26. De volta ao trabalho

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Becky nem sabe quanto tempo dormiu. Acordou com sua cabeça latejando de dor. O choro compulsivo e o sono de cansaço eram os culpados.

Abriu seus olhos lentamente e encontrou o quarto escuro. Ficou um tempo olhando para o nada, recobrando os seus sentidos. Assim que acordou completamente, se lembrou do que acontecera mais cedo e parte da angústia que sentira pela manhã, voltou a todo o vapor. Fechou rapidamente seus olhos e começou a respirar profundamente e exalar devagar, contando os segundos de sua respiração. Era uma das táticas que tinha para se acalmar quando tudo parecia demais.

Quando o seu corpo pareceu estar novamente sobre seu controle e sua mente clareou um pouco, Becky lembrou de Nam e de como a amiga havia aparecido no meio de uma de suas crises e tinha cuidado tão bem dela. Espantou com todas as forças o sentimento de culpa por ter preocupado a amiga. Ia fazer de tudo para não se entregar aos pensamentos ruins novamente, não estava pronta para outra crise.

Lentamente se sentou na cama e esticou seu pescoço dolorido. Se concentrou nos sons ao seu redor para saber se ouvia Nam, mas encontrou apenas silêncio, então decidiu se levantar.

A passos lentos entrou na sala do apartamento e a cena que encontrou fez o seu coração vibrar de carinho e um sorriso leve aparecer em seu rosto. Nam dormia em uma pequena bola no sofá da sala, tendo sua figura iluminada apenas pela luz da tv. Becky pensou em acordar a amiga e mandá-la para a cama, mas ela parecia tão confortável que a advogada mudou de ideia.

Becky voltou para o quarto e acendeu a luz, encarando a mesa onde o seu celular repousava. Sentiu seu peito apertar mais uma vez e andou apressada até o aparelho. Mesmo com medo e aflição, precisava saber como as coisas tinham acontecido. Viu que tinha algumas chamadas não atendidas de Irin, assim como várias mensagens. Se apressou em abrir as mensagens.

Amiga, tentei te ligar algumas vezes para te atualizar como você pediu, mas você não me atendeu. Charlie está bem. Está medicado. Quebrou um braço e duas costelada, infelizmente, mas não precisou de cirurgia e já está se recuperando na enfermaria.

Consegui que Mary o visitasse, mesmo que brevemente. Você sabe como são essas coisas. Mas está tudo bem. Não se preocupe!

Algo bom pode sair dessa situação terrível. Me liga amanhã para gente falar sobre a minha ideia de entrar com um recurso usando esse incidente como um apelo.

Becky largou o celular e respirou aliviada, mas logo colocou sua cabeça para pensar no que Irin havia dito. Elas realmente podiam usar o ataque a Charlie como estratégia de defesa em seu apelo.

Com a mente agora a mil por hora, Becky largou o celular em um canto qualquer da mesa e ligou seu computador. Abriu rapidamente a pasta onde mantinha todo os documentos no caso de Charlie e se pôs a trabalhar.

O relógio no celular da cantora indicavam 2h37 da manhã quando Nam se despertou no sofá e foi em busca de Becky. Assim que chegou no corredor e viu pelo vão da porta que a luz do quarto estava acesa, Nam se apressou em ir até amiga, temerosa pelo seu estado. Se assustou, no entanto, quando a encontrou com a cara enfiada no notebook.

"Becky?" Nam chamou, tocando delicadamente no ombro da advogada. Becky se assustou um pouco e virou bruscamente em direção a amiga. "Desculpa, não quis te assustar," Nam logo disse.

"Oi, Nam," respondeu rapidamente. "Sem problemas, eu só estava concentrada."

"Você está bem?" Nam perguntou com um pouco de hesitação. Não sabia como tocar no assunto.

"Estou melhor," Becky disse dando de ombros. "Eu prometo que vamos conversar sobre o que houve depois, mas eu realmente preciso voltar pro que eu estava fazendo," a advogada disse já se virando de volta para a tela.

"Tudo bem, mas você já comeu? A Freen veio e fez comida para gente."

Aquilo fez Nam ganhar a atenção da londrina novamente.

"A Freen veio aqui?" falou assustada. Não queria que a outra mulher a visse no estado que estava anteriormente.

"Ela veio, Becky," Nam falou com uma voz pequena. Se sentiu um tanto culpada, porque contou tudo para Freen e talvez Becky não quisesse que mais ninguém soubesse. "Desculpa, mas eu contei para ela que você não estava bem porque ela estava preocupada e..." Becky interrompeu a amiga que falava muito rápido, claramente tentando se desculpar.

"Tudo bem, Nam," a mais alta disse. Ela não queria que Freen soubesse porque tinha vergonha e se sentia exposta, mas não ia ficar chateada com a amiga por isso.

"Ela não vai te julgar."

"Eu sei," Becky balançou a cabeça e suspirou. "Você falou algo de comida?" Becky falou forçando um sorriso.

Nam sorriu para a amiga de volta. Sabia que ela estava tentando se mostrar forte, mas aproveitaria o interesse da advogada em comida, afinal Becky não comera nada praticamente o dia inteiro.

"Ela chamou de comida reconfortante," explicou. "Continua o que você estava fazendo enquanto eu vou esquentar para a gente."

A londrina concordou, enquanto Nam foi em direção a cozinha. Chegando lá, a cantora mexeu no fogão e começou a esquentar a comida preparda por Freen. Becky parecia estar um pouco melhor, mas já estava trabalhando e isso preocupava Nam, afinal o trabalho de Becky parecia ser o seu gatilho.

Enquanto observava o estalar da comida no fogo enquanto esquentava, Nam se prometeu que no próximo dia tentaria conversar com Becky mais efetivamente.

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