69. Vocês

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POV Freen

Becky estava deitada atrás de mim no sofá, enquanto alguma coisa rolava na televisão a nossa frente. Nenhuma das duas estava realmente prestando atenção nas imagens que passavam na tela. Aproveitávamos, no entanto, o silêncio e o conforto que estar juntas novamente nos trazia.

Estávamos sentadas uma ao lado da outra no sofá. Eu tinha meu corpo apoiado na lateral do seu e seu braço direito rodeava a minha cintura. A sua mão esquerda passeava pelos meus cabelos em um carinho simples, enquanto eu tinha a outra em minha posse e brincava com seus dedos distraidamente.

"Que horas você tem que pegar a Li hoje?" ela interrompeu o silêncio.

"Em mais ou menos uma hora," respondi pegando meu celular para checar o horário.

"Eu posso fazer o jantar?" ela perguntou.

Me virei em seus braços para poder encarar seus olhos.

"Você não precisa perguntar isso," falei.

"Eu sei," ela disse dando de ombros. "Acho que só estou tentando me readequar ao nosso ritmo de antes," falou sorrindo tímida.

Me ajeitei para que meu corpo ficasse agora de frente ao seu e aproximei nossos rostos, beijando a lateral da sua boca em um selinho delicado. Me afastei e busquei seus olhos com os meus novamente. Queria passar minha verdade com as palavras e com o olhar também.

"Tá um pouco estranho, mas não precisa ser, ok? A gente vai ficar bem. Eu sei que tem muita coisa rodando na sua cabecinha, mas por hoje, por agora, fica aqui," eu disse pegando novamente sua mão nas minhas, pois havia soltado quando mudei de posição. "Tudo o que a gente pode fazer é viver o agora e você, mais que ninguém, merece uma folga..."

Isso fez ela abrir um sorriso e me puxar pelas nossas mãos unidas, me beijando a boca.

"Então que seja a melhor folga do mundo," ela disse se mostrando empolgada. "Lasanha?" ofereceu.

"Você vai fazer uma garotinha muito feliz," eu respondi, me contagiando com a sua nova disposição.

"Eu vou fazer do jeitinho que ela gosta," Becky disse.

As palavras, apesar de simples, tocaram meu coração. Na verdade, era algo que sempre acontecia toda vez que Becky fazia alguma coisa atenciosa ligada a Li. E ela fazia constantemente. Eu sabia que Becky não tinha responsabilidade alguma com a minha filha — e eu nunca exigi que ela tivesse —, mas ela, desde o início, sempre foi atenciosa e presente com Li. E sempre foi de uma forma tão natural que, para mim, era impossível não notar e não me encantar.

Quando deu a hora de ir buscar Li no colégio, deixei Becky em um mercado próximo ao prédio para ela comprar as coisas que faltavam para a sua receita. Devo dizer que ela não ficou nada feliz com o estado de minha dispensa, mas a verdade é que ela tinha usado mais aquela cozinha do que eu. E eu amava isso. Porém na sua ausência, ela acabou sendo um pouco inutilizada.

Quando apanhei Li na escola, ocultei de propósito a presença de Becky em nosso apartamento. Sabia que a minha filha ficaria feliz em ver minha namorada e queria me dar esse mimo de acompanhar de perto a sua reação.

Como sempre, Li passou a viagem de volta para casa e todo o percurso do elevador tagarelando sem parar sobre seu dia. Eu, de vez em quando, comentava coisa ou outra, mas na maior parte do tempo deixava ela falar. Eu adorava o entusiasmo dela com as coisas.

Quando descemos do elevador, eu caminhei até a porta e enquanto a abria, decidi introduzir a surpresa que a esperava.

"Tem alguém cozinhando hoje para a gente, Li," falei, tentando fazer suspense.

"Quem, mamãe?" ela perguntou, curiosa.

"Por que você mesma não vai conferir?" eu disse, terminando de abrir a porta para que entrássemos.

Li, curiosa e cheia de empolgação como era, simplesmente largou suas coisas no chão e foi quase correndo para a cozinha.

"Sem correr, bebê," avisei, mas já seguindo seus passos, que deixaram de ser de correria, mas continuavam rápidos.

"BecBec!" ela gritou um grito agudo e estridente, assim que entrou na cozinha e se deparou com a figura de Becky cortando verduras sobre o balcão.

"Mini Freen!" Becky respondeu com o mesmo entusiasmo — sem o grito, no entanto, para felicidade dos meus tímpanos.

Becky largou tudo o que tinha nas mãos, deu a volta no balcão rapidamente e pegou minha filha no colo, que nesse exato momento se lançava sobre ela.

O abraço apertado que as duas se deram fez o meu coração ficar quente no peito e umas lágrima bobas se formarem nas beiradas dos meus olhos.

"Que saudades de você, pequena," Becky disse quando as duas se afastaram. Li ainda continuava em seu colo, no entanto.

"Eu também, Becky! Demais!" minha filha respondeu.

E eu sabia que era verdadeiro. Primeiramente porque Li sempre perguntava de Becky nas semanas que ela se ausentou. E segundo, que ela não era de demonstrar afeto daquela maneira. Essas coisas ela reservava apenas para família e Nam... Agora Becky.

Me distraí com a cena a minha frente, sorrindo feito uma boba.

"Olha a cara de boba da sua mãe, Li. Acho que ela que participar desse abraço também," ouvi Becky dizer.

Antes que eu pudesse reagir, elas já estavam na minha frente e eu já estava sendo envolta em um abraço triplo pelo braço livre de Becky. Li soltou uma risada alta quando acabou ficando apertada entre nós duas no abraço.

Eu ri do jeito bobo da minha namorada e da alegria que emanava das duas. Me aconcheguei no abraço estranho e desengonçado em que estávamos.

Sobre o ombro de Li, eu pude ver o sorriso aberto e descontraído de Becky. Seus olhos encontraram os meus e, pela primeira vez desde que ela chegara, eu reconheci o brilho de felicidade no castanho que eu tanto amava.

O sentimento que percorreu meu corpo foi tão intenso que eu não podia fazer outra coisa senão externá-lo em palavras.

"Eu amo você," disse apenas com o movimento dos meus lábios.

"Eu amo vocês," ela respondeu em um tom de voz baixo, mas que eu pude ouvir claramente. Vocês.

Nesse momento, eu descobri que coração podia bater forte e derreter ao mesmo tempo.

Notas da autora:

Hoje estou um amor de pessoa, mimando muito vocês. Hahaha.

Eu amo muito elas, aff. Me adotem.

twitter: bbiza13

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