POV Becky
A felicidade que se montou no rosto de Charlie e Mary quando eu dei a notícia que agora ele estaria em regime domiciliar foi algo que eu não esperava. Eu sabia, é claro, que eles ficariam felizes, mas foi como ver uma chama se acender nos olhos do menino. Esperança é algo mesmo lindo de se ver.
Passamos a tarde conversando sobre o que o futuro reservava a ele e expliquei que havia entrado com um processo contra o estado para buscar as indenizações que ele merecia. O estado era responsável pelo bem estar dele, e como havia falhado, ia ter que pagar. E que mesmo que a burocracia tentasse atrasar aquilo, eu tinha certeza que o nosso caso era sólido o suficiente para conseguirmos.
Depois de falar sobre assuntos mais formais, entramos em uma conversa familiar e tranquila. Charlie, como sempre curioso, perguntava sobre Bangkok, dizendo que sempre quis sair da Inglaterra. O meu coração se apertava um pouco naquelas horas, mesmo que ele falasse como quem espera por um futuro, não como quem já desistiu.
Observá-lo imóvel na cama, enquanto falava seus planos e desejos com brilho nos olhos e esperança no tom de voz, me dava uma lição de força. Aquele era um menino que não seria parado por suas limitações. Eu só pedi a Deus que elas não fossem tantas.
Fazia cinco dias desde que Freen havia voltado para Bangkok e eu estava resolvendo apenas algumas coisas em relação a Charlie antes de voltar também. Eu precisava assegurar que a casa dele estaria pronta para receber alguém com suas limitações, assim como garantir que seu tratamento continuaria da melhor maneira possível. Era obrigação do estado arcar com aquelas despesas e eu faria questão disso.
Cheguei em casa cansada e nem me preocupei em comer nada — torci em silêncio para que Freen não tivesse um sonho maluco e sensitivo e adivinhasse que eu estava pulado uma refeição — e fui diretamente para o banho.
Assim que terminei minha rotina noturna, me deitei na cama e fui checar meu celular pessoal, apenas para encontrar três chamadas de vídeo não atendidas de Freen. Preocupada, liguei imediatamente.
"Aconteceu alguma coisa, amor?" já fui falando quando a ligação foi atendida, mas acabei me cortando na última palavra, pois o rosto que aparecia na minha tela não era o da minha namorada. Era o da sua versão em miniatura. "Oi, baixinha. Que você está aprontando com o celular da sua mãe?" falei rindo, quando vi que Freen aparentemente não estava com ela.
"Ela tá tomando banho e eu queria falar com você de novo," Li falou, sorrindo de maneira sapeca.
"E como me achou?" perguntei.
"Tem sua foto, né Becky?" a menina disse rindo, me fazendo rir da minha bobice também. "Quando você volta?" Li perguntou, se ajeitando em frente a câmera e eu pude ver que ela estava no quarto de Freen, deitada na cama.
"Em alguns dias, bebê. Tô com saudades de você," falei. E eu realmente estava.
Às vezes eu me pegava amedrontada com o tanto que eu estava apegada a Li e Freen. Parte de mim tinha sempre medo de tudo ser um sonho, ou algo passageiro. Mesmo que conscientemente eu soubesse que isso eram apenas as minhas inseguranças falando.
"Você tem que vir logo, ganhei da vovó um quebra-cabeças novos e você vai amar porque é da sua favorita Mulan," Li falou animadamente e eu sorri para a menina, aproveitando a sua empolgação para relaxar na minha cama.
"Com quem você está falando, filha?" ouvi de longe a voz de Freen e a cara que Li fez foi impagável. Cara de quem tinha sido pega com a mão na botija.
"Com a BecBec," ela falou ainda suportando a mesma feição, só que agora encarando além da tela.
"Li, eu já disse que você não deve mexer nas coisas dos outros sem permissão," Freen falou em um tom de repreensão e eu me forcei a tirar meu sorriso do rosto. Apesar de achar a cena fofa, não queria parecer que não estava do lado da Freen nessa bronca.
"Desculpa, mamãe," a menina respondeu, fazendo aquela carinha que me derretia todas as vezes. Freen era vacinada, no entanto. Ou ao menos se forçava a ser.
"Dessa vez passa, mas promete que não faz mais," ela disse.
"Prometo," Li respondeu imediatamente, balançando a cabeça em confirmação.
Apesar de Freen ser bastante aberta e carinhosa, ela era firme em certos aspectos e isso era perceptível nos bons modos da menina. Claro que às vezes ela tinha seus momentos de mal criação, como toda criança, mas na maior parte do tempo, era uma criança muito obediente e tranquila.
"Posso continuar falando com ela?" Li perguntou e eu só fiquei em silêncio, ouvindo toda a interação e não me metendo.
"Só para desejar boa noite," Freen respondeu, fazendo o bico voltar aos lábios de Li e ela finalmente voltar a me encarar na tela.
"Boa noite, BecBec," ela disse em sua voz triste e juro que meu coração apertou um pouquinho.
"Boa noite, mini Freen. Amanhã eu ligo mais cedo pra gente conversar bastante, tá?" prometi, tentando fazer ela ficar mais felizinha.
"Ta bom, mas volta logo," ela finalizou e antes mesmo que eu pudesse responder, a tela ficou preta, mas a ligação ainda estava ativa. Eu ri baixo. Ela simplesmente deve ter deixado o celular na cama.
Eu ouvi alguns passos e imaginei que Freen tenha ido colocar Li para dormir. Pensei se deveria desligar, mas acabei me distraindo com os poucos sons que ainda conseguia ouvir do outro lado da linha e me imaginei ali. Não estava apenas com saudade das minhas interações com Li ou da presença física de Freen, eu sentia falta do sentimento de pertencimento que eu tinha naquela minha nova vida que havia criado em Bangkok. Era estranho demais pensar assim, mas a vida em Bangkok era onde eu me via no futuro.
Acabei me distraindo em meus próprios pensamentos, que me assustei quando ouvi a voz de Freen me chamar, assustada, e seu rosto aparecer na tela do meu celular.
"Ei, amor. Desculpa, a Li não desligou e eu acabei não desligando também," falei rapidamente.
Freen me olhava sorrindo do outro lado da linha, com seus cabelos presos no topo da cabeça e seu rosto branco por algum tipo de creme.
"Não era o jeito que eu queria que você me visse, mas está tudo certo," ela disse rindo enquanto se movimentava pelo quarto.
"Como se tivesse algum jeito de eu achar você feia, Freen," respondi, revirando os olhos.
Ela posicionou o celular de modo que eu pudesse observá-la, imagino que algum tipo de suporte, e continuou a fazer o que provavelmente estava fazendo quando descobriu que Li estava mexendo em seu celular.
"Eu vou acreditar nas suas palavras e vou conversar com você durante meu skin care," ela disse, me lançando um sorriso aberto que me fez sorrir também.
"To com saudades," falei enquanto a observava passar produtos no rosto.
"Eu também, meu amor. Você volta quando?"
"Provavelmente em alguns dias," respondi. "Mas ei," chamei para que ela me encarasse. "Quando eu voltar, a gente tem que conversar..."
Notas da autora:
Bom dia, bebês!
twitter: bbiza13
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Whisper
FanficFreenBecky Universo Alternativo (AU) Essa fanfic é uma adaptação de uma outra obra de autoria minha. Não é uma conversão, é uma adaptação, ou seja, haverá mudanças. Sinopse: Freen era uma modelo de 27 anos, casada com um ator de sucesso chamado Ki...