capítulo 8

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Cinzas, por todos os lados. O lugar que mais queimou foi o balcão de bebidas, não havia sobrado nada ao redor dele.

Vazamento de gás, foi o que a policia disse depois de vistoriar o lugar, mas eles não deviam ser tão idiotas assim, o cheiro de óleo disel não sai facil e a combustão dele deixa muitas marcas.

Uma brisa leve passou por mim levantando um pouco de cinzas do chão, um lugar que a pouco tempo me rendia muito dinheiro e era sinônimo de felicidade, agora estava apagado.

A pessoa que fez isso talvez não soubesse com quem estava mexendo, mas sabia muito bem quem pagar para sair ileso, ou pelo menos foi isso que ele pensou.

Subi as escadas para onde antes era os camarotes e sem surpresas encontrei mais cinzas, nada havia resistido ao fogo ardente que consumiu cada parte do meu estabelecimento.

- então é verdade! A cigana esta de volta a cidade e veio resolver com suas próprias mãos! - antes de me virar já sabia quem estava atrás de mim - eu sabia que uma hora ou outra você voltaria e que aqui seria o lugar mais óbvio para alguém te achar

- é bom te ver também tenente - respondi com um sorriso no rosto

- capitão, na verdade. Mas é bom te ver também Cigana - ele respondeu do outro lado da sala sem desencostar do pilar

Mesmo atraves do moletom era possível ver seus músculos ainda maiores do que antes, sua roupa era composta por um sapato social, uma calça jeans, moletom e sua dog tag que contrastava com a roupa escura.

- acho que sei o que você esta procurando. Ou melhor, quem!

- e você sabe onde ele esta? - perguntei querendo poupar tempo

- eu sei por onde ele anda, onde mora, os lugares que frequenta, e quem são os seus amigos. - ouve uma grande pausa quando ele se desencostou do pilar e repirou fundo - mas não, não sei onde ele se encontra. - ele deu alguns passos em minha direção - achei que você já saberia tudo a essa altura

- o meu racker anda com a cabeça em outro mundo, mas quem sabe você não pode me ajudar? - ele agora estava tão próximo de mim que se desse mais um passo nossos corpos se juntariam

- hmmm, não sei cigana, você sabe como funciona isso né? Eu te ajudo, ai você fica me devendo uma. Mas quando eu preciso são favores grandes, e isso vai virar um ciclo novamente, sempre em divida um com o outro.

- eu acho que uma divida com você só me traria beneficios

Ficamos nos olhando por alguns minutos, aqueles olhos eram como olhar em um espelho feito de nanquim, qualquer resquícios de luz sumia ao se encontrar com o escuro de seus olhos

-vamos resolver isso - ele se virou e desceu as escadas comigo em seu encalço, sem dizer nada ele colocou o capacete e subiu em sua moto, eu fiz o mesmo e o segui por longos minutos

Passamos pelo centro da cidade e seguimos na direção oposta, eu conhecia o caminho e sabia para onde estavamos indo, mas mesmo assim permaneci atrás, parte de mim não queria acreditar pra onde estavamos indo.

Assim que viramos a ultima rua quatro meninos, que deviam ter no maximo dezessete anos, nos fizeram parar, sem visão de nada além do cano dos fuzis eu tirei meu capacete e o capitão fez o mesmo.

-quem são vocês?-o mais velho deles perguntou sem abaixar a arma

- Erick mandou a gente-eles trocaram olhares mas não disseram nada - liga pra ele e confirma, fala que a cigana tá aqui - um deles se afastou e pegou o radinho, depois de alguns segundos ele voltou e fez sinal para os outros nos liberarem

Passamos e começamos a subir o territorio do coiote, agora do Erick. Era incrível como aquele lugar não tinha mudado nada, as ruas estreitas, casas sobre casas, comércios em qualquer garagem, muitos meninos sentados nas ruas, alguns armados outros contando dinheiro, algumas meninas com shots minúsculos rodeavam os pontos de droga.

Paramos em uma viela perto do topo, ele desligou a moto e desceu, eu o acompanhei

-vamos ter que ir andando, não vai ser hom se deixarmos as motos na porta dele

- ele mora aqui na comunidade do coiote? - perguntei mesmo já sabendo a resposta

- ele não só mora aquí, como anda com os moleques do seu irmão, vive nesse meio e eu diria até que talvez trabalhe pra vocês - ele respondeu com indiferença, pra alguém como ele saber a vida inteira de uma pessoa era facil demais

descemos mais uma rua, agora em silêncio pois não ousei perguntar mais nada, entramos em uma casa pequena, o portão estava aberto e assim que passamos por ele, um homem que devia ter seu vinte e cinco anos, se levantou do sofá do lado oposto da garagem

-Nascimento, Cigana - ele nos comprimentou com um asseno de cabeça, eu não o conhecia mas aparentemente ele sabia quem eu era - não esperava a visita de vocês tão cedo, mas são muito bem vindos em minha casa, podem se sentar, aceitam café?

- cafe é sempre bem vindo não importa qual seja a reunião - o capitão comentou se sentando no sofá junto com o outro homem.

- amor, trás café e três xicaras temos visita- ele gritou para quem quer que estivesse dentro da casa

Me sentei na poltrona ao lado deles, logo uma moça jovem de vestido longo florido e cabelo preso apareceu segurando três xicaras, atrás dela uma menininha de cabelo trançado e vestido rosa, trazia a garrafa de café, ela entregou a garrafa ao pai antes de sair correndo pra dentro de casa, a mulher dele entregou as xicaras para nós e foi atrás da filha

- esse é o Jack, seu gerente, o que você precisar ele sabe - o capitão falou enquanto se servia de café, depois colocou um pouco para mim também

- e como vocês se conheceram? É uma amizade meio inusitada - perguntei a primeira coisa que veio em minha mente

– a gente se ajuda – Jack sorriu - quando ele precisa eu entrego alguns moleque que não trabalham direito e quando eu preciso ele me ajuda na parte técnica e nas minhas finanças

- pra resumir eu fico com a parte da documentação e legalização, é claro que rola a parte do dinheiro de ambas as partes, mas aprendemos a viver em harmonia - Nascimento também sorriu como se eles estivessem escondendo algo

- mas vamos ao que interessa, você não veio apenas bater papo e me conhecer, veio atrás de alguém. - Jack já foi direto ao ponto sem enrolações - ele não tá em casa agora, na verdade já faz uns dias que não entra na casa dele, mas eu sei onde vão encontra-lo. E se você for tudo aquilo que reza a lenda - ele olhou pra mim com um brilho de diversão no rosto - ele tá muito fodido, mas vai ser bom pra todos saber o que acontece quando se quebra as regras da casa.

O sorriso que cresceu em seu rosto me disse que ali nasceria uma grande amizade, eu tava mesmo precisando renovar meu circulo de amigos, mas acima de tudo estava muito curiosa para saber qual a "lenda" sobre mim que ele estava falando.

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