Capítulo 31 - ❝Amarelo no mundo Azul❞

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        Fomos almoçar em um restaurante local, nada muito chique para não chamar a atenção. A conversa foi aleatória e as carícias se tornavam aos poucos mais explícitas, mas eu não esquivava, não conseguia, era como se um imã me puxasse para ele com aquele sorriso libertino e olhos brilhantes.

       Quando terminamos de comer, resolvemos apenas dar uma volta de carro, parando em uma praça mas não saindo do veiculo, enquanto tomávamos um sorvete. Eu tinha outro motivo para ter chamado Tom para um encontro, não só para conhecê-lo mais ou passarmos mais tempo juntos e sozinhos. Eu olhava fixamente para meu sorvete enquanto ele me olhava, tomando seu sorvete também. O cenho se franziu, percebi de soslaio, me levando a suspirar abaixando o potinho sobre o colo.

- A gente precisa conversar - minha voz saiu um pouco falhada enquanto o olhava, os olhos parecendo temer algo - Não é sobre nosso relacionamento, fica tranquilo, bom, não diretamente.

- Eu...

- Não, você não fez nada - nego sorrindo curto e virando meu corpo para ele - Eu só queria me abrir com você, te contar sobre algumas coisas.

- Não precisa - o cenho franzido demonstrou o quanto achava que eu estava me forçando a isso.

- Mas eu quero, Tommy - limpo o canto da sua boca com o polegar - É sobre...Sobre a gente ainda não ter transado.

- Lianna...

- Cala a boca e escuta, Kaulitz - ordeno, o vendo se calar na hora, comigo respirando fundo - Antes de você eu tive um único namorado, ele tinha a idade da Leona e era da sala dela. Eu gostava dele antes mesmo de conhecê-lo, aquela paixão estudantil que faz você ir pra escola só para ver a pessoa, sabe? - acabo fungando, me encostando na porta e apoiando os pés no banco de couro - Quando a gente começou a namorar era bom, ou eu achava que era bom, ele me transformou em um troféu, como se fosse uma conquista já que a minha irmã não deixava ninguém se aproximar de mim e com motivos ótimos.
       'Eu era tão sexualizada por ele que eu mudei praticamente meu guarda-roupa inteiro porque ele queria, e como qualquer namorada trofeu eu ficava do lado dele quieta, apenas concordando e usando as roupas que ele queria. Eu estava apaixonada, ou achava que estava, Nana tentou me alertar, tentou me afastar dele mas eu não ouvia, eu estava tendo a vida que ela facilmente poderia ter mas não tinha, então eu continuei.
       'Mas conforme o tempo foi passando eu comecei a perceber que ele era possessivo e extremamente abusivo. "Não" não podia sair da minha boca pra ele e foi com isso que começou... Começou a me forçar...Me forçar a transar - minha garganta se embolou nas palavras, com a raiva florescendo nos olhos do Kaulitz - Uma hora se tornou tão comum ser ruim que eu achei que era normal, na verdade nunca foi bom, sempre tinha que ser ele, se ele não gozasse a culpa era minha e ele continuava até gozar. Era nojento.
      'Quando ele começou a ver as cicatrizes das minhas coxas aumentando, ele me xingava, falava que era nojento e eu deveria parar com isso, porque os vestidos curtos que ele me obrigava a usar mostravam cada uma delas. Eu tinha quinze anos, Tommy e não sabia se valia a pena qualquer coisa - eu sentia as lágrimas borrarem minha maquiagem, rolando pelo meu rosto enquanto cada vez mais via uma fúria sem igual se acender em Tom, que parecia segurar as lágrimas de raiva - Fiquei presa nesse relacionamento por um ano e meio, minha irmã desesperada em me salvar da situação e eu só querendo me sentir popular e desejada, como eu achava que ele me fazia me sentir. Mas na verdade eu definhei até o último minuto antes e depois de terminar.
      'No dia em que a Leona terminou com ele por mim, foi porque eu estava tão dopada de remédio que eu não conseguia formar meia dúzia de palavras, eu só sabia pedir desculpas pra minha irmã. Eu nunca esqueci o olhar de desespero dela, a hora que ela me forçou a vomitar os comprimidos, a hora que ela me abraçou com nossos corpos embaixo do chuveiro gelado, a hora que a escutei chorar, porque os remédios me fizeram ficar com a visão embaçada depois de algum tempo. Eu lembro de tudo
      'Minhas inseguranças são poucas: Odeio meu corpo porque ele vivia me lembrando que minha irmã era mais magra, portanto mais bonita; Odeio usar roupas curtas porque me sexualizei por muito tempo só para ter aprovação de pessoas com quem não me importava; Odeio minha voz porque ele dizia que era irritante e que se eu cantasse eu espantaria até os vermes; Odeio minhas cicatrizes porque ele fingia vomitar quando as via. Ele nunca foi de fato bom, do inicio ao fim foi um crápula e me tratou como lixo. Por causa dele eu acho que você vai me colocar de escanteio, porque ele sempre me deixou de escanteio, por causa dele eu me sinto insegura quando você me toca ou quando me beija, ou quando olha para uma garota qualquer. Tudo porque eu queria ser alguém que eu não sou.

❝Live Every Second❞ | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora