▪︎ Capítulo 5 ▪︎

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°▪︎ Ártemis Turtschaninoff ▪︎°

Sentia minha cabeça doer enquanto forçava meu olhos a se abrirem, meu corpo também doía violentamente como se eu tivesse passado por uma transformação, lobos comuns não tem controle sobre a transformação durante as luas cheias, eu no entanto não era um lobo comum!
Poderia me transformar quando quisesse, se não fosse por essa maldita coisa no meu pescoço!
Forço meu corpo a se sentar e logo as lembranças do que havia acontecido antes que eu apagasse me atingem como um pedra afundando meu estômago, eu fui atacada, eu… Eu não me lembro o que aconteceu depois… Eles me seguraram… Eles me bateram… Eles conseguiram?
Eles violaram meu corpo?
Não!
Eu acho que não!
Eu tinha essa certeza absurda mesmo não me lembrando de nada depois do soco que eu levei, era um lapso branco, puxo a respiração com força e então ouço uma voz grave dizer.

— Como você se sente?

Encaro os olhos azuis de um soldado, sentindo meu corpo tencionar levemente, e mesmo não querendo demonstrar, meu corpo se retrai, ele iria me machucar?
Não, eu não via má intenção nos olhos dele, mas não gostava da sensação que ele me causava, era algo estranhamente familiar.
Puxo a respiração lentamente enquanto ele volta a falar, mantendo um tom frio.

— Você não vai responder?

Pisco, trincando os dentes, eu odiava todos eles, odiava a maneira como me olhavam, odiava como eles se achavam um exército com uma missão superior, caçar os monstros, mas quem eram de fato os monstros?
Eu acho que isso já não faz muita diferença para ninguém agora!
Digo depois de longos minutos.

— Você me salvou deles? Ou… Ele conseguiram… Eles… 

O corpo dele trava, me fazendo encará-lo confusa mesmo que mantenha minha máscara neutra, ele era estranho, tinha algo nele que me intrigava, algo sombrio, algo fascinante. Não, ele era a porra de um caçador, não deveria haver nada de fascinante nele!
O moreno disse mantendo o tom frio.

— Eles não fizeram nada com você!

Solto um suspiro aliviado enquanto eu murmuro.

— Então eu tive a sorte que outras não tiveram!

O rosto dele se fecha em uma máscara ainda mais sombria, ele tinha uma energia pesada em volta de si, mesmo sem poder acessar o meu poder de raposa, eu conseguia senti-lo, sentir o que arranhava os ombros dele como se fosse sua sombra. Ele me tira dos meus devaneios enquanto diz.

— O que quer dizer com isso?

Sinto uma leve revolta tomar lugar em meu peito, reviro os olhos, cruzando os braços sobre o busto enquanto digo séria.

— O que você entendeu?

O ar pesa assim que o puxo, assim que me lembro do que um daqueles malditos desgraçados disse, e repito as palavras que não eram minhas em voz quase engasgada.

— Eu não era a primeira, e não seria a última! Foi o que um dos porcos asquerosos disse!

Uma máscara de ódio, revolta, repulsa se instalou sobre os firmes traços dele, eu não tenho contato com muitos soldados, a não ser os do laboratório, e aqueles sempre parecem ter medo, ódio ou ambos os sentimentos em relação a mim, apesar de que deveria ser eu a ter esses sentimentos, pois são eles quem me sondam, e me furam, arrancam pedacinhos de mim todas as vezes. 
Mas esse homem não me olha de nenhum dos dois jeitos, não diretamente, não direcionadamente para mim, todos aqueles sentimentos eram para seus companheiros, ele me tira dos meus pensamentos confusos quando diz.

— Obrigado pela informação, vou fazer algo a respeito para que não aconteça novamente com mais ninguém!

O choque me atingiu de forma irracional, entretanto eu mal tenho tempo para processar, pois ele simplesmente se vira e começa a caminhar em direção a saída, mas antes que ele saia eu digo.

— Obrigada… 

O homem para, mas não se vira então eu só continuo.

— Obrigada por me salvar e por acreditar em mim!

Ele só balança a cabeça levemente e então sai, eu ainda tentava assimilar o que havia acontecido aqui, um caçador da Ordem, não só me salvou como também pretendia fazer algo para impedir que o que aconteceu aqui, o que quase aconteceu comigo, o que aconteceu com outras não se repetisse. 
Era no mínimo surpreendente!

Lua & CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora