capítulo 53

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Quando abri os olhos, me vi deitado na beira da estrada, cercado por uma névoa turva de dor e confusão. Minha visão estava embaçada, e cada movimento era uma agonia excruciante. Tentei me levantar, mas meu corpo parecia pesado e desajeitado.

A lembrança da emboscada me atingiu como um soco no estômago. O ataque surpresa, a arma apontada para mim, e então tudo ficou escuro. Como eu havia chegado ali? Como havia sobrevivido? As perguntas se misturavam com a dor latejante em cada parte do meu corpo.

Com grande esforço, consegui me sentar, apoiando-me nas mãos trêmulas. Minha respiração estava ofegante, e minha mente lutava para organizar os pensamentos. O que aconteceu depois da emboscada? Onde estavam meus companheiros? A confusão me envolvia, e a falta de memória só aumentava minha ansiedade.

Tentei me lembrar dos últimos acontecimentos, mas minha mente parecia um quebra-cabeça incompleto. Fragmentos de imagens e sensações passavam por minha mente, mas não se conectavam de forma coerente. Eu sabia que precisava reunir minhas forças e encontrar ajuda.

Levantei-me com dificuldade e, apoiando-me na beira da estrada, olhei ao redor. Estava em um local desconhecido, longe de qualquer sinal de civilização. Não havia ninguém por perto, e a solidão me envolvia como uma sombra.

A dor era intensa, mas eu precisava encontrar uma maneira de voltar para casa e para minha família. Minha mente se encheu de preocupação com meus irmãos, com Gustavo, com todos aqueles que contavam comigo. Eu não podia ficar ali, vulnerável e sozinho.

Com determinação, comecei a caminhar em direção a qualquer sinal de vida ou civilização. Cada passo era uma provação, mas eu não podia parar. A cigana continuava sendo minha inspiração, me lembrando de que eu era capaz de superar qualquer obstáculo.

Enquanto seguia em frente, sentia a dor física se mesclar à dor emocional da perda da cigana. Suas palavras de sabedoria e força continuavam ecoando em minha mente, e eu sabia que precisava honrar seu legado, mesmo em meio às dificuldades.

Meu coração apertou-se quando avistei algo à frente, e meu instinto de sobrevivência gritou para que eu me aproximasse com cautela. Ao chegar mais perto, percebi que era o corpo do meu motorista, inerte e sem vida. Um choque percorreu meu corpo, e um sentimento de profunda tristeza e culpa tomou conta de mim.

Meu corpo inteiro tremia, e as lágrimas ameaçavam escapar dos meus olhos. Eu não podia acreditar no que estava vendo. Ele estava ali, caído no chão, e eu não pude protegê-lo. A responsabilidade pesava sobre mim, como um fardo insuportável.

Me ajoelhei ao lado do corpo, tentando em vão encontrar algum sinal de vida. Mas estava claro que ele se foi, vítima da mesma emboscada que nos atingira. A tristeza e a culpa se misturavam, e eu me sentia impotente diante da morte de alguém que confiara em mim.

Com o coração pesado, me levantei e me afastei do corpo do meu motorista. Não havia mais o que fazer por ele, mas eu precisava continuar. A vida mafiosa não dava espaço para pausas ou lutos prolongados. Eu precisava me manter forte e enfrentar as consequências de minhas escolhas.

Meu coração afundou ainda mais quando me deparei com o segundo corpo alguns metros adiante. Era o meu segurança, agora também sem vida. A dor e a tristeza que já me consumiam se intensificaram, e eu me senti ainda mais sobrecarregado com o peso das perdas.

Ajoelhei-me novamente, desta vez ao lado do corpo do meu segurança. Suas feições estavam serenas, mas a vida havia se esvaído dele também. Ele era mais um dos meus homens, dos quais eu era responsável, que agora estavam mortos por causa da emboscada.

Uma mistura de raiva e desespero me invadiu. Por que isso estava acontecendo? Por que meus homens estavam sendo alvos dessa forma? As perguntas martelavam em minha mente, mas eu não encontrava respostas.

