– Antonella, minha princesa, você já conferiu mil vezes esse material. - Ramiro falou cansado, encostado no batente da porta do quarto extremamente cor de rosa que pertencia à sua afilhada.
– Eu sei, titio, mas preciso ter certeza de que está tudo aqui. O primeiro ano não é brincadeira, tenho que ter todo o material. - falou séria enquanto fechava a mochila com o material escolar novinho que haviam comprado.
Ramiro teve vontade de rir da seriedade que a garotinha estava tratando o primeiro ano do ensino fundamental mas segurou o riso.
– Agora já? - perguntou quando ela saiu de perto da bolsa, parando para pegar seu urso.
– Já. - assentiu.
O mais velho estendeu os braços para pegá-la no colo. Estava prestes a completar seis anos e quase já não cabia mais no aconchego de seus braços, mas seria sempre sua bebê.
Antonella chegou muito pequena para Ramiro, mal havia completado um ano quando seus pais morreram em um grave acidente de carro, ela sendo a única sobrevivente.
E enquanto chorava o luto de perder um de seus melhores amigos, Ramiro precisou ser forte e cuidar da garotinha, já que os pais o haviam escolhido como padrinho da menina.
Foi entre lágrimas tanto de Antonella quanto de Ramiro, que criaram um elo único e especial entre eles. E também com a ajuda da vizinha de porta, Luana, que era quem estavam indo encontrar agora.
Pelo menos uma vez ao mês, Luana praticamente obrigava Ramiro a sair para se divertir e viver um pouco, enquanto vigiava Antonella.
Era isso que iria fazer hoje, mais uma visita ao Naitandei, boate de uma amiga que Ramiro gostava de frequentar. Seja para assistir os shows ou passar a noite com alguma das lindas garotas que trabalham ali.
O toc toc baixinho de Antonella na porta de Luana foi respondido com o lindo sorriso da mulher ao vê-los.
– Boa noite, minha linda, já ta prontinha?
– Já, eu trouxe até o Urso - Antonella sorriu para Luana, mostrando a pelúcia.
– Que linda, meu amor, vem aqui com a titia. - estendeu os braços.
Antes que ela pudesse sair de seu colo, Ramiro cheirou o cabelo loiro da garotinha, inspirando o delicioso cheiro de morango e Antonella sorriu, deixando um beijinho no rosto do padrinho.
– Te amo, titio Ramiro. - sorriu para ele, que devolveu o sorriso enquanto engolia o bolo que se formava na garganta.
Lembrava como se fosse ontem Antonella agarrada em sua perna o chamando de "tio milho" quando ainda não sabia falar seu nome.
– Te amo, linda.
A menina praticamente se jogou em Luana, sorrindo animada para a noite de garotas que teriam.
– Se comporta, mocinha. - Ramiro falou para ela, que assentiu.
– E você, vai relaxar, vai viver! - Luana apontou para Ramiro, que bateu continência e caminhou até o elevador.
Já sabia o caminho da boate de cór, talvez poderia fazer o trajeto de olhos fechados.
Estacionou em qualquer vaga e andou desanimado até o interior do local, sendo rapidamente capturado pelo olhar das mulheres à espreita para agarrar ele e o dinheiro de sua carteira.
– Ramiro! - Cândida, a dona da boate, o chamou, dando um tapinha em seu braço - achei que não viria mais
– Ah, você sabe, eu não tenho tanto tempo assim livre.
– Sei, sei, a mesma desculpa de sempre - ela revirou os olhos, mesmo sabendo que não era uma desculpa e sim a realidade.
Trabalhar como engenheiro agrícola da cooperativa de Nova Primavera tomava bastante tempo e ser pai solo também não era a tarefa mais simples.
Sem falar nada, Cândida puxou Ramiro até o bar, pedindo algo para ambos enquanto conversavam.
O único da noite pois estava dirigindo.
– E como anda sua garotinha?
– Bem, amanhã vai ser o primeiro dia de aula do fundamental.
– Ah, eles crescem rápido...
– Pois é.
– E uma mãe pra ela, vai arranjar quando?
Ramiro riu.
– Nada de mãe, mal consigo conciliar meu trabalho com a paternidade, imagina um relacionamento.
– Eu tenho garotas ótimas aqui, você sabe.
– Que não servem para ser mães da minha Antonella.
– Que isso, se desfazendo das minhas meninas?
– Longe de mim, Cândida, mas não é aqui que eu vou encontrar a pessoa ideial para estar comigo e Antonella.
As luzes ficaram mais fracas, num tom de azul, e Ramiro semicerrou os olhos.
– Ah, o show vai começar. Acho que você vai gostar, é atração nova. Vem, vamos ver mais de perto. - Cândida chamou e Ramiro a seguiu até perto do palco onde ficava a barra de pole dance.
Um feixe de luz iluminou a pessoa ali no meio.
Os cabelos ruivos e longos com mechas loiras, a roupa delineando perfeitamente o corpo somado ao ar sensual da transparência.
E para fechar com chave de ouro, a voz.
Eriçando os pelos do corpo de Ramiro, como se fosse mesmo um encanto, ela começou a cantar.
𝐼 𝑝𝑢𝑡 𝑎 𝑠𝑝𝑒𝑙𝑙 𝑜𝑛 𝑦𝑜𝑢...
VOCÊ ESTÁ LENDO
overnight (não revisada)
RomanceRamiro tenta enfrentar o furacão que é sua afilhada Antonella e conciliar a vida de pai com a vida amorosa, que não vai nada bem. Até que, em uma visita ao bar que costuma frequentar, Ramiro tem uma bela surpresa: Kelvin, o professor da garotinha.