O local estava silencioso, meu olhar perdido evitando os que estavam ao meu redor, os cabelos ainda pingando água pela camisa cinza que quase se tornava um vestido em mim. Minha cabeça latejava, meu corpo estava dolorido e tudo que eu queria era não ter que encarar minha família agora.
Eles se mantinham calados, acredito que esperando eu explicar algo, contar o que aconteceu, porque menti e porque eu tinha apanhado. Mas eu não queria falar, o mundo na minha cabeça estava muito mais interessante, sem ninguém me julgando, uma música incessante tocando de fundo enquanto, em minha mente, eu estava bem, vivendo uma vida sem complicações ou tristezas, o que todos sabiam que era mentira.
- Lia - Leona dá um passo a frente, comigo me encolhendo na poltrona, evitando os olhos felinos, que já tinha visto de soslaio, me fitando da forma que só tinha visto uma vez em meio a visões turvas - O que aconteceu?
- Eu queria sair - respondi ainda sem olhá-la, passando a olhar para minhas mãos.
- Nós saímos - a voz firme de Tom me estremeceu, não queria olhar em seu rosto e encontrar a mais pura decepção ou raiva - Disse que ficaria bem e que me contaria o que estava acontecendo.
- Disse que contaria quando me sentisse melhor - murmuro, a voz baixa e cansada.
- Deveria ter insistido, por que não atendia o celular? - pergunta e pude ver a sombra de seus movimentos ao cruzar os braços.
- Desliguei, a bateria estava fraca.
- Quem fez isso com você? - pergunta Georg antes de qualquer um.
- Um grupo de adolescentes, acho que eram fãs - respondo dando de ombros, sentindo as costas doerem - Acho que eu conhecia uma das meninas, não tenho certeza.
- Claro, estava bêbada - Bill parecia irritado, mais irritado que o irmão que mantinha os olhos em mim - O que deu em você? Pensei que estava bem, pensávamos que não entraria de novo nisso - eu apenas dei de ombros, não queria conversar e toda aquela pressão me fazia querer chorar, não só pela angústia presa no peito, mas também pela raiva por ser sempre um estorvo para eles.
- Vou pro meu quarto - me levanto e caminho calmamente subindo as escadas.
Me jogo na cama e me encolho abraçando um travesseiro, as lágrimas rolando pelo meu rosto e molhando a fronha então começaram, e acho que dormi assim.
⁂
Se passaram alguns dias, eu não levantava muito da cama, era do quarto pro estúdio e assim por diante. Tom passava as noites comigo, me ouvindo chorar e me consolando silenciosamente, ele não disse nada desde aquele dia sobre o que aconteceu, mas às vezes via que se culpava e isso fazia me sentir um monstro ainda pior.
Tinham vezes que eu pegava os meninos conversando sobre como eu estava, sobre o que poderiam fazer para me ajudar, mas pareciam nunca chegar em um consenso, principalmente com Tom dizendo que ele deveria dar um jeito nisso porque era por causa dele que eu estava ali. Nunca tinha coragem de chegar falando nesses momentos por total medo de começar a falar e passar mais algumas horas chorando, então apenas entrava e pegava o instrumento ou água, com eles se calando e observando meus movimentos, vez ou outra me perguntando se queria sair com eles, mas sempre negava e voltava para onde estava.
Eu me odiava a cada segundo presa aos meus pensamentos, tão torturantes, tão desistentes e tão cansativos. Não me reconhecia mais, totalmente apática nas poucas vezes que me olhava no espelho e, sinceramente, olhar meu reflexo era ainda mais torturante. Cabelos cheios de friz, profundas olheiras, pele ressecada, lábios cortados e cortes se cicatrizando logo abaixo dos seios.
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❝Live Every Second❞ | Tom Kaulitz
Novela JuvenilLianna é uma garota de 18 anos que sempre sonhou em viver de música, barrada de seus sonhos pelos pais que não viam futuro nisso. Seu futuro então muda quando, em uma noite, ela conhece Tokio Hotel, uma das mais famosas banda de rock emo da Alemanha...