Capítulo Quarenta e Dois

15 87 0
                                    

Mauro pinheiros:

A pior sensação que já experimentei em toda a minha vida, ou na verdade, em quase todas as vidas que vivi, foi ter de comunicar a um membro da família a terrível notícia da morte do seu ente querido. Essa dor se torna ainda mais avassaladora quando se trata de uma criança. Cada palavra que sai da minha boca nesse momento parece pesar toneladas, e o olhar devastado nos olhos daquela família é algo que nunca esquecerei. É uma carga emocional esmagadora que se instala no coração e na mente, e é uma experiência que esperava nunca ter de enfrentar novamente.

Em cada uma das minhas 106 vidas, testemunhei e compartilhei essa notícia devastadora com a maior delicadeza possível. Em cada uma dessas ocasiões, sentia como se meu coração fosse se partir ao testemunhar o desespero que tomava conta daquelas famílias. Em todas as vidas, eu entendia profundamente a angústia que estavam passando e ansiava por ajudar, mas frequentemente me via perdido, sem saber ao certo como confortá-los. Cada uma dessas experiências era uma carga emocional esmagadora, e mesmo com a repetição ao longo de tantas vidas, a dor nunca diminuía.

Forest estava sentado à minha frente, o garotinho com uma expressão que me olhava com completa curiosidade, ao mesmo tempo em que parecia enxergar além de mim. Suas pequenas sobrancelhas franzidas em um gesto de contemplação, seus olhos inocentes e brilhantes absorvendo cada palavra que eu dizia. Era como se ele estivesse tentando entender o inexplicável, mergulhando no abismo da dor que agora fazia parte da sua vida. Suas expressões infantis eram um lembrete doloroso da fragilidade da existência e da força da resiliência humana, mesmo nas horas mais sombrias.

Castiel entrelaçou seus dedos com os meus e sorriu agradecido. Com cuidado, comecei a falar com Forest, ciente da delicadeza da situação.

- Forest, há algo importante que precisamos conversar sobre seu pai...- iniciei, ponderando as próximas palavras. - Querido, é preciso que você saiba que seu pai ficou muito doente, e, infelizmente, não conseguimos ajudá-lo a melhorar. Na noite passada, seu pai faleceu, o que significa que ele não está mais conosco. Isso é muito, muito triste, e todos nós estamos sofrendo muito com essa perda. Quero que você entenda que está tudo bem sentir-se triste, com raiva ou confuso. Esses sentimentos são normais quando perdemos alguém que amamos.-Fiz uma pausa, olhando nos olhos do garotinho para ter certeza de que ele estava acompanhando. - Pode ser difícil de compreender agora, mas imagine que seu pai está descansando e não sentindo mais dor. E lembre-se de que você não está sozinho nisso. Estamos aqui para ajudar e amar você, não importa o que aconteça. É normal sentir-se triste, mas com o tempo, essa tristeza pode diminuir, e você vai se lembrar do seu pai com carinho.

A expressão de Forest parecia refletir uma mistura de emoções, mas ele segurava firme a minha mão, como se buscasse conforto naquele gesto. Castiel permanecia ao nosso lado, oferecendo apoio silencioso.

- Se você tiver alguma pergunta ou se quiser falar sobre o seu pai, sinta-se à vontade para conversar conosco a qualquer momento - continuei. - Perder alguém que amamos é uma das coisas mais difíceis que podemos enfrentar na vida, mas é importante que compartilhemos nossos sentimentos e estejamos juntos nesse momento. E lembre-se, não importa o que aconteça, o amor que seu pai tinha por você sempre estará com você, em seu coração.

Olhei para Castiel, que assentiu com um olhar de compreensão, e depois voltei a encarar Forest, oferecendo um sorriso gentil.

- Nós estamos aqui para apoiar você, Forest. Não importa o que aconteça, você nunca estará sozinho, e sua família está unida nesse momento difícil.

Nesse momento, Forest começou a chorar. Suas lágrimas rolaram silenciosamente pelo seu rosto infantil, e ele apertou nossas mãos com mais força. Seu choro era o desabafo de uma dor profunda, uma manifestação genuína de pesar diante da notícia avassaladora.

Castiel e eu o abraçamos carinhosamente, oferecendo todo o apoio que podíamos. Não havia palavras que pudessem apagar a dor da perda, mas o conforto de um abraço caloroso e solidário era o que tínhamos para oferecer.

