waffles

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Ramiro

Assim que Antonella dormiu em meus braços, me levantei com cuidado, substituindo meu corpo com um travesseiro.
Kelvin também havia pegado no sono e eu saí sem fazer barulho, pegando uma lanterna para ligar o gerador da casa, torcendo para que ainda funcionasse.
Quando todas as luzes se acenderam, respirei um pouco mais aliviado e e assustei com Kelvin surgindo do nada ao meu lado.
– Ai! – falei baixinho, botando a mão no coração.
Ele deu uma risadinha e coçou os olhos.
O que veio em seguida foi uma surpresa, mas eu considerava das boas.
Kelvin se jogou sobre mim, me rodeando com os braços e se aconchegando nesse abraço.
– O que aconteceu foi muito intenso, Ramiro – murmurou e se afastou o suficiente para me encarar – esse medo da Antonella não é normal, ela tava muito fora de si
– Você ta com fome?
– Muita
– Vem, vou cozinhar algo pra gente e te explico melhor
Ele tirou os braços que estavam ao meu redor e seguimos juntos para a cozinha.
Coloquei o macarrão instantâneo pra cozinhar e Kelvin guardou na geladeira o que mais eu havia comprado para nossas refeições. Não era muita coisa, visto que ficaríamos apenas um fim de semana aqui.
Quando ele se sentou à mesa, me encostei no balcão e respirei para começar a contar pois eram feridas minhas também.
– A Antonella era pequena quando os pais dela morreram, foi um acidente de carro, bem feio por sinal. Eles estavam voltando de um fim de semana em uma fazenda que frequentavam bastante, mas nesse dia específico tava chovendo bastante, um temporal como o que teve aqui. A pista tava escorregadia e tinha uma curva muito perigosa...
– Eles deslizaram e perderam o controle – Kelvin deduziu e eu assenti.
– A Antonella tava junto com eles e ficou um bom tempo presa nas ferragens até resgatarem ela. Eu sei que ela era muito pequena, mas acho que essa é uma lembrança que existe nela, mesmo ela não tendo ciência, sabe Kelvin? Toda vez que chove muito forte, ela fica histérica, chora muito, as vezes chega a gritar... ela não deu muito trabalho, né?
– Ramiro... – ele negou com a cabeça – ela não é um peso, ela não me deu trabalho de nada
– Desculpa, eu não queria que isso acontecesse, principalmente comigo longe
– Para de pedir desculpas, Ramiro. Foi muito tenso, mas eu não me arrependo de ter ficado cada segundo ao lado dela
– Obrigado, viu? Acho que não existe ninguém no mundo que eu mais confiaria a minha Antonella, a não ser você
– Eu faria quantas vezes fosse necessário
Ele me deu uma piscadela e um sorriso reconfortante.
Comemos nossa jantinha em silêncio, apenas apreciando a presença um do outro. E depois nos tomamos um automático de higiene noturna até estarmos prontos para deitar.
– Kelvin... – iniciei.
– Oi
– Você se importa se eu... se eu não dormir aqui?
– Você quer dormir no quarto da Antonella?
– É, se você não se importar – cocei a nuca.
Ele deu a volta na cama, se aproximando de mim e ficando na ponta dos pés para me dar um selinho.
– Claro que eu não me importo, pode ir lá. É melhor mesmo ter alguém pra ela se sentir mais segura
– Tudo bem mesmo?
– Ramiro, só vai – ele assentiu, fazendo carinho em meu rosto.
O beijei mais uma vez e saí do quarto, indo me deitar com Antonella, pegando no sono de exaustão.
Mal vi a hora que a chuva passou ou que o sol raiou, só senti que havia amanhecido quando um cheiro delicioso invadiu o quarto.
Antonella ainda dormia um sono gostoso e a deixei ali, ela estava cansada. Tempestades traziam uma carga emocional muito pesada para ela, era sempre difícil.
Saí do quarto seguindo o cheirinho bom e dei de cara com Kelvin na cozinha.
– Agora eu que vou ficar observando você cozinhar – falei depois de me encostar no batente da porta.
– Ai, não era pra você ter levantado, o café nem tá todo pronto ainda
Dei risada, me aproximando dele para abraçá-lo por trás.
– Posso ajudar no que falta?
– Não, você está proibido de me ajudar no café da manhã
– Ah é? Posso saber o que eu perco, se desobedecer ess regra?
– Beijinhos
– Beijinhos? Acho que da pra arriscar
Ele fez uma expressão de insultado.
– Não acredito que você botou em jogo os meus beijinhos – colocou a mão no peito.
– Eu jamais faria isso – beijei seu pescoço, fazendo-o derreter em meus braços.
– Vou queimar seu café da manhã, se não parar – avisou entre murmúrios.
– Não tem problema, eu como outra coisa – sussurrei em seu ouvido, me esfregando na bunda arrebitada.
– Ramiro! – ele deu um tapa no meu braço, envergonhado.
– Que foi? Eu tava falando de waffles
– Você não tem jeito mesmo – balançou a cabeça negativamente, dando uma risadinha.

overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora