capítulo 2

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Minha mente travou e eu não conseguia pensar em mais nada... Alguém tinha entrado na nossa casa, no nosso quarto, podia ser quando Lucas estava trabalhando, mas e se não? E se ele já estivesse aqui quando alguém entrou?

Com o mundo ao meu redor congelado eu não ouvia mais nada, apenas observava meu namorado gritando alguma coisa pra mim antes de correr até as janelas mais próximas e começar a trancar tudo.

- não adianta - depois de alguns segundos consegui formar uma frase

- o que? - ele me olhou confuso como se eu tivesse dito a coisa mais absurda - temos que trancar tudo e ligar para polícia, é a única solução

- não, você não tá me escutando, para um pouco... - mas mesmo pedindo pra parar ele continuou correndo de um lado pro outro trancando cada brecha que pudesse passar alguém ou alguma coisa. - ELES ME ACHARAM, NÃO ADIANTA MAIS.

Por fim consegui sua atenção, ele parou e me olhou confuso mas não disse nada, esperou que eu continuasse, o que não aconteceu. Subi os degraus de vagar e caminhei até o quarto, não precisava mais ter pressa.

Ouvi os passos de Lucas atrás de mim me seguindo em silêncio. Abri o guarda roupas, e peguei uma roupa simples, uma calça preta e um moletom, coloquei o primeiro tênis que achei

- você pode me explicar do que está falando? Ou pelo menos o que está fazendo?

- eu vou resolver isso, não se preocupe e não saia de casa até amanhecer

- da pra você me explicar alguma coisa? - ele perguntou já sem paciência

- no momento não, mas quando eu resolver prometo que te explicarei tudo

Dei um beijo em seu rosto e sai de casa sem olhar para trás, era melhor assim, desde que ele não soubesse de nada, estaria a salvo.

Não peguei o carro, não seria necessário. O frio da noite me cercava enquanto andava até o final da rua. Uma camionete branca estava parada, o único carro do lugar, com os vidros escuros demais para que pudesse ver qualquer coisa.

Passei para o lado do passageiro, abri a porta e me sentei no banco. Logo em seguida o carro começou a se movimentar para saída da cidade, enquanto olhava as luzes e o movimento da rua, íamos nos afastando cada vez mais de qualquer lugar com muitas pessoas.

Senti alguém bater em meu braço assim que a camionete parou, estava tão cansada que em algum momento acabei pegando no sono. Olhei pela janela e soube onde estava.

Na cidade vizinha, onde passei grande parte da minha antiga vida, em algum lugar no meio do mato em um galpão enorme. Algumas motos e carros estavam parados na entrada mas pouca luz passava pelas janelas.

Desci do carro e antes que o motorista pudesse disser qualquer coisa, abri a porta principal e adentrei o recinto. Era como se tivesse voltado no tempo, ou como se nunca tivesse ido embora.

A mesa grande no centro do galpão estava cheia de papéis, copos e garrafas de whisky, alguns cinzeiros nas pontas e o cheiro doce de narguilé por todo canto.

Ao redor da mesa em suas poltronas estavam os quatro meninos que jurei nunca mais encontrar, mas como o destino é um grande filho da puta, aqui estou eu novamente.

- quem foi o idiota que invadiu minha casa? - perguntei me sentando em uma poltrona vaga entre o Erick e o Alemão

- a gente precisava de alguém inteligente para poder resolver uns B.O. pra gente - o Alemão disse me entregando um copo com gelo e whisky

Dei um gole sentindo a bebida quente arranhar a minha garganta e esperei que alguém se pronunciasse sobre o que eu estava fazendo aqui.

- tem um cara novo, dando trabalho... - Erick começou a disser o que realmente importava - começou com o coiote, achamos que ele ia resolver já que o problema era entre os dois.

- o que claramente não aconteceu se não você estaria dormindo com seu namorado uma hora dessas - completou Marasato - o problema só aumentou, porque como o coiote não cortou no início, agora ele acha que manda na cidade

- não era realmente um problema - Gabriel falou entre um trago e outro - até ele chegar em nós, você sabe que já estamos aposentados, não é mais nossa vida ou nossos problemas. Mas ele colocou fogo em uma de nossas baladas.

- qual delas? - perguntei já me interessando pelo que estava acontecendo

- a sua - alemão falou como se não fosse nada

- e quanto eu perdi? - meu sangue começava a fervilhar e meu corpo relaxar, um misto de sentimentos que não sentia fazia muito tempo, como a calmaria antes da grande tempestade

- o suficiente - Marasato se levantou e foi até a ponta da mesa, de lá jogou uma pasta em minha direção - era mais fácil perguntar o que restou, mas não faz diferença já que nem se deu ao trabalho de contar para o seu namorado quais são seus bens materiais - ele debochou rindo

Abri a pasta mas não estava preparada para os números que estavam lá. Muito do meu dinheiro investido naquela balada era agora cinzas, por sorte havia outros lugares investidos, então apenas uma fração de todo meu dinheiro havia sido queimado.

- e vocês não sao capazes de resolver? - joguei a pasta de volta na mesa já sentindo um impulso de raiva subir por minhas veias.

- mais é claro que somos - Erick respondeu com um sorriso de canto no rosto - só imaginamos que você gostaria de cuidar disso, faz tempo que ninguém de nós está a ativa, seria a desculpa perfeita para relembrar essas pessoas de quem manda

Olhei de rosto em rosto, todos me observavam esperando uma resposta. Todo mundo ali queria a mesma coisa mas ninguém estava disposto a fazer isso sozinho. Sempre foi nós cinco e não seria diferente, se qualquer um pulasse para trás isso não ia acontecer.

- como vocês estão? Não nos vemos a bastante tempo poderiam pelo menos me atualizar antes de jogar qualquer B.O. nas minhas costas

- eu te atualizo - Gabriel falou enquanto enchia seu copo - Erick tá enroscado com uma mina das cavalgada, o Alemão comprou mais uma fazenda, Marasato vai ser pai, mas não tá junto com a mãe do filho, e eu continuo na mesma de sempre.

- coiote tá nas mesma atividades, mas já não é o mesmo de antes - Marasato - depois que foi preso a primeira vez ficou receoso de fazer qualquer coisa

- e porque ele rodou? - perguntei dando um longo gole na minha bebida

- porque ele é burro - Gabriel disparou - tinha um muleque devendo pra ele, coisa pouca, cem reais, ele foi e passou um recado, mas a câmera pegou ele

- se sujou por causa de cem reais - Erick riu - até parece que nem tem dinheiro

- como se ele fosse bom pra pagar os outros também, só na minha adega tá devendo dois mil - ódio fervilhou pelos olhos do Alemão - se fosse usar os mesmo proceder dele, era no mínimo caixão lacrado

- se vamos mesmo fazer isso - chamei a atenção deles enquanto cruzava minhas pernas no colo do Alemão - como anda nosso refúgio? A casa pelo menos está limpa?

- tudo está exatamente do mesmo jeito em que deixamos - Marasato respondeu enquanto dava um trago - exceto pela limpeza, uma menina tava encarregada de limpar a casa toda semana, então é só chega e usufruir

Isso realmente ia acontecer, a gente ia voltar as atividades, no momento nem pensei no meu namorado, aquela imagem ia ficar gravada pra sempre em minha memória, assim que entenderam que eu ia topar todos começaram a rir, a família estava reunida.

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