capítulo 43

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Antes mesmo do sol nascer, eu já estava de pé, enfrentando as primeiras luzes do dia que timidamente começavam a despontar no horizonte. O vazio que a morte da cigana deixou em meu peito ainda doía profundamente, e cada novo dia parecia uma batalha contra essa dor avassaladora.

Tomei um banho, deixando a água escorrer por meu corpo como se pudesse levar embora parte da tristeza que me envolvia. Mas mesmo a sensação refrescante do banho não era suficiente para apagar a saudade e o vazio que sentia em meu coração.

Decidi descer para tomar um café antes dos meus irmãos acordarem. Na quietude da manhã, os pensamentos sobre a cigana se intensificavam. As memórias da nossa conexão, das risadas e dos momentos compartilhados eram como uma doce melodia que ecoava em minha mente.

O café parecia amargo, e cada gole me lembrava da presença que não estava mais ali. A ausência dela era como um buraco negro que sugava toda a alegria e luz da minha vida.

Enquanto enfrentava a dor da perda, percebi que aos poucos, eu começava a me acostumar com essa realidade. Não que a tristeza fosse diminuindo, mas eu estava aprendendo a conviver com ela, a permitir que fizesse parte de mim, mas sem me definir por completo.

As lágrimas teimavam em querer escapar, mas eu as segurava, como se fosse um ato de resistência contra a devastação que a morte dela trouxera. No entanto, sabia que chorar era um ato de humanidade, uma forma de liberar a dor que carregava em silêncio.

Conforme o sol se erguia no céu, um novo dia se apresentava diante de mim, e a cicatriz em meu coração estava cada vez mais presente. Mas ao mesmo tempo, percebia que eu era mais forte do que pensava, capaz de continuar apesar da perda avassaladora.

Saí da casa e fui em direção ao pequeno campo ao lado do bosque. Para minha surpresa, encontrei Gustavo já se aquecendo, preparado para mais um dia de treinamento. Seu comprometimento e determinação me impressionavam a cada dia que passava.

- Você está aqui cedo hoje - comentei, sorrindo para ele.

- Queria me preparar melhor para o treino de hoje. Quero aprender o máximo possível. - Ele retribuiu o sorriso.

Conforme o sol surgia no céu, começamos nosso treinamento. A cada exercício, uma conexão mais forte se formava entre nós. Compartilhávamos histórias, esperanças e medos, e essa amizade se desenvolvia em meio ao campo de treinamento.

Enquanto nos preparávamos para o treino de luta corporal, Gustavo parecia animado, mas também um pouco inseguro. Ele sabia o básico, mas estava ansioso para aprender mais e se tornar um lutador habilidoso.

- Vamos começar com as técnicas de defesa - eu disse, posicionando-nos em uma postura adequada. - Lembre-se, a luta corporal é uma mistura de força física e estratégia. O objetivo é se proteger e usar o mínimo de energia para controlar o oponente.

Gustavo assentiu, demonstrando estar atento às minhas palavras.

- Entendi - ele respondeu, concentrado.

Nosso treinamento prosseguiu com golpes e movimentos precisos. Eu explicava cada técnica e depois mostrava a ele como executá-la corretamente. A paciência era fundamental, pois cada movimento demandava prática e repetição para se tornar eficiente.

- Você está fazendo progresso - eu o elogiei, observando seu esforço. - Aprender a lutar é um processo contínuo, mas tenho certeza de que em breve você se tornará um lutador excepcional.

Ele sorriu, parecendo grato pela oportunidade de aprender.

- Estou me dedicando ao máximo - disse, com determinação em seus olhos.

Enquanto o sol subia no céu, continuamos nosso treino, abordando técnicas de ataque e defesa mais avançadas. A cada passo dado, Gustavo se mostrava mais confiante e seguro de si. Sua sede de aprendizado e sua vontade de aprimorar suas habilidades eram admiráveis.

- Você está se tornando um ótimo aluno - eu o elogiei novamente, orgulhoso do progresso que estava fazendo.

- Isso é graças a você - Gustavo respondeu, ofegante, mas com um brilho nos olhos. - Obrigado por me ensinar tudo isso.

