O que você está dizendo?

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— O que você está dizendo, Steve? — Indagou Karen, ficando com os olhos marejados. Ela estava literalmente em choque.— Eu não admito que você fale essas coisas, meu Deus! O quê que é isso, não, não..

Steve tentou manter a calma, antes de soltar um forte suspiro e começar a contar.

— Quando eu conheci o Charlie, foi algo muito intenso. Eu nunca imaginei que fosse gostar de um cara, antes. E ali estava ele, imerso num dilema que o assombrava. Ter o Charlie ao meu lado, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido em minha vida.— Disse limpando as lágrimas.— Ele trouxe muita luz à minha vida. Mas ainda assim, eu sentia que algo estava em falta, não em mim, nele!

Karen ouvia atentamente, tal como Kelvin.

— Era como se ele tivesse medo ou receio, sei lá.. de um simples toque. Ok, eu entendi que ainda era tudo novo pra ele e que talvez ele não estivesse pronto. E eu fiquei esperando, até o dia em que ele se sentiu pronto e a gente quase ficou, até perceber que o problema do Charlie estava mais pra dentro do que para o lado externo dele.

— Eu não entendo onde você quer chegar com isso.

— Amor, escuta o que ele está dizendo! — Disse ele, segurando a sua mão.

— Nós procuramos um psicólogo. E depois de algumas sessões, nós descobrimos o problema. Charlie foi estuprado quando criança, e isso acabou gerando um descontrole emocional muito grande. O seu subconsciente acabou ocultando certas informações, como forma de se proteger da tristeza. Ainda assim, Charlie se sentia atormentado por aquelas lembranças aterrorizantes. Charlie não se lembrava de nada daquilo, por mais que tentasse.

— O acidente! — Disse Karen, olhando para o nada, visitando memórias do passado.

— O quê? — Questionou Kelvin.

— Olha, eu tenho o vídeo. Eu gravei sem permissão do psicólogo.

Karen pegou no celular e viu o vídeo que era exibido.

— Não, não pode ser.— Falou a mãe, tapando a boca com a mão, enquanto balançava negativamente a cabeça.— Isso não pode ser verdade. Eu confiei os meus filhos pra esse desgraçado, Kelvin. Não... não, não!

Ela simplesmente não acreditava no que estava vendo e ouvindo. No vídeo, Charlie perdia o controle da postura ao detalhar cenas amargas de seu passado mais remoto.

— Ele não lembrava por causa do acidente.

— Desculpa, que acidente? — Perguntou Steve.

— Quando Charlie tinha seis anos, a gente sofreu um acidente de carro enquanto eu levava ele à academia pra ensaiar. O acidente foi tão grave, que felizmente a gente conseguiu sair bem, na medida do possível, mas Charlie perdeu grande parte de sua memória. Quando você me falou da questão do toque e agora, sabendo disso, eu percebo que eram gatilhos. Faz todo o sentido, depois que tudo isso aconteceu, Charlie conheceu Daniel e tentou alguma coisa com ele, mas não deu muito certo porque houve uma traição da parte do rapaz, que morreu no mesmo dia, salvando a vida do Charlie. Charlie não dava o que ele queria, e ele foi procurar em outro lugar.

— Faz sentido! — Disse Kelvin.                

— Charlie realmente não se sentia muito à vontade fazendo toques mais íntimos. Felizmente a gente procurou ajuda, só que isso só machucou mais o  Charlie. Sabe, preferia que a gente não soubesse de nada, talvez agora, o Charlie estivesse aqui, bem!

— Não, filho, a culpa não é sua, eu é que falhei.— Disse Karen.— Desde os primeiros anos de vida, Charlie já demonstrava um comportamento diferente dos demais. Ao longo do seu crescimento, eu descobri o real motivo, só que eu ainda não estava pronta pra lidar com aquilo. E graças a isso, o meu filho passou metade da sua vida fingindo ser quem não era só pra não se assumir, por medo. E eu não estava lá, eu não estava lá quando ele precisou. Eu estava tão perto, meu Deus!

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