84. Real

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POV Freen

Assim que coloquei Li para dormir, não voltei logo para a sala, onde Becky me esperava. Eu queria poder agradecer ela de alguma forma pelo dia incrível que ela havia planejado para mim. A verdade é que tudo parecia um sonho. Becky parecia ser tudo o que eu queria, mas esqueci de pedir. Ela antecipava meus desejos e necessidades e era tão incrível em todos os aspectos. Parecia irreal. Meu coração machucado às vezes se via temeroso em acreditar que ele podia ser tão feliz assim. Vozes sussurravam no fundo da minha mente que nada era pra sempre, mas eu tentava ignorar. Becky havia dito que aquele era meu dia, nosso dia, e como fazia tempo que eu não me sentia tão feliz, eu aproveitaria o máximo dele.

Fui até meu quarto e lhe escrevi uma carta. Me senti como uma tola na maior parte do tempo, mas era muito mais fácil declamar meus sentimentos em palavras escritas. Eu tinha medo de começar a falar o que eu sentia e tudo ficasse preso na garganta. Em rabiscos no papel, talvez ela conseguisse entender como ela transformou um dia que sempre me lembrou de como meu casamento tinha falhado miseravelmente, em um dia de alegria e que eu nunca esqueceria.

Dobrei o papel com delicadeza e busquei algo para que pudesse colocá-lo dentro. Por costume adquirido da minha mãe, eu sempre guardava envelopes e embalagens de presentes que ganhava, para quando necessário. Então encontrei um envelope vermelho e deslizei minha carta ali dentro. Escrevi sobre o envelope o nome de Becky e terminei com os dizeres:

"Com todo o meu amor,
Freen."

Atravessei o corredor em passos leves e coloquei o envelope dentro da bolsa de Becky, que estava sobre a cama do quarto de hóspedes. Queria que ela lesse quando estivesse a sós.

Voltei para a sala e a encontrei sentada no sofá, mais uma vez cochilando. Ri baixo, achando ainda mais fofo, agora que sabia que ela estava cansada por ter organizado aquela linda surpresa para mim.

Tirei o controle da tv que estava em suas mãos gentilmente e me sentei ao seu lado. A levaria para cama em alguns minutos, mas queria aproveitar o final daquele dia com ela. Me confortei na delicadeza de uma rotina doméstica, que fazia meu coração bater tranquilo.

Quando a chamei para a cama, ela foi de maneira preguiçosa, mas ainda me encheu de mimos e beijos antes de finalmente dormirmos. Um final maravilhoso para um dia incrível.

A semana passou lenta. Eu não tive muito tempo de falar com Becky, mas eu sentia, e não era de hoje, que ela tinha algo para me dizer, mas não conseguia. Durante aquela semana que pouco nos falamos, isso ficou ainda mais claro. Eu queria que ela tivesse o tempo dela, mas confesso que estava ficando angustiada e algumas das minhas inseguranças estavam ficando a flor da pele.

Ela não havia falado nada sobre a carta que eu havia deixado em sua bolsa também. Eu havia pedido para ela apenas guardar minhas palavras, então podia ser isso. As minhas inseguranças me travavam de perguntar o que ela havia achado.

Sexta-feira chegou e havíamos marcado de Becky vir janta comigo a sós antes de irmos a um show de Nam. A nossa amiga cantaria em um evento pequeno e havia nos convidado para acompanhá-la. Felizmente nessa noite eu não tinha compromisso, então eu e Becky aceitamos.

Eu esperava minha namorada chegar enquanto dava os retoques finais na minha maquiagem. Estava louca para matar a saudade que aquela semana corrida havia instalado em mim.

Eu havia pedido uma comida em um dos meus restaurantes favoritos, o qual um dia eu queria muito levar Becky pessoalmente. Às vezes pensava nisso, em como eu queria poder fazer mais coisas fora do apartamento com ela. Como queria andar a cavalo, ir a praia, ter jantares românticos em restaurantes... Mas ao mesmo tempo sabia da dificuldade que qualquer uma dessas coisas me traria. Eu não poderia tocá-la em público. Ou beijá-la. Afinal eu ainda era casada e minha vida profissional andava em uma corda bamba nos últimos tempos.

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