POV Becky
Semanas se passaram e Mara pareceu levar a sério as minhas palavras, porque a mídia tinha dado um tempo de falar de Freen e já estava agora no outro assunto do momento. As coisas não estavam exatamente melhores para ela, mas ao menos não estavam piorando.
Eu mantinha a minha rotina semanal de trabalho no meu novo escritório, onde já havia conquistado alguns clientes e revesava entre o apartamento de Nam e Freen. Sendo honesta, a maioria dos dias eu acabava ficando com Freen, pois reparava Li quando era necessário e também porque sabia que minha namorada estava precisando de cuidados e me sentia bem em fornecê-los.
Era horário de almoço e eu havia voltado até o apartamento de Nam para comer com a minha amiga e também pegar algumas coisas, pois pretendia ir ficar com Freen o final de semana e só voltar na segunda-feira.
Nam não se incomodava com o fato de eu quase não passar mais tempo no apartamento que dividiamos, pois ela sabia da situação de Freen e de como era importante o apoio que eu estava oferecendo a minha namorada, não só com Li, mas principalmente emocional. No entanto, era importante para mim tirar um tempo com a minha amiga, pois ela também era essencial para mim e, honestamente, meu ponto de equilíbrio.
"Como estão as coisas com a Freen? Eu liguei para ela no início da semana, mas não tivemos muito tempo para conversar direito," Nam falou na mesa da cozinha, enquanto dividiamos a comida que eu havia levado comigo. Suspirei, pensando em como as coisas não andavam nada fáceis para Freen. "Tão ruim assim?" Nam concluiu da minha reação e eu concordei com a cabeça, mexendo a comida do meu prato de um lado para o outro, sem realmente comer nada.
"A vida profissional dela está caótica faz quase um mês e meio e ela anda sem perspectiva de algo mudar," revelei. "Yha pensou na possibilidade de elas irem para a Filipinas buscar outras oportunidades em um lugar, mas Freen não quer levar Li para longe da família dela."
Eu e Freen havíamos conversado diversas vezes sobre a mudança. Eu sabia que Li não era a única coisa que fazia ela rejeitar a ideia. Freen não queria ficar longe dos seus pais e irmão e eu sabia que eu pesava nessa decisão também. Afinal eu acabara de mudar toda a minha vida para cá e já estava me reestabelecendo. Mudar seria realmente complicado, mas eu faria isso por ela. Ela sabia que eu faria, mas nunca me deixava falar isso. Sempre fugia do assunto quando eu tentava iniciá-lo.
"Ela se preocupa com o seu escritório novo também. Com o fato de você ter que mudar mais uma vez," Nam concluiu sem eu nem mesmo falar nada e a minha reação foi revirar os olhos e me encostar na cadeira de maneira confortável, largando o talher sobre o prato, admitindo que eu não comeria mais nada.
Acabei sorrindo para a minha amiga de maneira orgânica. Era incrível ter alguém que te conhecia tão bem daquela forma. Nam me lia como um livro aberto e no lugar de eu me sentir invadida, eu me sentia conectada. A nossa ligação era linda e eu não poderia demonstrar a minha gratidão por tê-la em minha vida.
"Ela não me deixa ter essa conversa com ela," admiti, deixando transparecer minha frustração para a minha amiga. "Você sabe que deu ruim a minha primeira conversa em mudar minha vida toda para Bangkok, então eu estou tentando não colocar mais estresse nela e deixá-la decidir sozinha. Mas é complicado, porque eu acho que a Yha tem razão."
"Tente ser paciente com ela, Becky. A Freen tem costume de analisar tudo demais, então demora a tomar uma decisão."
Eu e Nam passamos o restante do meu tempo de almoço conversando bastante, não só sobre Freen e Li, mas sobre nossas próprias vidas e carreiras. Era como se estivéssemos nos atualizando uma da vida da outra, ao mesmo tempo que relaxando e aproveitando a companhia. Quando deu a hora de voltar para meu escritório, eu abracei Nam apertado e falei que se ela estivesse livre naquele final de semana, era para marcarmos de fazer algo com Li, pois sabia que a menina adoraria. E assim, com um até logo, nos despedimos.
O restante da tarde de trabalho foi cansativa, pois eu tive que me atualizar em alguns assuntos que eu não tinha tanto contato no meu antigo escritório com as meninas, afinal além de receber casos criminais, agora estava me aventurando em trabalhistas e civis por conta dos contatos que Yha havia me arrumado. Eu não me importava em ter que dedicar mais tempo relembrando de coisas da faculdade e até aprofundando meu conhecimento, afinal eu havia escolhido o direito por paixão e sempre me sentia curiosa em saber um pouco mais. Mas era cansativo, não negaria.
