capítulo 54

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A dor latejava em cada parte do meu corpo, enquanto eu permanecia deitado no sofá, vulnerável e debilitado. Meus irmãos estavam ao meu redor, preocupados com a minha condição. Um deles, com habilidades em primeiros socorros, estava costurando meus cortes sem anestesia, causando ondas de agonia que eu tentava controlar.

- Graças a Deus que você está vivo, mano. Pensei que tínhamos perdido você - Gabriel, com os olhos marejados.

- Eu não vou a lugar nenhum. Apenas me sinto um pouco quebrado - respondi com um sorriso fraco, tentando amenizar a tensão no ar.

Erick se aproximou com uma expressão séria.

- Precisamos conversar, Alemão. O que aconteceu lá fora foi um desastre. Perdemos homens, e a segurança de nossa família está em risco.

- Eu sei... eu sei - murmurei, sentindo a culpa apertar ainda mais meu peito. - Eu fui imprudente e egoísta, e agora estamos pagando o preço.

Eu assenti, reconhecendo a sabedoria das palavras deles. A verdade era que eu havia me deixado levar pelas emoções, pela raiva e pela dor, e isso nos levou a um caminho perigoso. A memória da cigana me lembrava de que a violência e a vingança não eram o único caminho a seguir.

- Temos que encontrar uma forma de proteger nossa família sem sacrificar mais vidas - disse eu, com a voz embargada pela dor física e emocional.

- Concordo - disse o Marasato que estava cuidando das minhas feridas. - Precisamos ser mais inteligentes em nossas decisões e evitar situações perigosas quando possível.

Meus irmãos se entreolharam, demonstrando solidariedade e preocupação. Era reconfortante saber que eles estavam ao meu lado, dispostos a enfrentar qualquer desafio que viesse pela frente.

Enquanto a costura continuava, eu refletia sobre o que havia acontecido. A emboscada e a perda de meus homens foram uma dura lição que eu não poderia ignorar. Eu precisava mudar, me tornar um líder mais sábio e responsável, que colocasse a segurança da família em primeiro lugar.

Quando o trabalho de costura finalmente acabou, senti um alívio momentâneo. Meus irmãos me ajudaram a me ajeitar no sofá e a me cobrir com um cobertor.

- A partir de agora, vamos trabalhar juntos para garantir a segurança de nossa família. Vamos planejar cada passo e evitar correr riscos desnecessários - disse coiote, com firmeza.

- eu entendo, e concordo com vocês. Juntos, somos mais fortes. Precisamos nos apoiar e tomar decisões com sabedoria - respondi, sentindo a determinação crescer em mim.

Com a presença e o apoio dos meus irmãos, eu encontrava forças para seguir em frente. A memória da cigana continuava sendo minha inspiração, guiando-me para um caminho mais consciente e sensato.

Meu corpo ainda estava dolorido e fraco, mas eu sabia que não podia me esconder ou evitar o que estava acontecendo ao meu redor. Gustavo entrou correndo na sala, visivelmente abalado, e ao ver meu estado, hesitou em falar. Meus irmãos insistiram para que ele contasse o que estava acontecendo.

- Gustavo, o que está acontecendo? Fale! - disse um dos meus irmãos, com urgência.

Ele respirou fundo e então falou com seriedade:

- Alemão, recebi informações de que esse devedor que fui cobrar não pretende pagar. Ele roubou um carregamento de armas e quer vingança contra todos nós. Ele disse que vai derrubar um a um até que alguém lhe entregue a cigana.

Uma mistura de raiva e preocupação se apoderou de mim ao ouvir aquelas palavras. A situação estava ficando ainda mais perigosa e pessoal. Eu sabia que a morte da cigana havia desencadeado uma série de problemas, mas agora tudo estava se tornando um verdadeiro pesadelo.

A confusão era palpável entre meus irmãos diante da ameaça do devedor em relação à cigana. Erick, em particular, parecia estar mais quieto do que o habitual, mas eu sabia que não era o momento para questionar suas atitudes. Era importante manter o foco na situação em mãos.

- Ele deve estar delirando ou querendo nos provocar. A cigana está morta, e ele deve saber disso - disse coiote, expressando o que todos nós estávamos pensando.

Concordei com um aceno de cabeça, ainda sentindo a dor física da emboscada anterior, mas agora também sentindo uma dor emocional ao falar sobre a cigana.

- Você está certo. Ele está tentando nos atingir onde mais dói, usando a memória da cigana contra nós.

Meus irmãos e eu nos encontramos em meio a um debate acalorado sobre o motivo pelo qual o homem queria a cigana, mesmo sabendo que ela estava morta. A tensão era palpável, e Gustavo, ainda um tanto desconfortável com toda a situação, permanecia em silêncio, apenas observando a cena.

- É uma armadilha clara. Ele está tentando nos atrair para uma emboscada - disse Gabriel, sua voz carregada de desconfiança.

Concordei com ele, mas outra teoria veio à minha mente.

- Mas e se ele estiver atrás de algo que a cigana possuía? Algo que ele acredita que ainda está em nosso poder?

Marasato levantou uma sobrancelha.

- Você quer dizer alguma informação valiosa ou algum objeto que ela guardava? Pode ser uma possibilidade.

Enquanto o debate continuava, Gustavo pareceu ter encontrado coragem para falar.

- Desculpe, eu nunca cheguei a perguntar isso, mas quem é essa cigana de quem vocês estão falando?

Os olhares dos meus irmãos se voltaram para ele, e eu decidi explicar.

- A cigana era alguém especial para nós, uma pessoa querida que já não está mais entre nós. Ela era como uma irmã para a gente.

Gustavo pareceu compreender a gravidade da situação, mas ainda estava confuso.

- Mas por que o devedor está atrás dela se ela está morta?

Erick finalmente decidiu intervir em meio ao silêncio que o envolvia.

- Isso é o que precisamos descobrir. Talvez ele esteja atrás de alguma informação ou algum segredo que apenas ela conhecia.

- Ou talvez ele simplesmente queira nos assustar e nos enfraquecer emocionalmente - sugeri.

Meus irmãos concordaram com a possibilidade, e a discussão continuou. Nossas mentes estavam repletas de teorias e suposições, mas uma coisa era certa: precisávamos agir com cautela e inteligência.

- Erick, você tem alguma ideia de como podemos abordar essa situação sem colocar nossas vidas em risco? - perguntei, esperando uma resposta de nosso irmão mais estratégico.

Erick ponderou por um momento antes de responder:

- Vamos precisar de uma abordagem cuidadosa. Precisamos investigar mais sobre o devedor e suas motivações, descobrir o que ele realmente está procurando. E então podemos traçar um plano para confrontá-lo.

Meus irmãos e eu concordamos com a abordagem de Erick, sabendo que era a melhor maneira de lidar com essa ameaça desconhecida. Gustavo parecia impressionado com nossa forma de resolver as coisas, e eu podia perceber que ele estava aprendendo muito com nossa família mafiosa.

A lembrança da cigana permanecia viva em nossos corações, nos impulsionando a enfrentar os desafios com coragem e determinação. Unidos como irmãos, enfrentaríamos qualquer obstáculo que surgisse em nosso caminho, e não deixaríamos que ninguém ameaçasse nossa família sem pagar um alto preço por isso. Com cada passo que dávamos em direção ao desconhecido, nossos laços se fortaleciam, e a certeza de que éramos mais do que apenas irmãos, éramos uma verdadeira família mafiosa, se tornava ainda mais evidente.



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