10. Tia Becky

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POV Becky

Estávamos tomando café e esperando Freen e sua filha chegarem. Nam havia combinado com ela na noite anterior para nos encontrarmos hoje pela primeira vez para falarmos do que realmente me trouxera a Bangkok. Nam estava animada desde cedo para ver a "afilhada de coração", como ela chamava a filha de Freen. Eu estava um pouco nervosa, mas isso era normal antes de começar qualquer caso. Meu nervosismo nesse só estava um pouco mais aflorado, por conta de ser alguém que Nam se importava tanto e porque eu ainda estava com a minha confiança abalada devido à minha ultima derrota.

Tentei pensar positivo, - como qualquer texto de auto-ajuda que eu havia lido tinha me mandado-, mas era difícil. Pensei então em focar nas atitudes de Nam, que percorria o apartamento de maneira jovial e alegre como ela sempre foi. Nam tinha um jeito de trazer alegria e luz pro lugar em que ela estava.

Comi em silêncio, deixando o trabalho de preencher o ambiente com a minha amiga, que fazia isso com todo o prazer do mundo. Nam falava sobre seu livro, sobre o dia no estúdio, sobre Li (esse era o nome da filha de Freen). Ela passou a maior parte do tempo falando na menina. Eu não me considerava alguém muito boa com crianças, mesmo tendo convivido com inúmeros dos meus primos quando estava na casa da minha avó.

"Ela é a Freen em miniatua só que com um jeito mais aberto, palhaço..." Nam continuou com seu monólogo, enquanto eu apenas concordava com a cabeça. "Nessa parte ela é mais eu e você quando éramos crianças, você lembra?" ela disse rindo, com certeza lembrando de alguma travessura específica dos nossos tempos de meninas.

"Se ela for como a gente era, a Freen que se cuide," decidi responder a minha amiga enfim. E eu falava sério, eu e Nam não eramos "flor que se cheire" quando crianças, como diz minha avó.

"Espero que quando ela cresça mais, ela fique mais Freen e menos eu e você," rimos juntas.

Ficamos mais um tempo em uma conversa alegre, relembrando de histórias do passado. Apesar de Nam e eu termos tido criações completamente diferentes. Eu passando a minha vida entre a Inglaterra, a Austrália e a Nova Zelândia, Nam tendo crescido nos arredores de Bangkon. Todo ano, nas férias de verão, eu vinha para Tailândia para passar alguns meses com a minha avó.

Lembro muito bem quando nos conhecemos, ela tinha por volta dos 10 anos e eu tinha 8. Eu era um pouco tímida e falava um tailandês no mínimo péssimo e ela arranhava no inglês, mas mesmo assim tomou como missão me ajudar no idioma e me levava de cima para baixo, como sua fiel escudeira. Éramos inseparáveis desde então.

"A Freen está chegando, ela apenas se atrasou porque passou no mercado para comprar material de bolo," Nam me tirou dos pensamentos antigos. Olhei confusa pelo o que ela tinha acabado de falar e ela deu de ombros. "Li disse que queria fazer bolo com a gente," ela respondeu a minha pergunta "muda".

Acabei tendo que rir da situação. Nam não sabia cozinhar nada, imagina um bolo.

"Eu sei o que você está pensando," disse ela apontando o dedo para mim. "Saiba que Freen é uma boleira profissional e ela me deixa bater as claras!" terminou orgulhosa.

Levantei meus braços, num gesto de "eu me rendo", mas não aguentei e ri de novo, o que me fez ganhar uma uva de presente na cara. Foi a vez de Nam rir.

POV FREEN

Eu ia chegar de novo atrasada para um compromisso com Becky e me perguntei no caminho entre o mercado e o apartamento de Nam, se isso interferiria em como a advogada pensaria de mim. Eu geralmente era bem pontual com as meus compromissos, mas eu ainda estava tentando me ajustar a ter que fazer as minhas coisas e ter uma criança que entende o suficiente para impor suas vontades. E Li adorava impor as suas.

Chegamos no prédio de Nam quase meia hora atrasadas e eu tive que pedir ajuda ao porteiro para conseguir subir com todas as coisas que eu comprei. Além das coisas com as quais eu havia saido de casa, Li fez eu comprar diversos recheios e coberturas para o que agora tinha se tornado "uma festa de cupcakes". O senhor era bem gentil e me ajudou a subir com as sacolas, enquanto eu me dividia em carregar algumas coisas e segurar a mão de Li.

Ele deixou as sacolas na porta do apartamento de Nam e eu o agradeci antes de ele voltar para o seu posto. Antes que eu pudesse fazer algo, Li ja tinha aberto a porta e já tinha corrido para dentro do apartamento, gritando e se jogando em cima de alguém que estava no sofá da sala.

"A senhora não é a tia Nam," ouvi minha filha dizer.

"Não, sou amiga dela, Becky," ouvi a resposta e me aproximei para ver o que acontecia.

Na verdade quem estava no sofá era Becky e não Nam, como Li deve ter imaginado. Pensei que a minha filha ficaria sem graça, mas ela me surpreendeu dizendo:

"Você é amiga da minha mãe também?"

Isso fez com que Becky levantasse os olhos, como se tivesse procurando a resposta para aquela curiosa pergunta. Quando ela me encontrou, eu lancei um sorriso para ela e dei de ombros. A advogada então voltou seus olhos para a minha filha que ainda aguardava a resposta.

"Sou sim. E você é a famosa Li?" Becky perguntou.

"Sim!" Li respondeu entusiasmada. "Se a senhora é amiga da minha mãe, então eu posso lhe chamar de tia, certo?"

Isso fez Becky me olhar novamente.

"Certo?" respondeu.

Nota da autora:

A relação da Becky e da Li nessa fic é tudo pra mim.

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