Capítulo 29

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Angel

  _ Você veio pra se vingar do seu pai e tripudiar sobre o sofrimento dele? - Megan fala alterando a voz.
_ Não! Você está louca? Eu vim porque realmente me importo, apesar dele não se importar comigo. Eu vim disposta a perdoar o quê ele me fez e quero que ele fique bem, mas não vou esconder mais nada porque eu não tenho nenhum motivo pra isso.
_ Você realmente mudou, se tornou egoísta e fria, não se importa se vai decepcionar mais uma vez seu pai que agora está em uma cama de hospital.
_ Se ele realmente quer me ver antes do transplante, estarei lá. Mas hoje eu não devo nenhuma satisfação da minha vida a ele e muito menos a você.
  Saí do escritório e fui direto pro meu quarto, aquela conversa me deixou com muita raiva e eu preferia me acalmar antes de voltar pra sala. Alguns minutos depois minha mãe entrou no quarto e eu estava andando de um lado pro outro.
_ Vai me contar o quê aconteceu ou vai ficar andando de um lado pro outro até fazer um buraco no chão?
  Contei pra ela o quê aconteceu e ela ficou tão possessa quanto eu, mas mesmo assim tentou me acalmar.
_Angel, eu te dei todo apoio pra vir pra cá nesse momento de dificuldade do seu pai, sei o tamanho da mágoa que ele causou mas também sei da falta que ele faz na sua vida. Você passou anos fechada em si mesmo e agora você se abriu pro Juan, ele me irrita, mas eu vejo o quanto ele te ama e te faz feliz.
_ Mãe, pra mim não existe esse absurdo na nossa diferença de idade, isso é só convenção da sociedade, se nós dois estamos felizes qual é o problema?
_ Minha filha, felicidade incomoda. Eu passei por muito preconceito com meu marido, as pessoas diziam que eu dei o golpe do baú e tantas outra coisas, quando me envolvi com seu pai, que é mais novo do que eu, também fui julgada. Não é a diferença de idade que incomoda, é a felicidade.
_ Eu vou amanhã cedo ver meu pai, vou ficar até terminar a cirurgia e depois volto ao Brasil, não vou viver minha felicidade próximo de pessoas que se incomodam com isso.
_ Faz o que seu coração mandar, eu tô aqui pra te apoiar no quê você decidir, e vamos descer antes que a pizza esfrie e que seu tiozão infarte.
  Descemos, Juan estava sério olhando pra janela, eu o abracei por trás, ele se virou, me deu um beijo e me abraçou com força.
_ Quer conversar, Anjo?
_ Depois, meu amor, vamos alimentar esse bebê que ele está faminto.
  Depois de comer, minha mãe foi pro quarto dela, eu e Juan fomos pro meu, deitamos na cama e ficamos abraçados em silêncio. Notei que Juan estava pensativo então resolvi puxar assunto.
_ Um beijo pelos seus pensamentos.
_ Só um?
_ Fala o que e eu vejo se vai merecer mais.
_ A discussão com a Megan foi por minha causa?
_ Não! Foi por causa do preconceito e da estupidez dela. Eu sabia que você não ia ficar sossegado enquanto eu não contar o que aconteceu.
Contei tudo ao Juan, que me ouviu em silêncio e só depois que eu terminei é que resolveu se pronunciar.
_ Eu não quero influenciar sua opinião e acho que ela foi extremamente infeliz e preconceituosa. Eu notei desde que chegamos a forma como quase todos nos olham.
_ Isso te incomoda, eu não queria te fazer passar nenhum constrangimento.
_ Pra falar a verdade, eu até gosto de causar todo esse reboliço, não é constrangimento nenhum estar  com uma mulher como você, linda, inteligente, forte, ousada... Eu concordo com sua mãe, não é nossa diferença de idade que incomoda, é nosso amor, nosso respeito, nossa cumplicidade e nossa felicidade.
_ O quê você acha que eu devo fazer?
_ Você veio pra cá pra ver seu pai, mesmo que o afastamento tenha partido dele, você veio em busca de uma aproximação, certo? Se não fosse esse discurso de intolerância da Megan você chegaria pro seu pai e falaria que está com um homem muito mais velho ou simplesmente diria que está com um homem que te faz feliz?
_ Nossa! Eu não pensei nisso, claro que diria que estou com o homem mais incrível que conheci, o homem que me completa, me protege, cuida de mim, que eu amo e que é o pai do meu bebê. Pra mim nossa idade não é relevante.
_ Então você não precisa sofrer com isso agora, vai até o seu pai e diga como se sente, o resto é detalhe.
_ Eu já disse que eu te amo hoje?
_ Eu adoro ouvir.
  Depois de conversar com o Juan eu entendi o que ele disse e me senti uma boba por dar ouvidos a Megan. Nós nos amamos muito aquela noite e depois dormimos abraçados até o despertador tocar nos tirando da nossa redoma de paz. Levantei primeiro e quando estava no banho senti as mãos de Juan nos meus seios me abraçando por trás e beijando meu pescoço.
_ Acordou animado?
_ Com você comigo eu fico sempre animado.
  Depois do nosso momento no chuveiro, fomos até a cozinha preparar nosso café da manhã, quando minha mãe chegou estávamos terminando de pôr a mesa. Tomamos café conversando amenidades e o Juan nos levou até o hospital, ele preferiu nos deixar lá e voltar pra casa pra resolver algumas coisas do restaurante e também pra evitar um clima chato com a Megan.
  Diferente dos outros dias, meu pai autorizou minha entrada e fui direto ao quarto dele onde ele ainda dormia e o Arthur trabalhava em seu notebook. Logo que me viu, Arthur desligou o notebook e veio me cumprimentar, logo o Lucas também chegou e ficamos conversando baixinho, não percebemos quando meu pai acordou.
  _ Eu devo estar morrendo mesmo pra ter vocês três juntos novamente.
_ Oi, pai! Como você se sente? - fui a primeira a falar.
_ Pra um moribundo, até que me sinto bem.
_ Eu só vim porque a mamãe disse que você queria falar comigo, mas se tiver incomodando, eu saio. - Lucas falou de cabeça baixa.
_ Eu realmente queria falar com vocês três antes de entrar em cirurgia.
_ Estamos aqui. - eu falei.
_ Eu sei que decepcionei vocês três, Angel eu te abandonei num momento em que você precisava de apoio. Lucas, eu fui intolerante com você e com suas escolhas. Arthur, eu sequer deixei que fizesse suas escolhas. Mesmo assim os três estão aqui dispostos a salvar minha vida. Os médicos não quiseram me dizer quem de vocês é o doador, mas eu preciso saber a quem devo agradecer e com quem vou ter uma dívida eterna.
_ Nós fizemos um acordo de não dizer exatamente por entender que nós três faríamos o possível pra te ver bem, mas não como uma dívida a ser cobrada depois e sim por ser o que é certo ser feito. - Arthur foi nosso porta voz.
_ De qualquer forma, eu quero dizer que sou imensamente grato a vocês três, eu não sei como vai ser essa cirurgia, nem a recuperação e o restante do tratamento, mas quero que saibam que apesar de tudo eu amo vocês três.

 

Quando o açúcar acaba - CONCLUÍDO Onde histórias criam vida. Descubra agora