9. Primeiros passos

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Nam e Becky passaram o resto do dia se atualizando uma da vida da outra. Nam observou a amiga de perto, porque apesar de Becky aparentar estar bem, a cantora sabia que a amiga ainda estava passando por coisas difíceis internamente. De vez em quando a advogada se perdia em seus próprios pensamentos e sua face era tomada por um semblante obscuro, mas era só Nam chamar sua atenção, que ela prontamente colocava um sorriso no rosto. Aquilo preocupava profundamente Nam. Ela queria a amiga bem e decidiu naquele momento que faria de tudo para ajudá-la.

"A Freen acabou de me mandar uma mensagem," Nam disse se sentando ao lado de Becky no sofá.

A advogada já tinha guardado suas coisas no quarto extra e tomado banho, vestindo então roupas confortáveis.

"Ela quer saber se pode vir amanhã de manhã para falar sobre o caso," a cantora olhava para Becky com um sorriso que a advogada julgou "estranho".

"Pode, claro," ela respondeu. "Mas por que esse sorriso?"

"É que eu pensei que ia ter que convencer a Freen a falar com você e ela parece mais que disposta," Nam falou praticamente pulando em sua posição no sofá.

"Eu fico contente, quero poder ajudá-la," Becky respondeu.

"Eu sabia que vocês iam se dar bem, apesar de serem praticamente o aposto de uma da outra," Nam falou se levantando depois de ter respondido positivamente para Freen.

"Como assim?" Becky questionou seguindo a mais baixa para a cozinha. Nam estava tomando vinho, mas Becky preferiu não beber nada. Estava ficando longe de álcool por um tempo.

"Becbec, você veste seus sentimentos na manga da camisa, você sente tudo a flor da pele, não tem medo de deixar mostrar quando está com raiva, quando está triste, quando está feliz. Sei que você anda passando por alguns momentos ruins," Nam falou a última parte com delicadeza e Becky desviou o olhar da amiga. "Mas mesmo assim, quem te conhece ainda consegue ver você como se você fosse transparente..."

"Eu sempre odiei isso," a advogada falou se apoiando na parede contrária a amiga e cruzando os braços sobre seu peito.

"Eu acho incrível!" Nam falou firme com sinceridade. "Você não tem medo de ser você e enxerga sua própria vulnerabilidade em si e nos outros. Você é a pessoa mais empática que eu conheço, Becbec. E isso é sim incrível!"

Aquelas palavras fizeram Becky sorrir. Esse era o "efeito Nam".

"Já a Freen," Nam continuou. "É fechada e se tranca dentro da própria cabeça. Eu nem sei o quanto ela deve ter pensado e repensado antes de me ligar um dia e desabafar. Ela tem um coração enorme também, mas ela ao contrário de você. Quer passar pro mundo que está tudo bem, que nada a abala, mas no fundo ela é cheia de dúvidas e medos como qualquer um," a cantora parecia estar presa em seus pensamentos enquanto falava. Becky apenas observava a amiga. Nam tomou um grande gole de vinho antes de continuar. "Kirk sabe disso," ela olhou para Becky agora. "Sabe e usa isso para amedrontá-la. Como pode alguém dizer amar outra pessoa e usar os seus conhecimentos do mais íntimo da pessoa para lhe fazer mal?"

"O amor é egoísta, Nam," respondeu Becky.

"Todo o amor?" a cantora perguntou cabisbaixa.

"Todos o que eu conheço sim."

POV FREEN

Era sábado e Li não tinha que ir para a escola. Kirk tinha viajado na noite anterior para fazer alguns shows e trabalhar no documentário que ele queria que aparecessemos. Por enquanto eu tinha conseguido fugir dessa idéia dele, mas sabia que não ia conseguir evitar por muito tempo. Por isso mandei mensagem para Nam na noite anterior marcando de falar com Becky hoje.

Antes de conhecer a Inglesa, eu não tinha certeza se daria continuidade àquela idéia,— não que agora eu estivesse certa de alguma coisa, a incerteza ainda me corroía,— mas algo na advogada me fez ganhar certa confiança, o suficiente para ver quais seriam os primeiros passos.

Nam havia me ligado na noite anterior e passado o telefone para Becky, que então me instruiu de quais documentos precisaria. Separei todos em uma pasta naquela mesma noite antes de deitar. Mais uma vez não dormi bem, com a cabeça cheia de preocupações. Acabei dormindo por apenas 2h no máximo e aquilo mostrava em meu rosto.

Tentei esconder o cansaço com maquiagem. Vesti uma roupa casual, afinal havia dito para Li que íamos visitar a tia Nam e uma amiga nova. Vesti Li em um vestidinho leve e deixei seus cabelos soltos.

Li estava animada. Ela era super apegada a Nam e amava quanto passávamos tempo com a minha amiga.

"Eu posso fazer um bolo com a tia Nam?" Li perguntou entusiasmada enquanto eu penteava seus cabelos.

"Tia Nam não sabe fazer bolo, filha," falei rindo levemente. Nam era um desastre na cozinha.

"Mas a senhora sabe!" ela respondeu imediatamente.

"Sim, mas já disse que vou estar ocupada conversando com a amiga da tia Nam enquanto vocês se divertem," respondi. Esse era o plano. Nam distrairia Li, enquanto eu conversava com Becky.

"Mas e depois?" perguntou fazendo biquinho.

"Ok, depois a gente faz um bolo juntas, certo?" falei deixando um beijo no topo da sua cabeça ao terminar de pentear seus cabelos. "Agora vem que elas estão esperando a gente!"

Me levantei da minha cama onde estava sentada e fui pegar minha bolsa, a pasta e mais uma mochila com as coisas de Li que havia arrumado. Coloquei tudo apoiado em um braço e estendi o outro para Li que prontamente se agarrou na minha mão.

"Mal posso esperar!" falou empolgada. Não sei de pela Nam ou pelo bolo.

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