POV Freen
Observei Becky sair apressada para o banheiro e depois encarei Nam confusa. Não era a primeira vez que eu pegava a morena me olhando de uma maneira mais intensa que o "normal". Eu entendia aquele tipo de olhar quando vinham de homens, mas vindo de uma mulher eles me confundiam. Não que eu fosse preconceituosa ou algo assim, só que eu realmente não sabia se eles significavam a mesma coisa nos dois casos. Se sim, torcia para Becky continuar me tratando com o respeito que ela estava. Eu não ligava para olhares, afinal já era acostumada por conta da minha profissão, mas a nossa relação era profissional, mesmo que amigável. E eu sou hétero e casada, por Deus.
Tentei não focar naquilo. Becky tinha sido sempre muito gentil e respeitosa, se não fosse pelos olhares mais longos e minha experiência em estar sempre atenta nos mais mínimos detalhes nesse quesito, eu não teria percebido nada. Então resolvi deixar por estar.
"A gente podia pedir Pad Thai daquele restaurante que a gente ama," eu falei para Nam que olhava as opções no aplicativo.
"Ótima idéia. Becky ama comida tailandesa," minha amiga falou rindo baixo, como se tivesse contado uma piada que só ela entendia.
Eu não me incomodava com as brincadeiras de Nam. Ela era assim. Alto astral, brincalhona, fazia a própria luz dela. Simplesmente não tinha como não gostar de Nam.
Fingi, então, não entender a brincadeira.
"Pede o de sempre para gente e espera a Becky voltar para ver se ela não quer acrescentar alguma coisa," eu disse pegando minha filha no colo e indo em direção ao sofá.
Li que havia acordado cedo por conta da animação em passar o dia com Nam, estava sonolenta em meus braços. Quando me levantei, ela ajustou sua cabeça em meu pescoço e eu sorri. Amava tê-la assim comigo.
Me sentei no sofá macio de Nam e me livrei de meus sapatos, me deixando mais confortável para aproveitar aquele momento com minha filha. Nam olhava sorrindo para gente com o celular na mão.
"Ela é um anjinho," disse minha amiga em tom baixo para não incomodar o sono de Li.
"Sim, ela é," respondi sorrindo.
Becky escolheu essa hora para reaparecer na sala. Ela parecia um pouco tímida e retraída.
"A gente vai pedir comida tailandesa, você quer acrescentar ao nosso pedido?" Nam perguntou oferecendo o celular para Becky, que aceitou o aparelho, mal olhando a tela e dizendo que estava tudo bem para ela.
Nam olhou um tempo para a amiga e elas tiveram uma espécie de conversa silenciosa. Acho que amizade de anos dá esse poder às pessoas. Não quis me intrometer então me destraí afagando os cabelos de Li e velando seu sono.
Becky se sentou no lado oposto do sofá que eu ocupava e parecia perdida em pensamentos. Nam mexia em seu celular e às vezes ria de alguma coisa ou outra. Eu não queria que o clima ficasse estranho assim, afinal eu gostava da presença de Becky e não queria que ela ficasse constrangida, mas não sabia como tocar no assunto sem aumentar o desconforto da mulher. Decidi que eu mesma teria que cortar aquele clima.
"Sua família também mora em Londres, Becky?" perguntei em tom baixo, iniciando o assunto. Becky pareceu se assustar com a minha pergunta repentina e se virou para mim, sorrindo com as bochechas levemente coradas.
"Sim," ela respondeu esfregando as mãos uma na outra. "Minha avó tailandesa faleceu faz alguns anos, então só resta a minha família britânica agora."
"Nam disse que onde vocês passavam o verão era lindíssimo," falei e observei que Nam apenas fingia não estar prestando atenção na nossa interação, já que seus dedos pouco se moviam sobre a tela. Nam, Nam.
"Era sim, perto de Bangkok, mas completamente dieferente!" Becky falou empolgada e eu vi que havia conseguido tirar ela da bolha que ela mesma havia se enfiado. Começamos uma conversa animada (em tom baixo por conta de Li) sobre as paisagens mais bonitas que conhecíamos.
Conversamos animadamente apenas as duas, da mesma maneira que havíamos feito quando nos conhecemos e mais uma vez eu me senti confortável na presença da outra mulher. Becky era alguém fácil de se aproximar e gostar.
Nam nos interrompeu apenas para anunciar que o entregador havia chegado. Quando fui me levantar para pagar, no entanto, Nam disse que como éramos convidados na casa dela, ela que pagava. Eu ia protestar, mas Nam já havia corrido para a porta com a carteira na mão. Becky riu da minha expressão de indignação.
"Deixa ela mimar vocês, ela adora fazer isso," Becky falou.
"Eu sei, por isso tenho que frear às vezes, senão ela quer pagar tudo sempre," respondi.
Senti Li se movimentando nos meus braços e decidi que era a hora certa de a acordar ela.
"Ei, bebê," falei suavemente passando minhas mãos em seus cabelos. "A comida chegou..."
Foi só eu falar isso que os olhos dela se arregalaram e ela praticamente pulou dos meus braços. Nam que ja estava com a comida na mesa começou a rir da reação de Li.
"A Li é uma esfomeada igual você Becky," Nam falou.
Becky que ja estava se servindo da comida (como ela chegou lá tão rápido?), ignorou Nam e começou a se servir. Li já estava do lado de Becky na mesa.
"Posso te ajudar a sentar?" Becky perguntou para minha filha que concordou rapidamente. Becky a pegou em seu colo com facilidade e a colocou sobre a cadeira, dando uma piscadela para ela.
"Mãe, fome!" Li falou do seu lugar na mesa e Nam estava nesse momento gargalhando.
"Meu Deus, vocês são mesmo duas esfomeadas," falei também rindo e indo servir Li que olhava Becky comer atentamente.
Coloquei um pouco de macarrão de arroz, camarão e frango cortado em pedaços pequenos no prato de Li e lhe ofereci um garfo. Ela pegou rapidamente o utensílio da minha mão, agradecendo e começou a comer.
"Muito bom," Li falou com boca cheia. Antes que eu pudesse repreendê-la por isso, Becky respondeu com a boca igualmente cheia:
"Muito bom mesmo!"
As duas sorriram uma para outra e continuaram a devorar seus pratos. Olhei assustada para aquela cena e ouvi no fundo Nam continuar gargalhando.
Becky apontou para seu prato e falou algo que não entendi, Li concordou com a cabeça e respondeu algo também inteligível para mim. Elas continuaram com a conversa, ambas ainda falando com as bocas cheias de comida. Quando a indignação passou, acabei sorrindo. Elas pareciam felizes demais para eu me importar com modos.

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Whisper
FanfictionFreenBecky Universo Alternativo (AU) Essa fanfic é uma adaptação de uma outra obra de autoria minha. Não é uma conversão, é uma adaptação, ou seja, haverá mudanças. Sinopse: Freen era uma modelo de 27 anos, casada com um ator de sucesso chamado Ki...