capítulo 12

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Descemos do carro, e ainda em silêncio, seguimos Natalie até a grande porta de madeira maciça na entrada da grande mansão.

Enquanto subíamos os degraus da escadaria principal, senti um arrepio percorrer minha espinha. O silêncio era quase ensurdecedor. Os guardas armados observavam cada movimento nosso com olhares afiados e expressões severas. Pareciam sentinelas implacáveis, prontos para agir ao menor sinal de ameaça.

A porta de madeira maciça se abriu lentamente, rangendo como um aviso. Meus irmãos e eu cruzamos o limiar, entrando na residência sombria. O interior era uma mistura de luxo e opulência, com móveis finamente trabalhados e obras de arte adornando as paredes. No entanto, a atmosfera era pesada, impregnada com o medo e a violência que permeavam aquele lugar.

Avançamos pelo corredor, nossos passos ecoando pelas paredes. Atravessamos salas escuras, passando por cortinas pesadas que ocultavam o que quer que estivesse além delas. Cada passo que dávamos nos aproximava cada vez mais do núcleo daquele império criminoso.

Finalmente, chegamos à sala principal, onde o mafioso italiano nos aguardava. Seu olhar penetrante e seu sorriso sutil revelavam sua influência e poder.

- sentem-se crianças - As palavras que ele proferia eram cortantes, ecoando em meus ouvidos como ameaças veladas.

Enquanto nos sentávamos ao seu redor, a atmosfera ficava ainda mais tensa. Nossos corações batiam acelerados, conscientes do perigo que corríamos ao estar ali.

- a segurança desse lugar aumentou - Erick comentou se sentando na ponta oposta de onde papai estava sentado

Natalie se sentou a direita do mafioso, seguida de Marasato e Coiote, que havia deixado o gato em algum lugar, pois já não se encontrava com ele no colo.

Alemão se sentou a esquerda do pai, eu me sentei entre ele e o Gabriel. Observei o homem na ponta da mesa, a idade já começa a dar seus primeiros sinais. Seu cabelo já chegava a altura do queixo, e alguns fios brancos começavam a aparecer. Sua roupa impecável, seus dedos entrelaçados em cima da mesa, ostentavam grandes anéis dourados, entre ela um com o brasão da família.

- tempos de crise, por isso reuni todos aqui! - ouve uma pausa enquanto Vicenzo observa cada um de nós - vamos rezar primeiro! - demos as mãos e fechamos os olhos, só então ele começou - Benedici, o Signore, noi e questi doni che riceviamo dalla tua generosità. Per Cristo nostro Signore. Amém!

Um amém baixo soou de todos nós. Apesar da mesa posta, elegantemente decorada com velas, flores e os melhores talheres, o clima tenso ainda pairava por todos nós. Vicenzo foi o primeiro a se servir, assim que colocou comida em seu prato, todos fizeram o mesmo.

- eu precisava de todos aqui, pois estou com problemas! - a voz do pai cortou o ar como uma adaga afiada fazendo talheres serem repousados aos pratos.

- e desde quando precisa da gente pra alguma coisa? Ainda mais para resolver problemas? - Erick disse do outro lado da mesa, por ser o mais velho de nós, ele sabia de muita coisa que não ousava dividir entre os irmãos, a única coisa que sabíamos era que ele e o Vicenzo nunca se deram muito bem

- eu não preciso! - ouve uma longa pausa enquanto ele tomava um gole de seu vinho - mas eu achei que seria bom colocar vocês de volta ao jogo

- então é isso que somos para você? Peões em um jogo onde você controla tudo? - esse jantar estava começando a ficar interessante e perigoso, mil possibilidades do que poderia acontecer em seguida, passaram pela minha mente

- Não sei se lembram de Santiago, da Espanha. - ao assentirmos em silêncio, ele continuou - no passado fomos grandes aliados, mas as coisas já não são mais as mesma. Ao depositar minha confiança nele, cometi um erro, e agora uma parte significativa de meu dinheiro está no cofre dele.

- e você quer que nos busquemos pra você? - foi a vez de alemão questionar

- se estiverem de acordo, como sempre, serão recompensados.

- vamos debater e pensar, temos quanto tempo pra te dar uma resposta? - antes que alemão pudesse dizer qualquer coisa, Erick tomou a frente da conversa novamente

- tirem a noite para o que precisarem, os quartos de vocês continuam do mesmo jeito. Amanhã pelo café da manhã, quero a resposta! Agora se me dão licença, eu e a Natalie temos assuntos a resolver.

Os dois se levantaram e saíram da sala, como sempre Natalie dois passos atrás de Vicenzo, com postura mas cabeça baixa.

- vocês acham - Coiote começou a falar mas logo foi cortado pelo Erick

- as paredes desse lugar tem ouvidos, melhor conversarmos depois.

Terminamos de jantar em silêncio, Erick foi o primeiro a se levantar, mesmo sem dizer nada todos sabiam aonde ele estava indo. Eu me levantei logo em seguida e segui pelos corredores escuros daquela mansão esquecida.

Homens armados estavam espalhados por todos os lados, alguns deles andando sem rumo, outros passavam rápidos como um raio.

Sai pela porta dos fundos da casa, a noite escura me abraçou como um véu. Passei pelo pequeno jardim dos fundos até chegar a casa de vidro.

As luzes dela já estavam acessas me confirmando que o irmão mais velho já estava lá dentro. Abri a porta e entrei sentindo o choque da sala quente. Na ponta oposta Erick já se servia de alguma bebida.

A casa de vidro, assim apelidada por nós quando éramos crianças, consistia em uma enorme sala de descanso composta por paredes de vidros. Havia bebidas e jogos, no centro do recanto um sofá e uma mesinha redonda, nada mais.

Peguei uma caixa de bombons artesanais, em cima do armário ao lado da porta, e me joguei no sofá esticando as pernas.

- o que você acha? - perguntei mordendo um pedaço do doce maravilhoso que estava no meu colo

- que ele não é burro, aqui deve ter uma escuta e ele tá usando todos nós! - ele ergueu minhas pernas e depois de se sentar colocou-as por cima do seu colo

Alemão foi o próximo a entrar na sala se sentando de frente para nós dois.

- e vamos ajudá-lo - ele disse de onde estava, cruzando as pernas por cima da pequena mesa de centro.

Marasato, Gabriel e Coiote entraram em seguida, rindo de algum comentário idiota que um dos três deve ter feito. Coiote se sentou no chão encostado no sofá ao meu lado, Gabriel e Marasato se sentaram no tapete do lado posto.

- pra que ajudar? Não faz sentido, se já sabemos que ele está aprontando alguma coisa. - questionei de onde estava

- a forma mais fácil de descobrir e se manter por perto! - ele lançou de onde estava

- tecnicamente ele tem razão. Mantenha seus amigos próximos e os inimigos mais próximos ainda! Não é isso que diz o ditado? - foi vez do Gabriel perguntar

Olhei para o rosto de Erick, e não era o melhor, no fundo eu sabia que não era isso que ele queria, fugir de conflitos era sua especialidade, mas não havia outra forma, os garotos a nossa volta já estavam decididos, por mais que houvesse uma votação eles ganhariam, e estava fora de cogitação um de nós seis sair fora.

- que seja, mas a partir de agora teremos que confiar somente em nós, e TUDO que acontecer dentro dessa casa, vai ser compartilhado. Se ele tá tramando contra algum de nós, vamos descobrir antes que seja pior.

Erick estava certo, nenhuma lembrança dessa casa era boa, e agora se tinha algo que o nosso pai não nos contou, a nossa estadia por aqui só tenderia a piorar.

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