RAFAELLA
Durante a noite eu não consegui pregar o olhos. Acordava de hora em hora para me revirar na cama. Na verdade meus dias estavam sendo assim de umas três semanas para cá. E eu sabia exatamente o motivo.
Eu seguia constantemente em uma guerra fria entre a razão e a emoção. Razão por ter a consciência de que o que eu estava fazendo, mesmo que coisa pouca, era errado. E a emoção, por mesmo saber de tudo isso, não conseguir parar.
Durante todo esse mês, logo depois do dia em que Gizelly e eu conversamos na cafeteria, e eu prometi para ela e para mim mesma sobre deixar as coisas me levarem, me peguei tentando fugir disso. Eu procurava estar mais na companhia do meu marido, indo com ele aos eventos e saindo mais juntos, só nós dois. Porém nada disso funcionou para que eu parasse de pensar em Gizelly. Só serviu de uma coisa ainda pior, ou melhor. Eu me vi mais apaixonada por ele, e isso é o normal a se acontecer quando um casal investe atenção, carinho e amor na relação. Entretanto, de alguma forma eu não estava satisfeita com isso. Pois ao mesmo tempo que eu queria que minha atração por minha amiga acabasse, e focasse meus sentimentos apenas em meu marido, eu já não queria. Não queria deixar de pensar nela e não ter mais a atenção dela.
Mesmo assim eu não deixei de investir em meu casamento. Procurava sempre observar e encarar Flávio em nossos momentos contidianos em casa, à procura de me prender a ele outra vez, e me apaixonar unicamente por ele. Ter meus sentimentos e pensamentos somente para ele. Mas estava cada vez mais difícil. No entanto, de maneira involuntária e totalmente inocente, fui me afastando. Não era certo tê-lo somente para mim, quando eu estava dividida entre ele e mais uma. Ele porém percebeu, depois da terceira tentativa de querer se deitar comigo e eu o rejeitar, oferecendo uma desculpa qualquer. A verdade é que eu não queria transar com ele, pensando em Gizelly. Isso seria demais para o meu psicológico. Por mais que eu quisesse, eu não conseguia. Não conseguia fazer isso com ele.
- Que foi, meu bem?- Sua pergunta tirou-me de meus devaneios.
- Pensativa... Bom dia!-
- Bom dia! Cê acordou a noite toda essa madrugada. Tá tudo bem?-
- Tá, amor!- Respondi com um nó na garganta, não conseguindo mais segurar o choro. Pus as mãos no rosto e soltei tudo de uma vez.
Senti seus movimentos apressados na cama, ao aproximar.
- Rafa, por favor, se abra para mim? Eu estou preocupado com você. Tem dias que pego você desse jeito, e agora...- Deixei que os soluços altos cortassem sua fala, e ele então suspirou. - Meu amor, o que houve? Eu fiz alguma coisa que te chateou? Conversa comigo.-
- Me deixa sozinha, por favor!-
Pedi em meio ao choro, e antes dele levantar me deixando só como eu havia pedido, permaneceu me encarando com um olhar perdido. Mas logo suspirou derrotado, e seguiu para fora do quarto.
Após eu soltar tudo que estava entalado, levantei da cama e entrei no banheiro. Lavei bem o rosto e tomei um banho. Quando me vi melhor, vesti uma roupa casual e saí do quarto após pentear os cabelos e pôr uma maquiagem leve. Flávio estava na cozinha com Sofia e Gabriel. Os três tomavam café da manhã.
- Fiz sua crepioca.- Ele disse um tanto sem jeito. Isso me deixou ainda pior.
Não respondi, era capaz de desaguar novamente. Somente sentei e me servi.
Na mesa só se ouvia a conversa entre as crianças, e a voz de Flávio quando precisava responder um dos dois. Eu porém, me mantive em silêncio, pensativa e angustiada. Talvez minha tensão pré menstrual estivesse intensificando tudo que venho sentindo durante todo esse tempo, e hoje transbordei.
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Eu, Tu, Eles!
FanfictionDona de uma vida aparentemente tranquila, uma carreira de sucesso, um marido perfeito e uma filha linda, Rafaella se ver em uma linha cruzada entre o comodismo da vida cotidiana e uma experiência recém-descoberta. No auge dos seus 3 anos de casament...