Whisper

24. Crise

Freen acordou mais cedo que o normal e entrou no quarto que dividia com o marido apenas para se arrumar para o dia. Quando já estava pronta, acordou Li e a ajudou a se arrumar para a escola. Estavam tomando café na mesa da cozinha, quando Kirk apareceu também pronto para o dia.

"Bom dia, família," ele disse com um sorriso no rosto, como se nada tivesse acontecido. Freen fechou a cara, mas não disse nada. Nunca causaria nenhuma cena em frente de Li.

"Bom dia, pai," disse a menina feliz tomando seu achocolatado.

"Pronta para a escolinha?" ele perguntou se servindo de café e Freen o encarou com desconfiança. Aquele não era o jeito de Kirk. Nem mesmo depois de uma briga como a do dia anterior.

"Sim, papai. Hoje vamos falar dos animais do mar," Li respondeu com uma animação tão grande que até a cara fechada de Freen se abriu em um sorriso. Era impossível não se contagiar pela alegria de uma criança. "Eu quero saber mais sobre as tatarugas," ela continuou. A dificuldade em falar "tartarugas" fez a mulher rir.

"Não sabia que você gostava de tartarugas, bebê," Freen respondeu.

"Eu amo, mamãe. Tia Nam e eu vimos no Nemo," a menina respondeu e Freen finalmente conseguiu entender de onde vinha o interesse.

Freen ia perguntar alguma coisa a sua filha, quando um telefone começou a tocar alto na mesa e claro que o telefone era de Kirk.

"Preciso atender," disse ele se levantando da mesa e indo para outro cômodo atender a ligação. Freen se controlou para não revirar os olhos. E o momento pai do ano tinha chego ao fim.

Ela virou para a filha, e decidiu que não ia deixar aquilo lhe abalar.

"Fala mais sobre os animais do mar que você quer conhecer, filha," pediu se acomodando em sua cadeira, pronta para tomar um café da manhã agradável, ouvindo a filha falar sobre todos os personagens de Procurando Nemo.

POV Becky

Acordei na manhã daquela segunda-feira me sentindo angustiada. Algo apertava no meu peito e eu sentia a ansiedade se formando na minha cabeça. Era como se algo ruim fosse acontecer.

Tomei um banho longo para tentar relaxar e quem sabe me livrar daquela sensação ruim, mas não adiantou. Tomei café sozinha aquele dia, pois Nam tinha reunião cedo, e fui trabalhar achando que seria a melhor forma de deixar de lado aquele sentimento estranho. Ao pegar um dos meus celulares de trabalho para checar as mensagens, me deparei com diversas de Irin e me apressei para ouvir os áudios que encontrei.

Meu coração praticamente parou quando ouvi minha amiga dizer que Charlie estava no hospital, pois havia apanhado na prisão. De repente, foi como se tudo o que tinha sentido aquela manhã fizesse sentido. Não pensei duas vezes antes de ligar para Irin.

"O que aconteceu?" falei antes mesmo de ela ter chance de dizer "alô". "Ele tá bem?" havia desespero na minha voz. Ele tinha que estar bem.

"Ele está bem, Becky, calma. Foi atendido pelos médicos na madrugada e assim que eu soube, eu vim acompanhar ele para ver se estavam tratando ele da forma certa," minha amiga respondeu e eu respirei aliviada. Eu sabia que tinha escolhido a pessoa certa para cuidar do caso de Charlie enquanto eu estava fora. Não eram muitos dos meus colegas de profissão que se dariam a esse trabalho, mas eu sabia que Irin sim.

"Obrigada, Irin," falei. "Você entrou em contato com a mãe dele?" perguntei finalmente pensando em como estaria Mary e voltando a me preocupar.

"Falei sim. Ela veio aqui, mas eles não a deixaram vê-lo, mesmo eu tentando de tudo. Quem sabe quando ele for para a enfermaria eu tenha mais sorte," ela disse parecendo distraída. "Desculpa, Becky, eu preciso ir. Eles já vão transferir ele. Assim que der, eu te ligo com mais informações."

"Tá bom, amiga. Obrigada!" ela me respondeu rapidamente que não tinha porquê agradecer e desligou.

Parei e encarei o aparelho em minhas mãos sentindo um frio percorrer meu corpo e um sentimento de impotência se instalar mais uma vez em meu peito. Era minha culpa que aquilo estava acontecendo e eu estava há sei quantos mil quilômetros de distância e não podia fazer nada.

Minha respiração de repente ficou pesada e lágrimas se formaram em meus olhos. Apertei com força a cadeira que agarrava com as minhas duas mãos. Ouvi de longe o som de toque de celular, mas estava desfocada demais da realidade para conseguir dar atenção.

Não sei quanto tempo fiquei ali, perdida em meus pensamentos ruins, sem noção do espaço e dos sons ao meu redor.

"Ei, está tudo bem, está tudo bem," a pressão de outro corpo ao redor do meu me trouxe de volta aos meus sentidos, ao mesmo tempo que um um soluço escapou de meus lábios. "Eu tô aqui," a voz suave de Nam me consolou e tudo o que eu conseguia era chorar.

Era como se o toque dela tivesse aberto uma torneira de sentimentos. Meu corpo tremia enquanto Nam me pressionava contra o seu e recitava repetidamente que tudo ia ficar bem.