Whisper

47. Dragão

POV Becky

Assim que nos juntamos a Li e Nam, Freen explicou que aquela cachoeira era em uma propriedade particular e que geralmente abriam para um número limitado de pessoas visitarem por dia, mas que ela havia alugado exclusivamente para a gente naquele sábado. Eu que nunca tive nem uma piscina de plástico só para mim, achei aquilo muito chique. Claro que com a minha boca de sacola, acabei soltando isso.

Nam e Freen riram de mim, o que me fez ficar emburrada e ir até onde Li estava, sentada na mesa ao lado da nossa, selecionando alguns brinquedos que Freen trouxera.

"Você é a minha favorita, Li," falei me sentando a sua frente e ignorando as risadas que ainda vinham da outra mesa.

A menina parou o que estava fazendo e me olhou sorrindo.

"Você também," respondeu tão naturalmente que meu coração se aqueceu. Era genuíno o carinho que eu tinha adiquirido por aquela criança.

"Eu trouxe um presente pra você," falei indo até onde estavam as nossas coisas e pegando a caixa.

"O que é?" ela perguntou empolgada, se virando para o lado que eu tinha ido.

Eu imaginava que Nam e Freen nos observavam, mas não liguei. Eu sabia que Li ia gostar muito do presente e estava animada com sua reação.

Quando entreguei a caixa e expliquei o que era, a menina começou a pular no lugar que estava, pedindo para usar naquele exato momento. E eu — mesmo eu ainda me fingindo de brava com Nam e Freen —, me virei na direção das duas para perguntar se podia encher o presente para levar Li para a água. As mulheres nos olhavam com sorrisos bobos nos rostos e toda a falsa raiva passou na hora.

"Ela pode, mamãe?" Li repetiu minha pergunta que havia ficado sem resposta e Freen finalmente concordou com a cabeça.

A menina me pegou prontamente pela mão e começou a me puxar em direção a beira da cachoeira.

"Calma, bebê. Eu ainda tenho que encher a bóia para você," falei rindo e impedindo nossos movimentos.

Eu a puxei pela mão de volta para a mesa que estávamos antes, e tirei da minha mochila uma daquelas bombas de encher bolas. Claro que eu fui preparada. Quando a bóia estava praticamente cheia, já tomando a forma do personagem favorito de Li, Freen chamou a menina para passar protetor solar.

Quando eu terminei meu trabalho e selei a entrada de ar do inflável, chamei Li para irmos enfim.

"Negativo," falou Freen, fazendo eu e sua filha pararmos de repente. Nos viramos sem entender, porém obedientes. "Você tem que passar protetor também, Becky," ela falou em um tom autoritário, que me arrepiou até a nuca.

De algum lugar fora da minha vista, eu conseguia ouvir a risada de Nam. Parece uma assombração.

"Espera um pouco, Li," pedi para a menina, que apesar de não gostar muito da ideia, ficou quieta.

"Por quê você não vai ali com a tia Nam enquanto isso, filha?" Freen apontou para uma área longe das mesas, do outro lado do casebre, onde Nam tirava algumas fotos.

Li saiu correndo na direção da cantora.

"Não corre!" falamos eu e Freen ao mesmo tempo, o que nos fez rir.

Eu caminhei até a minha mochila e peguei o protetor solar que trouxera. Já ia pôr uma boa porção em minha mão, quando Freen me impediu.

"Deixa que eu passo," ela pediu, já tentando pegar o produto em suas mãos, mas eu fui mais rápida e não permiti. "O que foi?" Freen perguntou confusa.

"Eu já estou toda mexida depois de você brigar comigo com esse jeito protetor, se eu deixar você esfregar meu corpo de qualquer forma, não vai dar certo," falei extremamente séria.

"Becky!" ela riu, achando que era brincadeira e tentando alcançar o produto novamente. Mais uma vez eu a impedi.

"Eu tô falando sério, Freen," falei fazendo um bico que fez seu rosto suavizar num instante. Acho que não sou só eu que sou cadela.

Ela olhou para trás, garantindo que Nam e Li ainda estavam no mesmo lugar e se virou de volta para mim. Pegou minha mão discretamente na sua e acariciou a costa da minha com o seu polegar.

"Se a gente tivesse só, eu desmanchava esse bico," ela disse baixo e eu ri, puxando minha mão da dela.

"Não vou nem dizer o que eu desmanchava," respondi, claramente olhando para o seu biquini.

"Becky!" disse me empurrando.

"Sem brigas," ouvimos a voz inocente de Li e nos viramos para ver a menina ao lado de Nam bem próximo da gente. Nam, claro, mantinha a cara de desconfiada que usara o dia inteiro. Ela já sabia de algo, isso não podia estar mais claro. Eu tinha que falar com Freen sobre isso.

"Não estamos brigando, bebê. É só brincadeira," Freen disse.

"Vamos para a água?" eu chamei depois que terminei de passar o protetor solar e Li rapidamente largou da mão de Nam e correu na minha direção.

"Trocada tão facilmente por uma lagosta e um dragão," Nam disse.

"Cadê o dragão?" Li perguntou inocente, olhando ao redor, como se procurando a figura mística.

Eu olhei feio para a cantora que apenas riu. Freen só negou com a cabeça, já acostumada com o nosso jeito imaturo às vezes.

"Não tem dragão nenhum, mini Freen, é invenção da Nam," eu respondi.

"Ok. Vamos para a água?" a empolgação era clara em sua voz.

"Vamos," eu disse pegando a bóia do Sebastião em uma das mãos e a mão da menina na outra.

Já tínhamos andado metade do caminho até a beirada da lagoa onde a cachoeira derramava, quando Freen gritou:

"Toma cuidado, bebê!"

Paramos mais uma vez no meio do caminho e nos viramos para a direção onde Freen estava.

"Ok, mamãe," Li falou ao mesmo tempo que eu respondi: "Tá certo, Freen."

A cara divertida de Freen me fez perceber claramente o meu engano. Engano esse, que podia até ter passado em branco, se eu não tivesse ficado da cor de um tomate.

Nam ria mais uma vez da minha cara, enquanto eu me virava rapidamente, puxando Li com cuidado, mas depressa para a água.