Quando meus olhos ja não estavam mais se comunicando de maneira correta com meu cérebro, e as palavras agora pareciam se misturar a minha frente, decidi que podia encerrar aquele dia.
Já estava quase alcançando o meu carro no estacionamento quando meu celular começou a tocar e vi o nome de Mary na tela, percebi também que havia algumas chamadas não atendidas de Irin, que eu provavelmente perdi por estar concentrada em meus estudos. Meu coração acelerou no peito e senti minhas mãos suarem, logo pensando que o pior podia ter acontecido. Algo com Charlie.
Com as mãos trêmulas, aceitei a ligação de Mary e levei o telefone ao meu ouvido.
"Mary," iniciei.
"Minha filha, que bom que atendeu!" a mulher falou aliviada, o que não ajudou em nada a apaziguar o meu medo.
"Desculpa se perdi alguma ligação sua, eu estava concentrada estudando. Aconteceu alguma coisa?" tentei manter minha voz controlada.
"Sim, mas nada grave. Não se preocupe," ela falou e eu imediatamente soltei o ar que nem sabia que estava prendendo. "Eu só não sabia como deveria reagir. Quando eu não consegui falar com você, eu tentei falar com Irin, mas ela também não sabia me aconselhar..." Mary continuou e agora eu me sentia confusa.
"Como assim? Aconselhar em que sentido?" questionei.
"Várias pessoas estão ligando, minha filha. Eu nem sei como conseguiram meu número. Charlie disse que tá acontecendo também naquele negócio de 'ingrama', ou sei lá o nome desse troço," a mulher falou esasperada e eu acabei rindo baixo. Mary nunca gostou muito de tecnologia e "esses troços sociais", então imaginei que ela se referia ao Instagram.
"Estão ligando para a senhora e mandando mensagens no Instagram para o Charlie, é isso?" tentei decifrar o que ela me dizia.
"É isso. Mas é muita ligação e muita mensagem, minha filha. Eu não sei o que fazer. Eu quero falar bem de você, mas não sei é certo ou se não..."
"Bem de mim?" acabei a interrompendo sem querer, pois não entendi onde eu entrava nessa história.
"Sim. Charlie disse que vazou uma notícia sua e nossa. Ou dele com você, já nem sei direito. Só sei que tá o seu nome e o dele na internet e na televisão aqui de Londres também."
Eu ouvi tudo o que ela falou, mas ao mesmo tempo não consegui compreender. O que diabos eu e Charlie estaríamos fazendo na internet e na televisão de Londres?
"Mas não é coisa ruim não, viu minha filha?" Mary continuou quando eu fiquei calada, acho que preocupada exatamente pelo meu silêncio. "Não falaram nada de mal de vocês dois não, só a verdade mesmo. E a Freen falou tão bonito na entrevista que eu e o Charlie até lagrimamos um pouco."
Aquilo sim me chocou. Freen? Entrevista? O que?
"Calma um pouco, Mary. Que reportagem e de que entrevista a senhora está falando?" perguntei já não aguentando o nó que tinha se formado em minha cabeça.
"Teve uma reportagem na internet com toda a história de Charlie e como você defendeu ele e continua lutando para reparar a injustiça que foi feita com ele," a mulher explicou e a confusão foi se transformando em choque.
"E o que a senhora falou sobre a Freen?" perguntei, engolindo em seco.
"Que ela deu uma entrevista linda falando sobre você e sobre o caso de Charlie. Ela é uma menina de ouro mesmo..." Mary continuou falando, mas eu já não conseguia ouvir mais nada.
Só o que martelava na minha cabeça era: reportagem, Freen, entrevista, caso de Charlie.
Com um "desculpa, Mary, eu posso lhe retornar em alguns minutos?" e sem esperar a mulher responder, eu desliguei a ligação e busquei em meu celular alguma mensagem de Freen ou até mesmo uma ligação perdida que pudesse me explicar o que estava acontecendo, mas não encontrei nada do tipo.
O que diabos Freen tinha feito?
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Whisper
FanfictionFreenBecky Universo Alternativo (AU) Essa fanfic é uma adaptação de uma outra obra de autoria minha. Não é uma conversão, é uma adaptação, ou seja, haverá mudanças. Sinopse: Freen era uma modelo de 27 anos, casada com um ator de sucesso chamado Ki...