capítulo 11

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Os dias se seguiram como o mesmo. O ciclo sem fim de acordar de ressaca, beber, comer alguma coisa e terminar a noite bebendo mais, estava acabando, mas não sabíamos disso até o dia amanhecer.

Agora, todos sentados na sala, ainda de pijama, uma garrafa de café estava disposta na mesa de centro. Nossas caras já podia imaginar que não eram as melhores.

Natalie estava encontrada na parede oposta a nos seis, seu cabelo beirava ao branco de tão claro, seu look composto por uma blusa branca e um terno vermelho ficavam impecáveis em contraste com sua pele clara

Quando o diabo não pode vir, ele manda a secretária. É o que dizem né, e bem aqui está a secretária do papai. A mulher responsável pela nossa seleção e pelo nosso treinamento.

- já devem imaginar o que estou fazendo aqui - sua voz ainda mais rígida do que eu conseguia lembrar soou pela sala - vim buscá-los, Vicenzo deseja jantar com todos a sua mesa, então apressem-se

Em questão de segundos todos estavam subindo as escadas quase que correndo. Entrei em meu quarto e fui direto para o closet, não sabia o que vestir mas eu tinha alguns segundos para pensar nisso.

Coloquei um macacão branco soltinho e um chapéu grande na mesma tonalidade, peguei minha pequena  bolsa que servia apenas para guardar o celular e corri para o espelho. Não dava tempo de fazer nada elaborado então escondi o pouco de hematoma que ainda estava sumindo do meu rosto e passei um batom vermelho.

A porta do meu quarto abriu e o coiote entrou quase que correndo. Ele fechou a porta e olhou pra mim assustado.

- o que você acha que aconteceu? O baile ainda é daqui a três semanas, porque ele quer a nossa presença hoje? - sem saber o que responder analisei o garoto a minha frente, uma calça jeans simples, e uma camiseta social amassada e pra fora da calça, nada além disso

- vamos ter que descobrir, espero que não seja nada, mas é bem estranho ele querer que a gente chegue tão rápido ao outro lado do oceano

- não temos muito tempo, se não se lembram o jantar é hoje ainda - a voz de Natalie cortou os corredores da casa e encontrou todos nós, nos escondendo do que quer que nos aguardasse.

Coiote saiu mais rápido do que entrou, pegou o kitsune e desceu as escadas seguido de Gabriel. Eu desci logo em seguida encontrando a cara de desaprovação da secretaria para o bichano. Marasato passou como um trovão por nós e foi para o lado de fora da casa. Alemão e Erick desceram de vagar e conversando como se Natalie não estivesse a ponto de gritar novamente.

- ótimo não estão na melhor forma, mas vai servir, para o carro, todos.

Ela foi na nossa frente, pisando tão forte que era capaz de seus saltos abrirem fendas pela casa. Ao lado da fonte na entrada da casa, se encontravam dois carros escuros, ao lado deles dois homens parecidos esperavam.

Entrei no carro da direita, junto com o coiote e o alemão. Erick, Marasato, Gabriel e a Natalie entraram no outro. Foi um alívio saber que ela não iria no mesmo carro que eu.

O clima no carro estava tenso, e por mais que quiséssemos comentar sobre, sabíamos que não se pode confiar em ninguém, e Natalie nem se deu ao trabalho de disser quem era o nosso motorista.

Depois de mais de uma hora dentro do carro, paramos em uma pista de vôo, uma aeronave particular já estava a nossa espera. Deixamos que Natalie entrasse primeiro, depois nos a seguimos e tomamos assentos separados. Os motoristas dos carros ficaram para trás me fazendo questionar quem seriam.

A aeronave decolou depois de pouco tempo, e começou a abrir caminho por entre as nuvens claras do meio do dia. O ambiente estava imerso em um silêncio carregado de expectativa, uma mistura de sentimentos complexos que permeavam o ambiente.

Nós trocavamos olhares fugazes sem que a secretária visse, mas nenhum ousava quebrar o silêncio. Em nossas mentes, surgiam questionamentos sobre a razão dessa viagem inesperada, da qual o pai havia feito questão que todos participassem. As suspeitas e especulações preenchiam o espaço entre nós, tornando o ar denso e pesado.

Natalie, a secretária do pai, provavelmente sentia a tensão e o desconforto dos irmãos, mas respeitava o desejo do pai de manter a natureza da reunião em segredo, ou nem se quer sabia, pois não ousou trocar uma palavra conosco.

Encostei a cabeça em meu assento e assim dormi, já que não iríamos conversar sobre, e Natalie não nos contaria, só me restava descansar.

- já vamos pousar, coloquem os cintos - as palavras da secretaria me arrancaram do sono em que estava, as primeiras palavras que foram ditas depois que decolamos.

O último solavanco suave parou a aeronave, e sem dizer nada o piloto saiu de sua cabine a abriu a porta para descermos, o sol já não estava mais tão alto, porém o alívio de sair de toda aquela tensão era nítido no rosto de todos.

Ainda sem dizer nada, Natalie entregou um lanche para cada um de nós e apontou para os carros parados, mas algumas horas de viajem e estaríamos na central. Engoli o meu lanche, tomei o suco e entrei no carro com os mesmos companheiros de antes.

Esse motorista colocou uma música suave enquanto passávamos pelas pequenas ruas da península italiana. As construções de pedra exibiam fachadas coloridas, com janelas adornadas por flores vibrantes. O som dos passos ecoava nas ruas de paralelepípedos, enquanto pessoas simpáticas acenavam enquanto passava.

O sol começou a se pôr no horizonte, tingindo o céu com uma mistura de tons quentes e dourados. Era como se a natureza tentasse trazer algum conforto e esperança para aquele momento de incerteza.

Enquanto me aproximava da mansão, avistei as imponentes muralhas de pedra que protegiam a propriedade. Era como se o tempo tivesse parado desde a minha última visita. A sensação de familiaridade e conforto invadiu meu coração, misturada com uma pontinha de apreensão.

Ao entrar pelos portões de ferro forjado, o carro seguiu lentamente pela alameda arborizada, cercada por ciprestes altos e majestosos. O som dos cascalhos sob os pneus parecia ecoar nas lembranças da minha infância, quando passava tardes inteiras explorando os vastos jardins e os recantos secretos da mansão.

A mansão surgia diante de mim, uma verdadeira obra-prima de arquitetura italiana. Suas paredes de pedra, enfeitadas com hera exuberante, pareciam contar histórias antigas. As janelas imponentes e os detalhes ornamentados adicionavam um toque de grandiosidade à estrutura.

Estávamos onde tudo começou, aonde a muitos anos atrás, uma jovem moça fazia o mesmo trajeto com seis crianças pequenas recolhidas pelos diversos cantos do mundo. E aqui estamos nos, a moça não tão jovem, e as crianças já adultas fazendo o mesmo caminho, refazendo cada passo, e sentindo a mesma ansiedade da primeira vez.

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