108. Vale a pena

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POV Becky

O aniversário de Li veio mais rápido do que o tempo que tínhamos para organizar tudo. No meio do caos que a vida profissional de Freen ainda passava e dos conflitos ainda presentes de Kirk quando se tratava de mim, ver o sorriso de Li com a sua festa dos sonhos era o que importava.

Primeiramente pensamos em fazer algo grande, onde convidaríamos toda a família de Freen, os amigos mais próximos e vários colegas de classe de Li, porém com toda a situação de Kirk exigir que o meu relacionamento e o de Freen ficasse escondido, decidimos que seria mais prudente fazer uma comemoração na escola para Li aproveitar com os colegas e uma mais privada, onde só estaríamos as três, Nam e a família mais próxima da minha namorada.

Para o descontentamento (público e ativo) de Li, eu não acompanhei a pequena e a Freen até a escola aquela manhã. A festinha que seria feita no intervalo da aula, seria acompanhada por Freen e Kirk, logo eu achei que seria melhor não forçar as coisas com a minha presença. Li não entendeu muito bem porque eu não podia estar em ambas as suas comemorações, mas eu torcia para que a menina não desse tanto trabalho para a sua mãe naquela manhã.

Aproveitei que tinha tirado o dia de folga e passei a manhã garantindo que tudo estaria perfeito para o dia especial daquela que havia se tornado minha pessoinha favorita. A festa seria na chácara da família de Freen e em todos os cantos que você olhava daquele lugar, tinha algo de gliter ou algo que remetesse ao fundo do mar. Li ia surtar ao ver tudo aquilo, eu tinha bem certeza.

"Becky, minha filha, você não quer mesmo comer mais alguma coisa?" Dona Malee me ofereceu mais uma vez, se aproximando de mim com um olhar de preocupação maternal. Eu inevitavelmente acabei sorrindo, porque a mulher me tratava sempre assim quando me via e eu não podia evitar me sentir acolhida, o que era um sentimento simplesmente maravilhoso.

"Ma, a senhora sabe que eu não sou de negar comida, mas eu lhe juro que não aguento mais nada," respondi rindo levemente e levando minha mão até a minha barriga, como se demonstrando que eu estava realmente cheia. A mãe de Freen era uma daquelas anfitriãs que se mostrava sempre preocupada, mas a verdade era que eu já havia comido até demais da conta aquela manhã.

"Tudo bem, querida," ela disse rindo junto comigo. "Isso aqui está ficando a coisa mais linda," ela falou parando ao meu lado e olhando ao nosso redor.

A maioria da decoração já estava colocada, o que deixaria apenas a organização das mesas e cadeiras, assim como das comidas para a parte da tarde.

"A Freen não brinca com decoração," foi minha maneira de concordar com a minha sogra.

"Você tem razão. Freen tem mesmo mão pra isso," Malee replicou. "E por falar nela, ela já deu alguma notícia de como foi a festa na escola da Li? Acho que a essa hora já terminou tudo, não?" a mulher perguntou olhando para o relógio que levava em seu pulso.

Eu busquei meu celular no bolso para também checar o horário e concordei com ela, enquanto aproveitava para ver se tinha alguma notificação no aparelho com o nome da minha namorada, mas não encontrei nada.

"Já deveria ter acabado, mas ela ainda não me disse nada. Vou ligar para ela," anunciei e Malee concordou, dizendo que ia entrar na casa para continuar fiscalizando o preparo da comida e que era para eu lhe dar notícias assim que as tivesse. Com isso ela entrou na casa e eu disquei o número de Freen e esperei que ela me atendesse.

O telefone chamou algumas vezes antes de ir para caixa postal e só na minha segunda tentativa, Freen atendeu.

"Oi, amor," ouvi sua voz cansada do outro lado da linha.

"Oi, babe. Como foi tudo?" perguntei com um sorriso bobo no rosto. Sim, eu ainda ficava dessa forma só de ouvir a voz dela.

"Foi bom. A Li perguntou algumas vezes de você e da Nam, mas eu consegui que ela se distraísse antes que o Kirk se irritasse, mas devo confessar que foi uma situação bem chata," ela disse e aquilo fez com o que o meu sorriso morresse um pouco.

