Whisper

1. Estopim

Freen conheceu Kirk em um dos seus primeiros trabalhos como modelo em Bangkok. Nessa época, ela ainda era muito jovem e até mesmo ingênua, então quando o cantor e ator decidiu lhe dar atenção, ela se encantou logo de cara. Claro que o sucesso dele tinha tido alguma influência, mas o que havia encantado Freen era o charme do moreno e o quanto ele parecia querer impressioná-la. Em meio a grandes gestos românticos, músicas dedicadas e viagens surpresas, os dois acabaram namorando, noivando e casando num intervalo de dois anos.

Freen havia se apaixonado por Kirk logo no terceiro mês deles juntos e quando o mesmo decidiu pedir sua mão em casamento com um ano de namoro, ela não pensou duas vezes em dizer sim. Dez meses depois, com apenas 20 anos de idade, ela se tornou uma mulher casada.

Kirk era um ótimo namorado e nos dois primeiros anos de casamento, tinha sido um excelente marido. Freen nunca se preocupou se estava sendo traída nas viagens do cantor, pois ele estava sempre ligando e entrando em contato. Ele era sempre muito carinhoso, presente, e ela via e sentia todos os dias que ele a amava. Tudo começou a mudar depois que Freen descobriu da gravidez.

A mudança não foi radical ou escancarada. Foi aos poucos e em detalhes. As ligações diminuíram, os gestos românticos e carinhosos pareciam mais mecanizados, os encontros sexuais já não tinham a mesma intensidade. Freen, observadora como sempre foi, sentiu e notou todas as pequenas diferenças.

Quando ela estava no último trimestre da gravidez, as mudanças se tornaram mais evidentes. Kirk não ligava muito para nada relacionado a gravidez ou a filha. Claro que ele sorria e estava presente, mas ela via que ele não compartilhava a mesma empolgação que ela. E aquilo foi quebrando a mulher por dentro.

Tudo começou a ir de mal a pior depois que Li nascera. Isso porque Kirk não se envolvia em nada em relação a criança. O marido carinhoso e dedicado de antes, se tornou frio e distante após o nascimento da filha. As gravações e turnês cada vez mais longas e os dias em casa cada vez mais contados.

Kirk quase nunca passava tempo a sós com a filha, apenas quando os três estavam juntos. Ele amava passar a imagem de família ideal para o mundo, mas em quatro paredes, Freen sentia que criava e amava a filha sozinha.

No primeiro ano de Li, a modelo colocou sua carreira em pausa para cuidar da filha. Kirk passou metade desse ano em turnê e perdeu quase todos os melhores momentos, mesmo com Freen tentando mantê-lo atualizado via celular.

No segundo e terceiro ano de Li, Freen voltou a trabalhar aos poucos, aderindo apenas a algumas campanhas publicitárias e participando de eventos que não a tirassem muito tempo de casa. No terceiro, Freen já se sentia mais confortável em levar a filha em algumas viagens mais longas, o que permitiu que a modelo chegasse um pouco mais perto do tipo de trabalho que fazia antes de engravidar.

Quando Li fez cinco anos, as coisas mudaram de vez. Freen agora com uma carga cheia de trabalhos, precisava que o marido começasse a se envolver mais na criação de Li. A menina começaria a estudar oficialmente naquele ano e infelizmente Freen não poderia a levar mais com ela em suas viagens. Trabalhar a agenda de Kirk e a dela ao redor das necessidades da filha parecia algo normal para Freen, mas a ideia não foi tão bem recebida por Kirk.

POV Freen

"Ela também é sua filha, Kirk!" me vi dizendo revoltada com a atitude ridícula do meu marido.

"Eu não posso simplesmente arrumar meus shows para levar a Li para escola, Freen. Se você acha tão importante que algum de nós TENHA que levar ela na escola todos os dias, você que faça todos os dias!" ele falou andando de um lado para o outro no quarto, passando as mãos no cabelo. Era um hábito que ele tinha quando estava nervoso ou irritado.

"Ela tem só cinco anos, Kirk. Um de nós tem que estar com ela o tempo inteiro. Não necessariamente levar ela na escola todos os dias, mas estar aqui quando ela sair e quando ela voltar. E eu não estou pedindo para você cancelar nada, estou falando para gente antecipadamente ver nossas agendas desse semestre!" falei exasperada.

