Capítulo Dezessete

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Castiel starys:

Sentei com força na cama, exasperado com meus pensamentos, e sem querer, chutei alguma coisa próxima. Uma garotinha que estava ao meu lado ficou surpresa com o meu gesto brusco e me olhou com uma expressão de curiosidade intensa. Seus olhos inocentes buscaram uma explicação para o que acabara de acontecer, e eu me vi embaraçado com a minha própria reação.

Com um suspiro profundo, tentei acalmar minha inquietação e me virei para a garotinha. Ainda que eu estivesse envolto em questões complexas e lembranças dolorosas, eu sabia que não podia deixar que minha frustração atingisse aqueles ao meu redor.

- Desculpe, não foi minha intenção assustar você. - Falei com gentileza, tentando oferecer um sorriso tranquilizador àquela garotinha curiosa.

Ela piscou um olho de forma adorável antes de apontar para mim, pegando a pelúcia de cachorrinho que estava no chão. Sorri ao perceber que ela estava tentando me confortar, mesmo sem palavras. Peguei a pelúcia e agradeci com um aceno de cabeça, apreciando o gesto de bondade daquela garotinha.

- Esse é o Delfos - A garotinha falou. - Vai ajudar a te reconfortar

A pelúcia era macia ao toque, e segurá-la me trouxe um certo conforto. Era como se aquele pequeno gesto tivesse o poder de acalmar um pouco a tempestade que rugia dentro de mim. Olhei nos olhos curiosos da garotinha e soube que, de alguma forma, ela entendia que eu precisava de um lembrete da simplicidade e da ternura que a vida ainda podia oferecer.

Quando a porta foi aberta, nos viramos para ver Isis aparecendo na entrada. A garotinha ao meu lado pareceu assustada com a chegada dela e, em um piscar de olhos, ela se transformou em vento, desaparecendo diante de nossos olhos. A pelúcia, no entanto, permaneceu comigo, como se fosse a única evidência de que a garotinha realmente estivera ali.

Olhei para Isis com curiosidade, imaginando o que ela tinha a dizer, então seus olhos caíram em cima da pelúcia.

- Vejo que conheceu a nova jovenzinha que estou ajudando no momento - Isis disse com um sorriso caloroso e tirou a pelúcia dos meus braços com certa delicadeza, revelando o brilho nos olhos da pequena Alica.

- Ela é uma mestiça de humana com um Silfos, sabia? - Falei, enquanto observava Alica com curiosidade.

Os silfos, aquelas criaturas etéreas, eram seres fascinantes. Possuíam asas que ora lembravam as de borboletas, ora eram tão finas quanto as de uma libélula, mas, curiosamente, podiam assumir forma humana por breves períodos de tempo. Seu tamanho variava, mas na maioria dos casos, os espíritos do ar não eram maiores que um ser humano; frequentemente, eram menores.

Recordava-me de que o lar dos silfos estava no topo das montanhas, o que tornava ainda mais intrigante a presença de uma pequena mestiça como Alica na cidade.

- Sim, essa é a Alica Chipper - Isis disse, com um tom de orgulho na voz. - Minha filha mais velha a enviou esta manhã. Parece que o lar dela foi terrivelmente atacado por algumas criaturas, principalmente demônios, que conseguiram subir até a montanha e causaram um rastro de destruição em massa. Por sorte, essa garotinha conseguiu sobreviver. Pelo que minha filha contou, encontraram o corpo da mãe de Alica destroçado, e ela estava lá, olhando em direção a um guarda-roupa. Devo dizer, com toda certeza, que a mãe dessa garota deve ter lutado bravamente para proteger a localização de onde a filha estava escondida.

Meu coração caiu em pedaços ao pensar em como essa garotinha devia estar se sentindo nesse momento. Afinal, ela havia perdido tudo em questão de segundos e estava agora completamente sozinha no mundo, sem sua mãe para protegê-la e com a realidade cruel de um ataque demoníaco ainda fresco em sua memória. A fragilidade da situação de Alica e a gravidade do que ela havia testemunhado ecoavam na minha mente, enchendo-me de empatia e tristeza profunda por essa criança que enfrentava um futuro incerto.