- Está tudo bem, Forest - sussurrei, tentando consolar o garotinho da melhor maneira possível. - Chorar é uma maneira normal de expressar nossos sentimentos quando estamos tristes. Estamos aqui para você, meu querido, e vamos passar por isso juntos.

O choro de Forest continuou por um tempo, enquanto nós o seguramos com ternura, compartilhando o peso da tristeza que envolvia aquele momento doloroso.

********************************************

Forest chorou até que a exaustão o dominasse, mas seus dedinhos frágeis continuavam agarrados aos meus. Com cuidado, peguei-o em meus braços e o conduzi a um quarto acolhedor, mantendo-me ao seu lado enquanto ele soluçava. Suas lágrimas caíam, incontroláveis, como um riacho de tristeza e desespero.

No quarto, escolhi uma cadeira confortável e o aconcheguei nos meus braços, mantendo-o perto do meu peito para que ele pudesse sentir o calor e a segurança do meu abraço. Forest continuou a chorar, e eu sabia que a dor que ele sentia era quase insuportável. Seu pequeno corpo tremia com a angústia, e suas lágrimas teimosamente deslizavam de seus olhos, como cristais salgados.

Eu acariciei seus cabelos macios e sussurrei palavras suaves de consolo, tentando transmitir o amor e o apoio que ele precisava.

- Estamos aqui, Forest. Você não está sozinho,com o tempo, a dor vai diminuir, e você se sentirá melhor. Até lá, estamos aqui para você, meu querido.

Enquanto eu continuava a segurá-lo, observava seu corpo gradualmente relaxar, e seus soluços se transformarem em suspiros lentos e profundos. Mesmo com a tristeza ainda presente em seus olhos, havia uma sensação de calma em seu semblante, como se o abraço e a compreensão tivessem começado a amenizar a intensidade da dor que ele estava sentindo.

Ouvimos a porta abrir e Alica entrou na sala com sua pelúcia em mãos. Com cuidado, ela a colocou ao lado de Forest e então se deitou ao lado dele, mantendo um olhar atento e compreensivo em direção ao garotinho.

- Tio Mauro, ele vai ficar bem? - Alica perguntou com uma voz suave, carregando uma sabedoria incomum para sua idade. - Eu sei como é perder a única família que a gente tem. O pai dele foi como minha mamãe, me protegendo até o final.

O peso das palavras de Alica pairou na sala, revelando a conexão especial que ela tinha com Forest. Era notável como, mesmo em sua inocência infantil, ela conseguia perceber a profundidade da perda que o garoto estava enfrentando.Na verdade, eu também sabia como cada um deles estava de luto. Quando perdi minha mãe nesta vida, me senti desesperado e completamente perdido. Uma tempestade de emoções me dominou, e eu experimentei a raiva, a tristeza e a sensação de vazio, tudo ao mesmo tempo. No entanto, eu não consegui me entregar a esses sentimentos até que as lágrimas finalmente vieram, e meu coração doeu ainda mais do que o normal.

Apesar de ter meu pai e minha irmã ao meu lado, a dor que sentia era avassaladora. Era como se uma parte de mim tivesse sido arrancada, deixando um vazio profundo e angustiante. Mesmo com o apoio da família, a sensação de perda e a solidão eram insuperáveis, pelo menos por um tempo. Foi somente depois de deixar minhas emoções fluírem que comecei a encontrar uma maneira de lidar com a dor e encontrar algum consolo através da arte.

- Vai demorar um pouco, mas ele vai ficar um pouquinho melhor,- falei com um sorriso gentil, tentando confortar Alica e, ao mesmo tempo, transmitir a Forest uma mensagem de esperança em meio à escuridão que ele estava enfrentando. A vida podia ser incrivelmente desafiadora, mas a compaixão e o apoio da família podiam ajudar a iluminar o caminho, mesmo nos momentos mais sombrios.

A tristeza ainda pairava no ar, mas também havia um raio de esperança, uma compreensão de que, com o tempo, as feridas do coração poderiam começar a cicatrizar. Enquanto Alica, Forest e eu compartilhávamos aquele momento, estava claro que a família era um refúgio no qual encontrávamos força, conforto e amor para enfrentar os desafios da vida.

________________________

Gostaram?

Até a próxima 😘

Amor Do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora