar de uma base - falei enquanto observava meu café

- já cuidei disso - e o sorriso predatório havia voltado para o rosto do pai - fica ao sul da Espanha, uma cidade pequena, mas muito bonita, vocês terão tudo o que precisa esperando por vocês.

Erick me olhava com a testa franzida pelo outro lado da mesa, estava quase escrito em sua testa com letras neons, a dúvida do que eu estava fazendo, e a verdade é que estava cansado de apenas viver a suas sombras, de sempre seguir cegamente tanto ele quanto Vicenzo, esse homem nem era o meu pai de verdade.

Eu sempre fui visto como o irmão mais subestimado, o que está na sombra do herdeiro designado. Mas chegou a hora de mostrar ao mundo que eu também sou capaz, que tenho o direito de reivindicar o meu lugar no comando.

Em meu interior, uma chama ardente de determinação arde intensamente. Eu vejo essa oportunidade como um teste de minha coragem, habilidade estratégica e capacidade de liderança. É uma chance de desafiar as expectativas e provar que sou digno de governar.

Não busco apenas a glória pessoal, mas também desejo provar a todos os que duvidaram de mim que subestimaram meu potencial. Quero que todos vejam que sou capaz de governar.

Que meu irmão esteja preparado, pois a minha determinação é inabalável e estou disposto a lutar com todas as minhas forças para alcançar a grandeza que me é devida.

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