Com o coração apertado, eu sabia que não poderia fazer mais nada pelos meus homens mortos. Eles haviam sido vítimas de uma guerra que eu mesmo havia escolhido enfrentar. Mas agora, as perdas estavam se acumulando, e eu precisava tomar uma decisão.

Eu não podia permitir que mais vidas fossem perdidas. A morte já havia levado a cigana e agora havia ceifado a vida dos meus homens. Eu precisava mudar a direção dos acontecimentos.

Com passos lentos e pesados, eu me afastei da cena da tragédia. Meu coração estava partido, mas eu sabia que precisava encontrar uma forma de honrar a memória daqueles que haviam sido tirados de mim. Eu precisava liderar com sabedoria e evitar mais derramamento de sangue.

Finalmente, após uma caminhada que pareceu uma eternidade, avistei um posto de gasolina à distância. Minhas pernas estavam trêmulas, e cada passo era um esforço sobrenatural, mas eu continuei a avançar.

Ao chegar ao posto de gasolina, pedi ajuda ao atendente, que me olhou com surpresa e preocupação. Ele chamou um táxi, e logo fui levado pra casa.

Minha mente estava confusa, mas eu sabia que precisava me recuperar. A vida mafiosa era implacável, e eu precisava estar forte para enfrentar os desafios que ainda estavam por vir.

A dor física e emocional se tornou quase insuportável quando finalmente cheguei em casa. Minhas pernas pareciam pesar toneladas, e cada passo foi uma verdadeira prova de resistência. O sangue que escorria de algumas feridas manchava o chão, testemunhando os desafios que enfrentei.

Ao alcançar a entrada da casa, senti um misto de alívio e tristeza. Saber que estava em um lugar seguro trouxe certo conforto, mas também me lembrou das perdas irreparáveis que havia enfrentado. A imagem da cigana me acompanhou a cada passo, e me perguntei se ela estaria me guiando em meu momento de fraqueza.

Sem forças para abrir a porta, deixei meu corpo cair e me sentei no chão de pedra, encostado na madeira fria da entrada. Minha respiração estava ofegante, e meus olhos se encheram de lágrimas que teimavam em cair. A sensação de impotência me abraçou, e eu me senti perdido em meio à tempestade emocional.

A imagem dos corpos dos meus companheiros, caídos na estrada, assombrava meus pensamentos. Aquelas perdas eram como feridas abertas que nunca cicatrizariam completamente. Lembrei-me de seus sorrisos, de suas palavras de apoio, e a culpa invadiu meu coração. Eu os havia levado para a morte, em busca de vingança e poder, e agora pagávamos o preço.

Enquanto lutava para controlar as emoções, ouvi passos se aproximando. Era meu irmão mais novo, que ao me ver naquela situação, correu até mim com preocupação estampada no rosto.

- Mano, o que aconteceu? O que houve com você? - perguntou ele, com a voz trêmula.

- Tive uma emboscada... Perdemos... perdemos alguns dos nossos... - consegui dizer, com dificuldade.

Meu irmão me ajudou a entrar em casa e me levou até o sofá, onde me sentei com cuidado. Ele trouxe um kit de primeiros socorros e começou a limpar e tratar minhas feridas. Sua presença ali, ao meu lado, trouxe certo conforto e calor humano em meio à dor.

A partir daquele momento, meu compromisso era outro. Não era mais apenas a busca por poder, mas sim a proteção daqueles que eu amava e a busca por uma forma de paz em meio à vida mafiosa. As cicatrizes físicas e emocionais seriam marcas de uma jornada difícil, mas também símbolos da minha transformação em um líder mais sábio e responsável.

E assim, com a determinação de honrar o legado da cigana e proteger minha família, eu seguia adiante, sabendo que o caminho seria difícil, mas que eu jamais estaria sozinho. Pois, mesmo em meio à escuridão, a luz da memória da cigana brilharia sempre em meu coração, guiando-me rumo a um futuro melhor.

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