capítulo 27

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Roberto entra na sala, por uma porta lateral, arrastando uma cadeira. Posiciona a cadeira em frente ao inimigo de meu pai. E olha para os outros.

- está na hora de começar! - sua voz grave ecoa pelo ambiente - cigana... - ele aponta para cadeira vaga e vai até a mesa - acordem ele!

Me sentei na cadeira ao mesmo tempo que Victor se aproximou com um copo de água e despejou sobre a cabeça dele, fazendo-o acordar desesperado em busca de ar.

O suspeito estava sentado à minha frente, olhando-me com desconfiança e cautela, enquanto recuperava o fôlego. Eu sabia que minha tarefa era crucial: obter as informações necessárias para encontrar o meu pai.

- Bom dia, senhor. Meu nome é Katerina, e sou responsável por conduzir este interrogatório. E seria bom para o senhor cooperar conosco.

- O que vocês acham que eu tenho a dizer? Não vou falar nada. - ele responde com um tom desafiador na voz

- estamos interessados em encontrar don Vicenzo! Caso você colabore, podemos pegar leve com você. - por um longo minuto ele não disse nada apenas ficou me olhando - o que você tem a perder? Todos sabemos que você não é mais como antes, foi expulso de sua própria matilha e jogado aos lobos

- e porque acha que eu sei algo sobre seu pai? - agora seu fôlego já havia voltado aos pulmões e ele me olhava intrigado

- porque você é a última pessoa que ele recorreria, e a menos provável. Pensa comigo, você não tinha nada, ele tinha tudo, seria fácil ele te oferecer alguns trocados pra esconde-lo

- da mesma forma que eu não o ajudaria, não vou te ajudar

- maravilha, você vai dizer alguma coisa cedo ou tarde, e pra sua sorte eu tenho o dia todo.

Me levantei e fui até a mesa, Matteo terminava de enrolar um arame farpado em sua mão, por cima de uma bandagem. Na mesa, além de facas, martelo e alicates, havia vários galões de água. Peguei um pequeno copo de plástico, enchi de água e me encostei na mesa.

Assim que a mão envolta em arame de Matteo se chocou contra o rosto do suspeito, um som abafado e úmido preencheu o ar fazendo sangue jorrar a sua volta. Seus olhos continuavam vazios e com um toque de desafio, como se estivéssemos fazendo o que ele queria.

- isso pode demorar um pouco, vou lá fora. - Léo falou tocando de leve em meu braço.

- vou com você - caminhei ao seu lado até a porta lateral que dava a uma pequena área abandonada.

Pelo que sobrou do telhado passava alguns feixes de luz. Completamente o oposto do que ocorria lá dentro, o mato já tomava conta do local, pássaros brincavam entre os galhos, o sol aquecia a nossa pele, e o silêncio era majestoso.

- quer um trago? - ele me perguntou estendendo seu cigarro pra mim

Levo o cigarro à minha boca, sentindo o toque suave do papel nos meus lábios. Inalo profundamente e sinto uma onda de calor e sabor invadirem minha boca. O gosto amargo e distintivo da fumaça enche meu palato, enquanto a fumaça se desloca para os pulmões.

À medida que solto o ar, uma corrente de fumaça densa se dissipa no ar ao meu redor. Sinto um leve formigamento nos pulmões, seguido por uma sensação de relaxamento momentâneo.

- como você parou aqui? - pergunto devolvendo o cigarro a ele

- eu era segurança, os tempos estavam difíceis e o único lugar que me contratou foi uma casa de apostas do seu pai. Bom não posso dizer que sou a pessoa mais calma daqui - ouve uma pausa enquanto ele puxava mais um trago, antes que continuasse - em pouco tempo ganhei uma fama não muito boa, mas isso chamou a atenção do Vicenzo e depois disso eu fui recrutado e subindo de escalão.

O cigarro voltou para minha mão, e a fumaça preencheu meus pulmões novamente.

- e você? Qual a sua história? - ele perguntou me observando curioso

- eu nasci em um vilarejo japonês, de uma família carente. Vicenzo estava no auge de sua fama, e com medo do que pudesse acontecer, ele decidiu perpetuar seu legado. Ele ofereceu dinheiro suficiente pra minha família e me levou antes que completasse um ano. Depois disso fui treinada pela Natalie junto aos outros.

- eu achei que vocês fossem filhos legítimos dele. - ele pensou um pouco enquanto olhava o céu azul - isso explica porque são tão diferentes. - a porta atrás de nós se abriu com um estrondo

- ele não quer falar, mas sabe de alguma coisa. - Roberto falou nós olhando em busca de respostas.

Passei por ele e entrei novamente na sala. O corpo já pendia na cadeira, o cansaço e a fraqueza davam seus sinais. Seu rosto e braços cortados esbanjava o sangue fresco. Seus olhos conseguiram encontrar os meus, e sangue já tomava conta da escleral.

- eu já disse que não vou falar nada, vocês só estão perdendo tempo. - ele cuspiu sangue no chão e me olhou novamente me desafiando

Passei por ele e parei na mesa junto aos meninos.

- preciso da sua camiseta - falei para o Diego enquanto pegava um galão de água, ele retirou e me entregou. Fiz sinal pra que Roberto me seguisse. - inclina ele

- o que você vai fazer? - ele perguntou com os olhos arregalados

Joguei a camiseta em seu rosto apertando bem na nuca. Roberto puxou levemente sua cadeira pra tas inclinando ele, abri o galão e comecei a despejar a água sobre a camiseta.

Assim que a água chegou ao seu rosto ele começou a se debater fortemente contra as cordas que amarravam ele na cadeira. Depois de meio galão despejado, soltei ele e tirei a camiseta de seu rosto, fazendo-o puxar o máximo de ar que conseguia enquanto tossia.

- como você quer que ele fale se você tá afogando ele? - Victor perguntou

- não é o desespero do afogamento que vai fazer ele falar, é o alívio de respirar de novo - respondi já colocando a camiseta de volta no rosto dele

Mais alguns segundos de desespero e luta pelo ar, e eu tirei a camisa de seu rosto.

- pode me matar se quiser, mas não falarei nenhuma palavra - ele tossiu as palavras enquanto buscava por ar

- como quiser! - sai de trás dele indo até a mesa, depois de deixar a camiseta e o galão lá fiz sinal para Léo que sacou sua pistola e apontou para ele. Dei as costas e comecei a caminhar em direção a saída, sem olhar pra trás.

- espera! - seu grito ecoou assim que a arma foi destravada - tem um fabricante, eles eram muito amigos. - parei aonde eu estava, mas sem olhar pra trás - é um argentino arrogante, o nome dele é Alejandro

Agora que eu tinha o que precisava segui meu caminho para fora do prédio, antes que conseguisse chegar a porta, ouvi o som abafado do silenciador e algo molhado se espalhar pela parede, antes mesmo que o projétil atingisse a parede oposta e o estojo batesse no chão.

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