No decorrer do treinamento, nossa amizade se fortalecia ainda mais. Eu estava ensinando-o a ser um grande lutador, mas ele também me ensinava sobre determinação, perseverança e a importância de ter alguém ao seu lado nos momentos difíceis.

- Você sabe, Alemão - disse ele enquanto pegávamos uma breve pausa para descansar, - além de aprender a lutar, eu também aprendi a enxergar a vida de outra forma. A perda da cigana me ensinou que cada dia é precioso, e que devemos viver intensamente enquanto podemos.

Suas palavras ressoaram em mim, tocando um ponto sensível.

- Você está certo, Gustavo - respondi, refletindo sobre a importância de valorizar cada momento. - A vida é frágil e imprevisível, e nossa amizade me faz perceber como é essencial estarmos presentes uns para os outros.

Enquanto retomamos o treino, agradeci silenciosamente por ter Gustavo ao meu lado. A medida que o treino de luta corporal progredia, eu decidi testar as habilidades de Gustavo para avaliar seu progresso. Com cuidado, iniciei um combate simulado entre nós, garantindo que a segurança estivesse sempre em primeiro lugar.

Nossos golpes eram precisos, e a sincronia entre nossos movimentos era notável. Gustavo mostrava agilidade e rapidez, absorvendo os ensinamentos de forma surpreendente. Seu olhar concentrado e determinado refletia sua sede por conhecimento e o desejo de melhorar cada vez mais.

Enquanto avançávamos, pude perceber a evolução dele, aprimorando suas técnicas de defesa e ataque. Ele se esquivava habilidosamente de meus golpes e contra-atacava com precisão. Era evidente que o treinamento estava dando resultados, e a satisfação de vê-lo progredindo era genuína.

- Nada mal, Gustavo! - elogiei, impressionado com sua performance. - Sua velocidade e reflexos estão muito melhores.

Ele sorriu, ofegante, mas visivelmente satisfeito.

- Obrigado, Alemão. Seu treinamento está me ajudando muito.

Continuamos o combate, explorando diversas técnicas e situações. Gustavo se mostrava mais confiante a cada movimento, e sua dedicação era clara em cada golpe que desferia.

Enquanto lutávamos, não era apenas a habilidade de Gustavo que estava sendo testada, mas também a minha capacidade de liderar e ensinar. Eu precisava encontrar o equilíbrio entre desafiá-lo e incentivá-lo, garantindo que ele estivesse preparado para enfrentar qualquer situação.

Com o tempo, percebi que nosso combate não se tratava apenas de um teste físico, mas também de uma troca de experiências e aprendizado mútuo. Enquanto eu o ensinava sobre a arte da luta corporal, ele me mostrava a importância da resiliência e da vontade de crescer.

Nossos corações batiam em sintonia, movendo-se em uma dança coreografada de movimentos e contra-ataques. A cada golpe trocado, uma conexão especial se fortalecia entre nós, revelando que essa amizade não era apenas uma parceria de treinamento, mas algo mais profundo e significativo.

Finalmente, ao encerrar a luta, percebi que Gustavo havia se tornado um lutador formidável. Seus olhos brilhavam com a confiança que ele havia conquistado em si mesmo, e eu me sentia honrado por ter desempenhado um papel em seu crescimento.

- Você está indo muito bem - eu disse, segurando seu ombro com orgulho. - Continue assim, e você será um lutador excepcional.

Ele assentiu, a gratidão estampada em seu rosto.

- Obrigado por acreditar em mim, Alemão. Sua orientação tem sido essencial para mim.

Enquanto saímos do campo de treinamento, senti que nosso vínculo se tornara ainda mais forte. A amizade que florescia entre nós era uma verdadeira força motriz para enfrentar os desafios que a vida nos reservava.

Nosso treinamento continuaria, e a cada dia, eu sabia que aprenderia tanto quanto ensinaria. A jornada da luta corporal era apenas uma parte da nossa história, mas aquela amizade verdadeira era o alicerce que nos sustentaria, nos impulsionando a seguir adiante, juntos, enfrentando o mundo com coragem e determinação.

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