17. Sinais

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POV Becky

Já era sexta-feira e pode-se dizer que uma espécie de rotina tinha sido criada durante aquela semana. Eu acordava, mandava algumas mensagens importantes e respondia a alguns e-mails, depois tomava banho e dividia o café da manhã com Nam. Ela às vezes passava o dia fora trabalhando em seu livro ou escrevia no conforto de seu escritório, enquanto eu trabalhava no meu quarto. Algums dias Freen vinha para o almoço, às vezes ela aparecia na hora do café, mas não tinha tido um dia sequer nessa semana que ela não tinha vindo mesmo que brevemente ao apartamento.

Naquele dia, no entanto, Nam me convenceu a finalmente sair de casa e largar o trabalho por algumas horas. Desde que eu chegara em Bangkok, eu só havia saido do apartamento para fazer compras e ir ao cartório resolver algumas coisas.

Nam havia me convencido a ir em um evento que Freen estava participando. Era um evento musical grande, que Freen havia passado a semana inteira ajudando a promover e organizar, por isso ela estava na cidade a semana inteira.

"O marido dela vai estar lá?" perguntei assim que Freen foi embora aquele dia depois do nosso ritual café da tarde. Nam nos acompanhou nesse, assim como no de quarta-feira.

"Não, é um evento para as novas vozes da música tailandesa e a Freen não gosta de vincular a imagem profissional dela a do marido. O que é muito esperto, ainda mais agora," Nam respondeu.

Ainda tínhamos algumas horas antes de precisarmos ir nos arrumar, por isso estávamos na sala jogando papo pro ar.

"Semana que vem eu vou te tirar mais desse apartamento," Nam prometeu. Eu ri, dando de ombros.

"Eu terminei os papeis de Freen e só estou esperando a luz verde dela, agora tenho tempo de perambular com você pela cidade," disse me deitando no colo da minha amiga e levando sua mão até meu cabelo. Nam nunca foi muito carinhosa, mas como eu era uma das suas melhores amigas e adorava um carinho, ela acabou tendo que "aprender na marra", como ela dizia.

Ela começou um cafuné agradável e eu relaxei em seu colo, fechando meus olhos. Naquele momento era como se eu tivesse me transportado para um tempo onde as coisas eram mais simples.

"Canta a minha música," pedi em uma voz pequena e senti os movimentos de Nam pararem brevemente, antes de ela continuá-los acompanhando de sua voz baixa. Cantando só para mim, como ela costumava fazer quando tinha vergonha de expor sua música para o mundo.

Ela começou a cantar baixinho, como antigamente, e eu senti lágrimas se formando em meus olhos e os apertei tentando evitar que elas caíssem. Ela ontinuou cantando, mas senti uma de suas mãos limparem o canto do meu olho e sabia que não tinha conseguido evitar o choro. Sua voz continuava firme, mas um pouco mais suave. Abri meus olhos e vi que os de Nam estavam colados nos meus.

Ela parou de cantar e continuou me olhando com carinho. Me olhava como se entendesse minhas lágrimas, minhas dores, minhas frustrações.

Eu queria saber o que dizer para ela naquele momento, mas a verdade é que eu não queria e nem estava pronta para mergulhar naqueles assuntos cara a cara com Nam, a pessoa que mais me conhecia na vida. A única pessoa que conseguiria exergar facilmente aquilo que eu escondia até de mim mesma.

Então eu continuei, na minha voz desafinada e rouca pelo choro o próximo verso da sua música. Nam sorriu para mim, um sorriso dolorido, mas carinhoso. Eu sorri de volta e ela continou a música, me fazendo voltar a fechar meus olhos enquanto ela afagava meus cabelos.

Sim, eu tenho a melhor amiga do mundo.

POV Freen

A semana passou voando em meio a levar e buscar Li na escola, trabalhar na promoção e na organização do evento de hoje e das minhas visitas a Becky. Na segunda-feira eu acabei indo lá apenas porque parte de mim se sentia um pouco culpada de ter arrancado a mulher da cidade dela, sem nem mesmo ter decidido a minha vida. E como eu sabia que Nam estaria ocupada o dia inteiro, imaginei que ela precisasse de companhia. No entanto, conversar com Becky era tão bom e fácil que acabou se tornando algo que eu esperava no meu dia. Ter tempo de conversar com ela.

Na segunda-feira eu a observei falar no telefone e a maneira carinhosa e cuidadosa com que ela tratava a pessoa na outra linha me deixou curiosa. Estranhei e fiquei curiosa para saber de quem se tratava, ainda mais quando ela falou de algum "caso". Quando tive oportunidade de perguntar, Becky pareceu não querer tocar no tema, mas com o pouco de informação que ela deixou escapar, eu consegui entender que se tratava de uma mulher que aparentemente era parente (ou algo assim) de um caso em aberto seu. E que Becky estava ajudando a tal mulher, acima de tudo. Confesso que fiquei extremamente curiosa com aquilo, mas não forcei porque não queria que Becky se sentisse pressionada. Reparei esse dia também, que ela em nenhum momento falou do divórcio ou me tratou como uma de suas clientes e aquilo foi reconfortante.

Isso se repetiu durante o restante da semana, até mesmo quando Nam nos acompanhou. Não falávamos de coisas pesadas quando estávamos juntas, apenas aproveitávamos a companhia uma da outra e conversávamos de coisas em comum e, supreendentemente, eu e Becky tíhamos inúmeras dessas.

Eu reparei durante a semana também, que os olhares que eu havia reparado de Becky em mim haviam cessado desde sábado. Me perguntava se isso tinha acontecido por conta de eu ter demonstrado que notei, ou se por ela ter me dito sua orientação sexual ou até mesmo por um outro motivo qualquer. Só sabia que hora ou outra eu me pegava pensando nesses olhares, mesmo sem entender o porquê.

Sempre que isso acontecia, eu tentava pensar em outra coisa. Dessa vez, eu foquei no evento que ia participar em algumas horas.

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