85. Família

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POV Becky

Não sabia como agir. Parte de mim tinha receio de contar meus planos para Freen, exatamente porque desconfiava que talvez ela não os levasse tão bem assim. Confesso, no entanto, que seu silêncio doeu mais do que eu imaginei. Acho que, no fundo, eu tinha esperanças que ela gostasse tanto da ideia quanto eu.

Eu queria muito entender o que se passava dentro de Freen, mas ela tinha a mania se fechar em seus sentimentos e pensamentos e não compartilhá-los comigo. Quando ela se manteve calada, eu sabia que esse seria mais um desses momentos.

Durante o evento de Nam, tentamos manter o clima leve para não estragar a noite da nossa amiga e acabou que a tensão entre a gente realmente se dissipou um pouco. Mas eu ainda não conseguia entender seu silêncio e me sentia magoada.

No final da noite, eu tentei ir para a casa de Freen para enfim conversarmos, mas mais uma vez ela disse que era melhor eu ir para o apartamento de Nam e conversarmos outro dia. Aceitei, afinal o que eu poderia fazer?

Voltei para o apartamento da Nam aquela noite em silêncio. Minha amiga, como sempre, respeitou meu espaço e apenas me deu um abraço apertado antes de me desejar boa noite. Me arrumei para dormir com os pensamentos em Freen. Eu estava sim magoada com os acontecimentos daquela noite e odiava mais que tudo não poder conversar com ela. Dormir sabendo que não estávamos bem era difícil para mim.

Fechei meus olhos e rolei na cama. No meio da madrugada, quando o sono não veio, as inúmeras possibilidades inundaram minha mente. O fantasma da insegurança mais uma vez me pegou pelos dedos e eu chorei, pensando que a felicidade que eu finalmente encontrei, seria mais uma vez efêmera, momentânea.

Só dormi quando o cansaço gritou mais alto que minhas batalhas internas e não tive um sono tranquilo. Acordei me sentindo pior que no dia anterior.

Nam me ofereceu uma xícara de café e um sorriso pequeno na cozinha quando sai do meu quarto. Retribuí com um sorriso amarelo e agradeci.

"Você quer conversar?" ela ofereceu em seu tom gentil.

Deixei minha xícara sobre o balcão e suspirei, passando minha mão pelos meus cabelos ainda molhados do banho.

"Não saberia nem o que te dizer, Nam", foi minha resposta.

"Eu não sei o que houve e entendo se você não quiser falar sobre o assunto. Seu coração é lindo, Becky. O da Freen também. O bem que vocês se fazem enche os olhos de qualquer pessoa, juro. O que quer que tenha acontecido, conversem que eu sei que tudo vai se resolver."

Sorri com sinceridade para as palavras honestas de Nam. Eu acreditava naquilo também, mas no momento eu estava machucada demais para abrir a porta para aquele diálogo. Me sentia exposta, vunerável. Freen conhecia todos os meus cantos escuros e reservados e eu sentia o pavor de que, mesmo com suas palavras anteriores de reconforto, agora ela sentisse que não daria conta. Que minha bagagem era pesada demais.

"Espero que sim", respondi, afinal era realmente tudo o que eu queria.

Depois do café, passei a manhã tentando fazer alguma coisa produtiva no trabalho, mas sem muito sucesso. Em algum momento, Nam bateu na minha porta avisando que sairia para se encontrar com seu editor, por isso, quando ouvi a campainha, revirei os olhos sabendo que teria que atender alguém e não estava nem um pouco afim disso.

Levantei da minha cadeira de maneira lenta e caminhei sem muita vontade até a porta. Imaginei que fosse alguma vizinha ou alguém da portaria, mas me deparei com os olhos que não saíram um segundo sequer da minha mente.

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