- Como isso pôde acontecer? Lembro-me de que, além dos Guardiões, existem os Guardas Sobrenaturais e os Jovens Guerreiros que protegem o mundo e a sociedade submundana dos ataques de demônios ou feiticeiros, e ainda os semideuses e os deuses, sem falar no clã dos anjos, pessoas que protegem a ordem e cuidam do mundo todo - falei, expressando minha perplexidade diante da situação. Meu conhecimento do mundo havia se tornado obsoleto diante das revelações de Isis.

Isis balançou a cabeça com um olhar sombrio, como se o que estava prestes a contar fosse ainda mais perturbador do que eu poderia imaginar.

- Castiel, já se passaram três mil anos desde a última vez que você viu este mundo - Isis disse com uma voz carregada de pesar. - Existem cada vez menos Guardas Sobrenaturais; os Jovens Guerreiros quase desapareceram ou estão muito orgulhosos em suas próprias alcateias para ajudar outros submundanos; semideuses morrem em segundos nas próprias missões que os deuses lhes dão para sobreviverem e usarem a todos a sua maneira - ela suspirou profundamente, como se o fardo do tempo pesasse sobre seus ombros. - Além disso, os Guardiões nunca interfeririam nesse tipo de caso. Estes são demônios comuns, não aqueles que vagam de uma dimensão para outra; eles só residem nesta dimensão ou na demoníaca. Estamos enfrentando uma época sombria, e a segurança do submundo está pendendo por um fio.

A gravidade da situação tornou-se ainda mais evidente para mim, à medida que eu compreendia a escala da decadência e o desaparecimento das forças protetoras que uma vez mantiveram o submundo seguro. Era uma realidade sombria a ser confrontada, e eu sabia que teríamos que encontrar uma maneira de enfrentar esse novo mundo de desafios.

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Isis me deixou sozinha na sala por um momento e, instantes depois, voltou com Alica seguindo-a de perto. Alica sorriu timidamente na minha direção, seus olhos brilhando com a ingenuidade da juventude. Eu sabia muito bem que os Silfos eram espíritos elementais bondosos e alegres, mas mesmo assim, não pude deixar de notar uma sombra de pesar que pairava sobre o rosto da garotinha enquanto ela entrava na sala. A história que ela carregava e as tragédias que havia testemunhado deixavam marcas profundas, mesmo em uma criatura tão especial como ela.

- Agradeço imensamente por ter me emprestado sua pelúcia. Ele tem sido uma fonte incrível de conforto - disse eu com um leve sorriso, dirigindo-me a Alica, cujos lábios se curvaram em uma expressão suave e gentil ao pegar o adorável urso de pelúcia em suas mãos. - Isis, acredito que estou pronto para experimentar a nova versão do ShuShu neste exato momento.

Os olhos de Isis pousaram sobre mim como se eu fosse um autêntico tolo, uma reação que já estava acostumado a receber ao longo dos anos, muito antes de ser cativo das estrelas, quase me fazendo soltar uma risada. As pessoas frequentemente tinham essa maneira peculiar de reagir à minha presença.

- Eu não sei... - começou ela, hesitante.

- Então, por favor, me entregue todas as poções que preciso engolir de uma vez. Sei que você está ansiosa para se ver livre de mim o mais rápido possível - declarei, observando seus olhos cintilarem, como se isso fosse exatamente o que ela ansiava naquele momento.

Estalou os dedos em segundo estava segurando as poções em suas mãos por um momento, os olhos ainda refletindo uma mistura de emoções. Parecia que uma tempestade de pensamentos passava por sua mente, antes que finalmente ela suspirasse suavemente.

- Então, vamos começar - ela disse com um grande sorriso na minha direção, estalando a língua em um gesto amigável.

Meia hora depois de ingerir mais de vinte poções, eu estava vestindo uma calça jeans, a mesma jaqueta que usara anteriormente e uma camiseta manchada com um pouco de pasta de dente. Meus cabelos estavam bagunçados, como se eu tivesse acabado de passar por uma tempestade. Porém, apesar da aparência um tanto desgrenhada, eu me sentia mais forte e mais confiante.

Isis lançou-me um olhar que parecia sugerir que eu era um completo tolo antes de abrir um portal na frente da casa de Mauro e me empurrar para o outro lado. Aproximei-me da porta e estendi a mão para tocar a campainha, preparando-me para enfrentar o que quer que estivesse à minha espera do outro lado.

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Até a próxima 😘

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