Estávamos tendo a mesma conversa fazia dias. Ele achava um absurdo eu querer que ele estivesse mais em casa enquanto eu fazia um ou outro evento distante.

"Eu já disse que assim que eu tiver meu calendário pronto, eu te passo e você organiza suas coisas em relação a ele!" ele disse e eu o olhei incrédula.

"Não é só você que tem uma carreira, Kirk! Minha vida não tem que girar em torno da sua não!" eu já estava com o dedo enfiado na cara dele. Odiava quando ele tentava rebaixar a minha carreira.

"Eu não quero ser rude, mas quem paga as coisas e o luxo que a gente vive é a minha carreira, então ela tem que vir em primeiro sim!" ele falou dando de ombros.

Fechei os olhos para segurar as lágrimas de raiva que tentavam escapar de meus olhos e me afastei dele para não simplesmente pular na cara dele. Respirei fundo e abri meus olhos lentamente, tentando me manter calma.

"Não quis ser, mas foi. Eu não preciso de luxo para viver e se eu quiser, mantenho eu e minha filha muito bem sem você!" retruquei em tom seco.

Pude ver a ira estampada em seus olhos com as minhas palavras.

"Você pode até viver bem sem mim, Freen. Mas a minha filha você não leva!" ele praticamente gritou, virando a cara com raiva e saindo do quarto batendo a porta.

Senti o sangue congelar nas minhas veias com as palavras dele e a maneira como ele as disse. Lágrimas escorriam pelo meu rosto só de pensar em perder a minha filha. Não era a primeira vez que ele soltava esse tipo de ameaças quando discordávamos de algo e agora que o nosso casamento estava péssimo, eu morria de medo que ele as cumprisse.

Com as mãos ainda trêmulas busquei meu celular. Eu precisava falar com alguém e na minha mente veio logo Nam, uma das poucas pessoas que eu considerava como amiga. Eu a tinha conhecido fazendo eventos de música há alguns anos. Nam era cantora e compositora e uma amiga incrível, eu tinha sorte em tê-la na minha vida.

"Oi, Freen!" ela atendeu depois de alguns toques.

"Nam..." minha voz quebrou.

"O que houve, amiga? Você tá bem?" falou preocupada, o que só me fez chorar mais.

"Ele me ameaçou tirar Li de novo, Nam. Eu não aguento mais a maneira como ele me trata e trata a nossa filha, mas eu não sei o que vou fazer se ele tirar ela de mim. Ele tem tanto poder, tanta influência com a carreira e família dele. Tenho certeza que se ele quiser, ele consegue. Eu estou apavorada!" falei em meio a choro e soluços. Nam me deixou desabafar tudo o que eu queria. Ela já estava sabendo de toda a situação, afinal ela era a pessoa que eu buscava sempre para me aconselhar e consolar.

"Fica calma, amiga. Primeiro você precisa se acalmar, tá certo? Respira fundo comigo...Um, dois, três..." ela me guiou com sua voz até que eu conseguisse parar de chorar e me acalmar um pouco.

"Ok, tô mais calma," falei finalmente, limpando algumas lágrimas do meu rosto com as mãos.

"Ok, amiga," disse Nam com uma voz doce. "Agora você precisa tomar uma decisão. Você quer continuar assim ou quer tomar alguma providência?"

"Você diz divórcio?" falei assustada em sussurro. Kirk não podia nunca ouvir essa conversa. "Você não ouviu nada do que eu falei, Nam?"

"Calma, Freen. Você sabe que têm opções e divórcio é sim uma delas. Kirk pode ser influente, mas você é uma ótima mãe e tenho certeza que se a gente for esperta e contratar um advogado a altura, você consegue tudo o que quiser," ela disse com tanta confiança que eu até comecei a acreditar.

"Será, Nam? Eu tenho tanto medo..."

"Eu sei, amiga. Eu te entendo e não vou te forçar a nada, mas pensa nisso. E se você quiser, já tenho até uma advogada."

"Mas teria que ser super confidencial, Nam. Ele só poderia descobrir quando tudo já tivesse pronto," respondi com uma ponta de esperança, já pensando na possibilidade de viver livre com a minha filha, sem depender de Kirk.

"Ela é, amiga. De super confiança," Nam disse. "Lembra daquela minha amiga de infância que é advogada que eu te falei? A Becky?"