31. Sentir

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Freen não estava conseguindo pensar direito. Tudo o que ela queria era ir em sua casa, arrumar suas coisas e de Li e sair dali. Por um momento, tudo o que fez até aquele ponto —movida por medo do que Kirk faria se descobrisse que queria se separar —, pensou em jogar pro alto. Mas sabia que não podia. Sabia que tinha que agir racionalmente. Foi assim que se viu em frente ao apartamento de Nam.

Li dormia em sua cadeirinha alta na traseira do carro quando Freen percebeu que não conseguiria subir com tudo o que tinha em mãos. Ela havia passado na casa que divida com Kirk, apenas para pegar seu carro e algumas coisas para Li, já que havia deixado tudo na fazenda.

Pegou seu celular, ainda com as mãos trêmulas por conta do turbilhão de sentimento que estavam borbulhando dentro de si, e discou o número de Nam. O telefone chamou algumas vezes antes de ser atendido.

"Oi, Freen!" a voz animada da amiga fez com que o corpo da tailandesa relaxasse um pouco e um suspiro de alívio escapou seus lábios.

"Nam, eu tô aqui embaixo e eu tô precisando de vocês, eu trouxe muita coisa e não consigo subir sozinha e..." ela falava muito rápido, ainda estava nervosa e a voz ainda continha resquício do choro anterior, o que Nam prontamente percebeu.

"Eu vou falar para Becky descer. Eu não estou em casa, mas vou agora mesmo," Nam disse rapidamente.

"Tá," foi a resposta de Freen antes da ligação ser finalizada.

Freen se pegou pensando em quais seriam seus próximos passos quando ouviu uma batida no vidro do carro. Becky a olhava com um sorriso gentil do outro lado da janela.

A tailandesa abriu a porta e saiu do carro.

"Você pode me ajudar a subir as coisas? A Li está dormindo e eu não queria acordá-la."

Freen não olhou nos olhos da advogada nenhuma vez sequer e tentou fazer tudo o mais rápido possível, antes que voltasse a desabar em frente ao prédio de Nam. Becky percebendo que alguma coisa não estava certa, decidiu seguir os passos de Freen.

Estava claro para a londrina que a tailandesa não estava bem. A mulher tinha cara de quem havia chorado recentemente e toda sua postura era de agonia. Antes que a modelo pudesse pegar sua filha no colo, Becky a interrompeu com um toque leve em suas mãos.

"Por que eu não levo ela e você leva a mochila e bolsa?" a advogada ofereceu gentilmente e Freen hesitou um pouco, mas concordou. Talvez fosse melhor Becky levá-la, ela ainda estava se sentindo um tanto trêmula.

Becky tirou o cinto protetor que circulava o corpo da menina e gentilmente a pegou em seus braços. Li se moveu um pouco e a advogada ficou estática, com medo de acordá-la. Quando pareceu que encontrara uma posição confortável — seu rosto encaixado no vão do pescoço de Becky —, Li voltou a dormir em um sono tranquilo.

A londrina sorriu para Freen que observava a cena com uma expressão esquisita.

"Você vem?" Becky perguntou esperando na porta do prédio. Freen enfim se apressou e pegou a mochila de Li e sua bolsa seguindo a advogada.

O caminho até o apartamento foi silencioso. Becky abriu a porta para Freen e disse que colocaria Li para deitar em sua cama. A modelo concordou, deixando as coisas sobre a mesa de jantar e caminhando até o sofá. Ela estava perdida em seus pensamentos quando sentiu a presença de Becky ao seu lado.

"Pensei que ia querer," disse a londrina a oferecendo uma xícara de café.

"Você já me conhece bem," respondeu aceitando o objeto e retribuindo um sorriso um tanto forçado.

"Quer falar ou quer que fiquemos em silêncio?" foi o que Becky perguntou em seguida e isso fez a tailandesa a encarar. Era uma pergunta simples, mas muito atenciosa.

"Acho que o silêncio e sua presença já seriam o suficiente por agora," Freen se viu dizendo aquilo com sinceridade e a advogada apenas concordou com a cabeça, se sentando ao seu lado no sofá.

Elas passaram alguns minutos caladas. Freen perdida em seus próprios pensamentos enquanto tomava lentamente do líquido amargo e Becky tentando observar a mulher ao seu lado discretamente.

Assim que Freen terminou o café, depositou a xícara sobre a mesa de centro e se virou em direção a Becky.

"Eu vou querer seus conselhos como advogada em breve, mas agora eu posso te pedir outra coisa?" a fragilidade na voz de Freen fez o coração da advogada apertar no peito. Becky apenas concordou. "Eu posso?" Freen apontou para as pernas da londrina que entendeu prontamente qual era o pedido.

"Claro, Freen," ela respondeu se acomodando para que a tailandesa deitasse com a cabeça sobre seu colo. Assim que ela o fez, Becky ignorou todos os sentimentos confusos que aquela proximidade trazia a ela, e levou suas mãos aos cabelos de Freen, iniciando um carinho.

A advogada fingiu não notar, mas em poucos minutos, Freen chorava em seu colo e tudo o que Becky queria era fazer o que quer que fosse parar de doer.

Becky deslizou a ponta de seus dedos até o rosto de Freen, limpando algumas de suas lágrimas, o que fez a tailandesa a olhar.

Os olhos de Becky tinham um brilho diferente. Neles estavam refletidos carinho, afeto, admiração. Os olhos intensos se perderam nos castanhos. Por um breve momento tudo foi calmaria, silêncio. Naquele breve instante, tudo fez sentido e também não fez.

Freen se levantou tão lentamente, que foi impossível para Becky não reparar em cada micro gesto que levou o rosto da modelo a ficar a centímetros do seu.

POV Becky

Os olhos grudados nos meus ainda brilhavam das lágrimas recém derramadas. As bochechas ainda estavam coradas do choro, assim como a ponta do nariz. A boca estava entreaberta.

Minha cabeça estava em branco, nenhum pensamento entrava e nem saia. Era tudo sentidos. Sentia sua respiração tocar meu rosto, sentia o cheiro de seu hálito fresco misturado com o perfume feminino. Sentia o calor da sua mão em minha coxa, apoiando o peso de seu corpo.

Eu não sabia o que estava acontecendo. Um momento ela estava em meu colo recebendo consolo e em outro seu rosto estava colado ao meu.

"Fre..." eu ia falar, mas sua boca tocou a minha.

Foi um toque rápido, incerto. Nossos olhos ainda estavam presos um nos outros. Era como se ela buscasse alguma resposta me olhando daquele jeito. Assim que fui buscar minhas próprias respostas, a sua boca colou de novo na minha. Ela envolveu meu lábio inferior entre os seus, em uma pressão forte o suficiente apenas para eu fechar meus olhos e levar minha mão até sua nuca.

De repente as nossas bocas estavam se movendo em sincronia e tudo o que eu conseguia pensar, era em como o seu gosto era incrível.

Senti seus dedos se envolverem em meus cabelos e de repente não conseguia mais pensar em nada novamente, só sentir.

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