44. Vergonha

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Passaram mais um tempo entre brincadeiras, até que deu a hora de Freen voltar para a casa.

"Antes de você ir, eu preciso te mostrar umas coisas," Becky falou quando Freen já estava em pé, terminando de guardar as coisas de Li em sua mochila.

A tailandesa concordou distraidamente, mas Nam observou a londrina com astúcia. Sabia muito bem o que Becky queria mostrar a Freen.

Assim que terminou de organizar as coisas, foi em direção a Becky, que a esperava escorada no balcão da cozinha.

"É um documento que eu precise que você assine, vem comigo?" a advogada pediu e Freen concordou. Não sabia o que deveria assinar, mas imaginou que fosse algo sobre o divórcio.

Foi um esforço para Nam segurar a risada.

Entraram no quarto que a advogada ocupava naquele apartamento e enquanto Becky fechava a porta, Freen deu um passo em direção a mesa, onde provavelmente estava o tal documento. Antes que ela pudesse ir muito longe, no entanto, a advogada a puxou levemente.

Freen virou sem entender, mas não teve muito tempo para pensar, pois logo os lábios de Becky já estavam nos seus. A modelo sorriu em meio ao beijo, finalmente entendendo tudo.

"Documento, huh?" Freen falou brincando.

Becky se afastou e exibia um sorriso satisfeito.

"Era um documento muito importante," falou mordendo o lábio inferior.

Freen observou o gesto e, concordando com a cabeça sem saber com o que, puxou Becky pela blusa novamente. Assinar um documento demorava mais tempo sim.

Ficaram mais alguns momentos em meio a beijos e carinhos, mas se separaram quando acharam que estavam exagerando o tempo da desculpa furada da advogada.

Ainda com as mãos de Becky em sua cintura e enquanto acariciava a nuca da mulher com suas unhas, Freen decidiu que precisava perguntar.

"Falamos sobre o que isso significa depois?"

"Por mensagem ou você quer marcar um momento?" Becky perguntou.

"Acho melhor cara a cara. Segunda na hora do café?"

"Segunda na hora do café," Becky concordou, partindo pro último beijo rápido.

Se separaram enfim, e Freen limpou rapidamente o rastro de seu batom que ficara no rosto de Becky antes das duas saíram do quarto portando suas caras mais inocentes.

Nam fingiu que nem havia tirado o olho da televisão, mas sabia muito bem o que estava acontecendo. Aquelas duas podiam enganar qualquer um menos ela.

Freen e Li se despediram das duas mulheres e foram de volta para a casa da mãe da modelo. No caminho, dentro do carro, Li surpreendeu Freen com um comentário.

"Um adulto pode ser melhor amigo de uma criança?" a menina perguntou de sua cadeira no banco traseiro.

Arqueando as sobrancelhas e encarando a filha rapidamente via retrovisor, Freen respondeu positivamente.

"Por quê a pergunta, bebê?" quis saber.

"Acho que a Becky é a minha," foi a resposta simples.

Freen ficou sem palavras por um instante, mas limpou sua garganta e se recompôs rapidamente. Antes que pudesse falar qualquer coisa, no entanto, a menina continuou.

"Ela brinca comigo, me faz rir e a gente gosta de ver filmes de princesa," falou olhando para a janela do carro. "Ah, e ela conta as melhores histórias!" completou empolgada, agora olhando para Freen.

"E a tia Nam e eu?" Freen estava curiosa sobre a perspectiva de Li no que Becky representava em sua vida.

"Você é minha mãe e Nam é minha tia, ué," foi a resposta.

Freen não pôde discutir com aquela lógica.

O final de semana passou tranquilamente. Freen trabalhou bastante, enquanto Nam obrigou Becky a relaxar e conhecer mais lugares da cidade.

A segunda-feira logo veio e assim que passou o horário do almoço — o qual Becky utilizou para comer uma comida saudável, como estava tentando fazer nas últimas semanas —, a advogada se viu olhando para o relógio. Sim, estava ansiosa e não negaria.

Apesar de terem passado o final de semana trocando mensagens, Becky sentiu a falta de Freen naqueles dias. Era o começo de algo que a londrina nunca imaginou que aconteceria e ela estava sim animada. A conversa que teriam lhe despertava um pouco de ansiedade também, mas nada que lhe consumisse. Estava disposta a levar aquilo o mais lento possível. Sabia que as duas tinham que ser extremamente responsáveis naquela relação e queria ser aquilo para Freen.

A sorte estava ao favor de Becky e sua tarde foi inteiramente ocupada por trabalho.

Era um pouco mais de 16h quando alguém bateu na porta e o sorriso de Becky foi instantâneo. Fechou seu notebook, deixou o celular sobre a mesa e foi até a porta.

Freen estava do outro lado da mesma com um sorriso tão grande quanto o de Becky no rosto. Ela cumprimentou a advogada com um beijo no rosto e um abraço.

"Ei, Becky," falou.

"Oi, Freen," respondeu Becky.

A londrina deu espaço e Freen entrou no apartamento, como sempre, com uma sacola em mãos.

" O que trouxe aí?" Becky perguntou, curiosa.

"Passei em uma padaria que gosto muito e trouxe umas coisas para comermos junto com o café," Freen respondeu indo até o balcão.

A advogada nem mesmo disfarçou seu olhar sobre o corpo da modelo. Agora que podia olhar para a mulher sem medo, se permitiria. Freen estava linda em uma blusa branca leve e solta e jeans que emolduravam todas as suas curvas perfeitamente. Linda.

"Acabou a vergonha, foi?" Freen perguntou divertida, quando percebeu o olhar de Becky "secando" o seu corpo.

Finalmente voltando a encarar o rosto da tailandesa, Becky tinha um sorriso sacana nós lábios.

"Freen, com você eu perdia não só a vergonha," a advogada falou.

A modelo riu alto da cara de pau da outra.

"Vem aqui me dar um beijo de 'oi' direito, então."

Becky, como a boa cadelinha que era, não pensou duas vezes antes de obedecer.

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