43. Completa

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Com sorrisos tímidos se afastaram e decidiram que deveriam voltar, afinal ali não era o melhor lugar para explorarem aqueles sentimentos.

"Será que alguém viu a gente?" Freen olhou ao seu redor, preocupada.

"Não, estamos no estacionamento e está vazio nessa parte," Becky disse, se sentindo um pouco triste com a nova reação da mulher.

Como se percebesse o que havia causado, Freen prontamente levou suas mãos até o rosto de Becky, fazendo a mulher encará-la.

"Eu amei o beijo, Becky," falou, buscando os os olhos da outra para passar sua verdade. "E quero muitos outros sim," sorrisos bobos surgiram nos lábios das duas, "eu só me preocupei porque Kirk estava aqui e tudo já está tão complicado e..."

Becky não deixou que ela terminasse.

"Ei, você tá certa. Desculpa. Eu nem havia pensado nisso," falou.

"Não tem problema," Freen disse. Olhou rapidamente ao redor para garantir que ainda estavam a sós, e então roubou um selinho rápido da advogada.

Não é preciso nem dizer que Becky foi o restante da viagem até o apartamento, com o maior sorriso bobo estampado no rosto.

POV Freen

Fomos a viagem inteira até o prédio de Nam em um silêncio confortável. Assim que entramos na construção, eu me peguei me perguntando como agiríamos dali em diante. Não queria que Becky achasse que eu a estava escondendo, mas precisávamos conversar antes de qualquer coisa. Fiquei ansiosa.

Só estávamos eu e Becky na recepção esperando o elevador e eu me vi inquieta. Queria começar aquele assunto, mas não sabia qual a melhor maneira. Como se percebendo meu desconforto, assim que entramos no elevador e as portas se fecharem, Becky me empurrou delicadamente sobre a parede do mesmo. Fiquei estática. Suas mãos seguraram minha cintura e ela me sorria, leve. Linda.

A conversa que eu queria ter, de repente foi pro fundo da minha mente, e tudo o que eu pensava era naquele momento.

Levei minhas mãos até seu rosto, tirando alguns fios de cabelo que atrapalhavam a minha visão de seus olhos castanhos brilhantes. Era incrível a sensação de saber que aquele olhar era para mim.

"O que você está pensando?" ela perguntou, baixo, como se para não perturbar o momento.

"Que eu adoro o jeito que você me olha," respondi sem hesitar. De maneira instantânea, seu sorriso alargou. "E você?" perguntei enlaçando meus braços sobre seus ombros, ao redor de seu pescoço.

"Que eu não acredito que você está nos meus braços agora," ela riu, tímida e contente.

"Demorou?" perguntei, aproximando meu rosto do seu e acariciando seu nariz com a ponta do meu. Eu gostava de fazer isso. O cheiro dela era incrível e os gesto me fazia sentir perto dela.

"Muito," ela disse antes de tomar minha boca em um beijo.

Foi um beijo calmo e rápido, mas ainda assim intenso. Tudo seria assim com essa mulher?

Sem vontade, nos afastamos, afinal não podíamos continuar brincando com a nossa sorte. Mas sentindo falta do contato com Becky, eu busquei sua mão e segurei na minha o restante do curto percurso.

Estávamos completamente sozinhas dentro daquela caixa de metal e, ainda assim, me senti livre como há muito não sentia.

Quando finalmente entramos no apartamento, encontramos Nam e Li rindo na sala como duas crianças. Meu coração aqueceu com a cena.

"Mamãe!" Li veio em minha direção assim que me viu e eu me abaixei para abraçá-la.

"Oi, bebê!"

Assim que ela se soltou de mim, virou instantâneamente para Becky e abriu seus braços. A advogada riu e se abaixou, assim como eu havia feito, para abraçar minha filha.

"E aí, mini Freen?" ela disse finalizando o abraço com um beijo no topo da cabeça.

"Eu e tia Nam estamos construindo um quebra-cabeça," Li disse animada.

Sem nem nos dar tempo de reagir, Li pegou minha mão e a de Becky e nos puxou até onde Nam estava na sala. A acompanhamos em meio a risada, porque sua animação era nada menos que contagiante.

"Calma, bebê," falei.

"Vocês tem que ajudar a gente!" Li disse, se escorando sobre a mesa de centro, onde um quebra-cabeça das princesas da Disney estava semi-montado.

"Que lindo," falou Becky se sentado no chão, ao lado de Nam e Li. "É seu?"

"Sim, tia Nam me deu. São as princesas!"

"Tem a minha princesa favorita e salvadora Mulan?" Becky continuou a conversa.

Eu me sentei ao lado de Nam, no chão também, e cumprimentei minha amiga com um abraço.

"Obrigada por cuidar dela e pelo presente também," agradeci.

"Você sabe que eu amo ficar com ela e essa manhã foi ótima. Não precisa agradecer," ela me disse.

Ficamos então caladas, apenas observando a interação das duas outras. Era incrível como Becky tinha jeito com crianças, ou ao menos, tinha muito jeito com Li.

"A minha favorita é a Ariel," ouvi Li dizer. Provavelmente respondendo a pergunta da Becky.

"Eu queria saber nadar como ela," a mulher falou, encaixando uma peça no lugar certo.

"Mas você não é metade peixe, Becky," minha filha respondeu, tentando encaixar uma peça que claramente estava no lugar errado.

"Por quê você não tenta com essa?" Becky disse, dando a peça que realmente encaixava onde Li estava tentando completar.

"Obrigada," ela respondeu.

"De nada. E sobre nadar, eu não nado tão bem, mas tudo bem, eu sou boa em outras coisas..."

"Que coisas?" Li perguntou.

"Eu como. Eu sei comer muito bem," Becky falou seriamente e aquilo fez minha filha encará-la e depois soltar uma risada alta.

"Eu sei comer muito bem também," foi sua resposta.

Eu estava olhando para aquela cena, encantada. Percebi um movimento ao meu lado e me virei em direção a Nam, que tinha um olhar curioso sobre mim. Tentei disfarçar minha timidez, mas acho que acabei me entregando mais ainda.

"É bom te ver sorrindo assim," foi só o que ela disse, antes de voltar sua atenção para a dupla dinâmica.

Naquele momento, apesar do turbilhão que estava a minha vida, no meu peito eu sentia gratidão. Pela filha que tinha, pela amiga que a vida havia me concedido e pela mulher que se encontrava ao meu lado. Não sabia exatamente o que tinha feito para atrair os olhares, o interesse e a cumplicidade de uma mulher como Becky, mas seja lá o que quer que fosse, a única certeza que tinha era que eu queria continuar fazendo. Os meus olhares não estavam apenas nas coisas que ela fazia, estavam nela. Toda. Inteira. Desde o coque despretensioso e bagunçado até o seu senso de justiça e cabeça avoada.

Eu não sei o que o futuro reservava para mim, mas naquele momento, me senti contente. Completa.

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