capítulo 18

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O sol nasceu. E a nossa liberdade temporária acabou.

Com os três carros já abastecidos, nós separamos novamente e adentramos os veículos, preparados para mais dezoito horas de viajem até a mansão. Vicenzo a essa hora já estaria entretido nos preparativos do baile, ou estaria em alguma reunião.

Eu me ajeito no banco do carro, olhando pela janela enquanto o motor ronrona. Ao meu lado, está Alemão. A tensão é palpável entre nós, misturada com uma mistura de amor não resolvido e um passado compartilhado.

Alemão desvia o olhar da estrada por um momento e olha para mim, seus olhos intensos capturando os meus. Há uma melancolia e desejo contidos em seu olhar, mesmo que tentemos manter uma fachada de indiferença.

- É engraçado como o destino nos coloca de volta juntos, não é?" - murmuro, minha voz carregada de nostalgia.

Ele assente, seus dedos apertando levemente o volante.

- Sim, é estranho como o universo conspira para unir duas pessoas que se amam, mesmo que estejamos em lados opostos agora.

Fico em silêncio por um momento, processando suas palavras. A verdade é que, apesar das nossas escolhas e dos caminhos que tomamos, ainda há uma chama ardente entre nós. É difícil resistir à atração que nos une, mesmo que seja perigoso.

- Você se arrepende de tudo o que aconteceu entre nós? - pergunto, minha voz trêmula de incerteza. Ele suspira, olhando para a estrada novamente.

- Eu não posso negar que ainda sinto sua falta. Às vezes, desejo que as coisas tivessem sido diferentes. - Eu solto um riso amargo, passando a mão pelos cabelos.

- se você queria mesmo que fosse diferente, porque não fez nada para mudar?

Enquanto o carro avança pela estrada, o silêncio paira no ar, mas o amor entre nós é uma presença constante e inegável. O passado ainda nos atormenta, e por mas que haja uma parte de nós que anseia por um futuro diferente, onde possamos estar juntos novamente, uma outra parte ainda não o perdoou.

Enquanto chegamos à fronteira entre a Espanha e a Itália, o peso do nosso amor não resolvido parece se intensificar. Nós nos olhamos mais uma vez, os olhos cheios de desejos inexprimíveis. Sabemos que, assim que cruzarmos essa fronteira, seremos arrastados de volta para a escuridão de nossos papéis na máfia.

Nossas mãos se tocam brevemente, e um sorriso triste se forma em nossos lábios. Não há palavras para expressar o que sentimos, mas em nossos corações, sabemos que essa viagem de carro representa mais do que apenas um trajeto físico. É uma jornada emocional, uma batalha entre o amor e o passado cruel que nos separa.

Enquanto nos preparamos para atravessar a fronteira, nossos olhares se encontram novamente, prometendo que não importa o que aconteça, sempre haverá uma parte de nós que pertence ao outro. O futuro é incerto, mas a força do nosso amor é inegável.

Lembro-me das noites que passamos juntos, planejando assaltos audaciosos e mergulhando no submundo da máfia. Éramos uma equipe perfeita, tanto no amor quanto no crime. Mas nossos caminhos se separaram, deixando cicatrizes profundas em nossos corações.

- ainda é estranho estar tão perto de você novamente... - ele murmura desviando o olhar para a estrada à nossa frente

- Eu sei, eu sinto o mesmo. Mas não podemos deixar que o passado nos controle. Temos uma missão a cumprir e o tempo urge - eu respondo com determinação na voz

Enquanto as paisagens da fronteira passam por nós, o silêncio preenche o espaço entre nós. O peso das palavras não ditas é palpável, um abismo de emoções não resolvidas que parece nos separar. Ainda nos amamos, mas as circunstâncias nos arrastaram para caminhos opostos, cada um de nós imerso no mundo perigoso da máfia.

Olho de relance para ele, observando as linhas de tensão em seu rosto. Há um desejo inegável nos olhos dele, uma busca por reconciliação que ecoa em meu coração. Mas o medo do desconhecido, a imprevisibilidade do nosso futuro, mantém nossos lábios selados.

A medida que nos aproximamos da mansão na Itália, onde teremos que entregar o dinheiro roubado, uma sensação de tristeza permeia o ar. A mansão representa o passado, um mundo de luxo e perigo que nos consumiu e nos separou.

Estacionamos o carro em frente à imponente mansão, seu exterior majestoso ecoando os sentimentos conflitantes dentro de nós. Trocamos um último olhar, uma troca silenciosa de promessas não cumpridas. Em meio à imensidão dessa mansão, somos apenas dois peões em um jogo maior, impotentes para lutar contra as correntes que nos prendem.

O coração acelera quando os carros param em frente à mansão. Os portões se abrem majestosamente, revelando o caminho até a entrada principal. Meu pai, acompanhado por sua leal secretária, nos aguarda, seu olhar penetrante nos analisando cuidadosamente.

Descemos dos carros, um após o outro, nossos passos reverberando no silêncio tenso do momento. Meu pai mantém a postura rígida, a aura de autoridade o cercando. A secretária, sempre discreta e observadora, fica ao seu lado, emanando uma presença enigmática.

Nos aproximamos do meu pai, a respiração presa em nossos peitos. O silêncio é quebrado quando ele finalmente fala, sua voz grave e imponente preenchendo o ar.

- pensei que vocês nunca chegassem. Trouxeram o que lhes foi confiado? -  pergunta meu pai com uma expressão séria.

- Aqui está, pai. Cumprimos nossa missão e trouxemos o que era devido. - falei tomando a frente enquanto as malas eram retiradas dos carros, minha voz soa firme, mas por dentro, minha mente está em tumulto.

Meu pai pega uma das malas de dinheiro, seus olhos frios examinando-o brevemente. Ele assente, satisfeito, e então sua atenção se volta para meus irmãos e para mim.

- vocês têm sido leais à família. Mas lembrem-se, a lealdade é um preço alto a se pagar. Não há espaço para erros ou fraquezas nesta vida que escolhemos. - suas palavras ecoam no ar, pesadas e cheias de significado.

Enquanto ele fala, minha mente vagueia para os momentos compartilhados com meus irmãos. As noites de conspiração, os laços inquebráveis que construímos juntos. Sabemos que estamos em uma teia perigosa, presos entre o amor por nosso pai e a dura realidade da máfia.

A secretária permanece em silêncio, observando atentamente cada palavra e movimento. Sua presença calma e enigmática me intriga, fazendo-me questionar o papel que ela desempenha em tudo isso.

Meu pai nos dá um último olhar, um misto de orgulho e advertência. Ele sabe que somos seus filhos, moldados por seu legado, e espera que carreguemos esse fardo com dignidade.

Enquanto nos afastamos, sinto o peso da máfia sobre meus ombros. Somos os herdeiros de uma vida de crime, e agora mais do que nunca, precisamos nos unir.

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