Kirk estava sendo um pouco compreensível com a situação, contanto que eu e Freen não mostrássemos nossa relação em público, o que para mim era simplesmente ridículo, porque o mínimo era ele respeitar as relações de Freen e não que tivesse opinião sobre elas, mas eu evitava aquele assunto, porque infelizmente, este já tinha causado mais que um conflito na minha relação com Freen. Apesar de continuar concordando com qualquer coisa que fosse para o bem de Li, era terrível ter que tomar certas decisões apenas para não ferir o ego machucado do ex de Freen. Com um suspiro pesado, decidi mudar de assunto, afinal nada de bom sairia de começar uma outra conversa sobre aquilo.

"Está quase tudo pronto aqui na chácara," falei. "Você vem pra cá agora?"

"Esse era o plano, mas a Yha me ligou e eu tenho que ir no escritório daqui. Eu não queria abusar, mas você pode continuar aí até eu conseguir me liberar?" Freen perguntou preocupada e isso me fez voltar a sorrir, negando levemente com a cabeça.

"Claro que não, amor. Você sabe que eu quero tanto quanto você que a festa da Li seja incrível," falei imaginando o rostinho da menina se iluminando quando visse tudo. "E dessa forma quando você vir, você já pode ir buscar nossas fantasias no apartamento da Nam, que com certeza até lá já entregaram."

"Ai, Becky, você não me lembra dessa sua promessa não que eu não sei porque não te matei..." ela começou a resmungar e eu não consegui segurar a gargalhada que saiu da minha boca.

"Porque você me ama demais para me matar," respondi.

"Não posso negar isso," ela falou com um tom de voz não mais tão raivoso, o que fez aquele friozinho na barriga aparecer de novo. Incrivelmente todas as vezes que Freen dizia, ou dava a entender como dessa vez, que me amava, o friozinho aparecia. Todas as vezes.

"Também amo você," falei voltando a manter o sorriso bobo do inicio da nossa conversa e foi a sua vez de rir, imagino que tirando sarro do meu tom de voz.

"Também, boba. A gente se fala mais tarde, tá?" ela disse e eu ouvi o som de porta de carro batendo, imagino que ela estivesse saindo da escola de Li.

"Ok, amor. Até mais!"

Desligamos e eu fui informar a minha sogra de que tudo tinha ocorrido bem na primeira parte do dia da mini Freen e a gente se pôs a garantir que a segunda parte fosse ainda melhor.

Freen chegou na chácara mais ou menos na hora do almoço e tudo já estava praticamente pronto. Só faltava mesmo a comida, mas isso realmente só ficaria pronto mais próximo do horário da festa. Com um beijo rápido em meus lábios, Freen se sentou ao meu lado em um banco na parte de fora da casa, deixando seu corpo tombar sobre o meu, me fazendo rir do seu gesto desleixado, porém agora já comum entre nós duas.

"Cansada?" perguntei enquanto enlaçava meu braço direito em sua cintura, a puxando mais confortavelmente sobre mim.

"Muito," ela concordou com a cabeça ao mesmo tempo que se colocava melhor no nosso encaixe. "Mas vai valer a pena." Eu sorri, deixando um beijo no topo da sua cabeça.

A festa de Li foi exatamente como achamos que ia ser. Ela se emocionou ao ver a decoração do fundo do mar e se sentiu uma sereia em sua pequena fantasia (palavras dela) e o restante foi só alegria. Freen não se vestiu de Tritão, para o meu leve aborrecimento que queria muito rir disso, mas acabou também se vestindo de sereia, o que obviamente me fez esquecer em minutos até do significado da palavra aborrecimento, porque não tinha como aquela mulher ser mais linda.

Nam, sem nenhuma dúvida, me encheu o saco a noite inteira dizendo que se as calotas polares não aumentassem o nível dos oceanos, com certeza eu babando a noite inteira em Freen faria. E apesar da implicância da minha amiga, eu não me irritei, porque naquele momento seria impossivel.

E no final da noite, quando eu e Freen acabamos jogadas na cama que minha namorada tinha em seu quarto ali na chacara, com Li entre nós duas, ainda tendo o gliter de sua fantasia brilhando em alguns pontos do seu rosto, que brilhavam quase tanto quanto o sorriso de Freen naquele momento, eu lembrei do que Freen dissera mais cedo. E tudo o que eu podia pensar é que com certeza valia a pena.

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