72. Real

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POV Freen

Segurei Becky em meus braços enquanto ela exalava todos aqueles sentimentos contidos atravéz de um choro silencioso contra o meu pescoço. A cada palavra que ela falava, eu me via mais encantada pela essência daquela mulher. Becky me passava uma força e uma segurança indescritível e, mesmo eu sabendo de suas atribulações internas, ela sempre foi um ponto de apoio. Nesse momento, vendo ela falando sobre as suas inseguranças e sobre sua vida de maneira tão aberta, exposta, sensível, eu me senti ainda mais próxima a ela. Íntima.

A complexidade que ela temia me assustar, a tornou tão real e valente aos meus olhos. Minha mãe sempre disse que o amor é o manifesto mais puro e bonito da admiração. E meu Deus, como eu admirava essa mulher.

Quando ela se acalmou, ela continuou deitada em meu colo recebendo minhas carícias. Eu queria passar para ela tudo o que eu estava sentindo naquele momento. Mas era tanto. Era tão forte, que eu tinha medo até de assustá-la.

"Obrigada por me ouvir," ela disse de repente, me tirando dos meus pensamentos.

Sorri com suas palavras e levei minha mão direita até seu cabelo, o retirando gentilmente do seu rosto.

"Obrigada por compartilhar tudo isso comigo," respondi.

Ela se afastou de mim, mantendo no lugar a minha mão — que ainda estava no seu rosto — com uma das suas mãos.

"Eu precisava que você me visse inteira," confessou olhando para baixo.

Não deixei que ela desviasse o olhar de mim e levantei seu rosto levemente.

"Eu sei que você achou que eu podia me assustar, mas Becky, eu quero qu saiba que eu só consigo me sentir sortuda. Eu admiro muito a mulher que você é," falei aproximando nossos rostos. "E eu amo cada pedacinho de você," finalizei beijando sua boca.

Ela reagiu imediatamente, me puxando para intensificar o beijo. Eu soltei uma risada com nossas bocas coladas por conta da sua intensidade e reação.

Estávamos tão imersas no beijo, nossas mãos nos lugares habituais — as minhas em seus cabelos e as dela acariciando minha cintura por debaixo da blusa — que nem estávamos reparando nas coisas ao nosso redor. Fomos espantadas, no entanto, com um grito agudo que fez a gente se separar rapidamente.

"Meu casal!" Nam gritou.

Eu fiquei imediatamente sem graça, já Becky olhava para a nossa amiga com cara feia.

"Precisava desse escândalo, Nam?" Becky disse, brava.

"Primeira vez que vejo meu OTP se beijando, claro que precisava!" Nam respondeu rindo e ignorando o mau humor da minha namorada.

Levei minha mão até o braço de Becky e percorri ele algumas vezes, tentando acalmá-la. Ela me olhou sorrindo.

Conversamos mais um pouco, mas eu tinha que ir buscar Li, então não fiquei muito tempo. Apenas tempo o suficiente para marcarmos de fazer alguma coisa as quatro juntas no próximo dia, que felizmente, era um feriado e Li não teria aula. Eu já tinha programado de tirar um dia de folga e Nam e Becky disseram que fariam o mesmo. Não planejamos nada extravagante, apenas um dia no meu novo apartamento curtindo a companhia uma das outras.

Beijei Becky rapidamente nos lábios antes de ir e Nam comemorou mais uma vez. Eu achava fofo a animação da nossa amiga e como Becky ficava irritada com as interrupções.

Acordei animada no outro dia. Eu gostava da normalidade que aquele dia traria para Li e para mim também. Passar o dia com três das minhas pessoas favoritas no mundo não seria nada mal.

Becky havia me mandado mensagem dizendo que elas já estavam vindo, mas que parariam no mercado antes, pois de acordo com ela, a minha dispensa "estava uma vergonha". Eu ri alto do exagero dela e respondi para ela não demorar que eu estava com saudades. Sim, eu estava rendida.

Acordei Li e fiz um café da manhã rápido para nós duas. Depois disso, sentamos de pijama mesmo na sala para ver desenhos e esperar as duas outras. Eu não havia contado nada para Li, porque queria fazer surpresa.

Eu já havia deixado avisado na portaria da chegada das duas, então não me espantei quando a campainha tocou alguns minutos depois. Eu sabia que era Becky pela mensagem no celular, então avisei que ela podiam entrar pois a porta estava aberta. Eu queria ver a reação da minha filha.

"Bom dia, amores da Nam!" Nam disse entrando no apartamento, fazendo Li tirar os olhos da televisão.

"Tia Nam!" ela gritou, correndo em direção a porta e me fazendo sorrir com sua alegria contagiante.

Antes que chegasse em Nam, no entanto, Li viu Becky.

"Becky!" ela gritou, deixando minha amiga com os braços abertos a sua espera e indo de encontro ao corpo de Becky, que quase derrubou as coisas na sua mão pois não esperava o "ataque".

"Ei, mini Freen," Becky disse deixando as coisas no chão e se abaixando para abraçar Li.

Nam tinha uma cara de arrasada quando eu me aproximei dela e abracei de lado.

"Perdi minha bebê," minha amiga disse, me fazendo rir. Becky mandou língua para Nam no meio do abraço, como que contando vantagem.

Depois que Li terminou o abraço em Becky, ela abraçou Nam com o mesmo entusiasmo e isso apaziguou a minha amiga, que parecia realmente chateada em aparentemente não ser mais a favorita.

Aproveitei do momento para dar um abração apertado em Becky e deixar um beijo em seu pescoço.

"Melhor bom dia do mundo," ela disse em meus braços.

Depois que os cumprimentos foram feitos, guardamos as coisas que as meninas compraram. Li puxou Becky para ver desenhos assim que pôde, deixando eu e Nam sozinhas na cozinha.

"Você está tão mais feliz desde que a Becky voltou," Nam comentou do nada. " A Becky também não está como eu achei que ela voltaria..."

"A gente se faz bem, Nam. Ela voltou e parece que minha vida voltou aos eixos," falei com sinceridade.

"Ela disse que conversou com você ontem," Nam disse, me fazendo encará-la. "Sobre os pais e tudo," o olhar de Nam era sério, porém calmo. Por conhecê-la a anos, eu conseguia ver o alívio por trás de suas palavras. "Ela nunca contou isso para mais ninguém, sabia?"

Meus olhos foram até Becky na sala. Eu não sabia daquilo, mas a informação me encheu o peito. Ela havia confiado algo muito importante a mim e eu queria fazer jus a isso.

"Eu acho que nunca fui tão feliz. Isso é louco de se dizer?" perguntei.

"Louco, não, amiga. É lindo," Nam me respondeu com um sorriso sincero.

Eu retribuí o sorriso e decidimos que era hora de irmos nos juntar as duas no sofá.

"E então, qual a programação do dia?" Nam perguntou quando já estávamos todas na sala.

"Por mim a gente faz o que a mini Freen escolher," Becky disse, cutucando a barriga de Li de leve, fazendo minha filha rir.

"Filmes, lasanha, pintura e quebra-cabeça!" Li falou rapidamente assim que se recuperou das risadas.

"Uau, esse dia parece incrível!" Nam respondeu.

"Dia de família!" Li falou animadamente, fazendo nós três nos encararmos.

Nam sorria feito tia boba, eu me emocionei igual uma mãe coruja e Becky tinha um sorriso radiante. Dia de família. E que família.

Notas da autora:

Minha família favorita.

twitter: bbiza13

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