natal e tal

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Kelvin

— Amor, você já arrumou a mesa umas dez vezes — Ramiro me observou mudar uma decoração de lugar mais uma vez.
Olhei de longe, fingindo ser um convidado para ter noção de como aquele detalhe ficava aos olhos de outra pessoa.
— Eu só quero que tudo esteja perfeito
Caminhei para me dirigir à outra ponta da mesa, visando colocar uma taça mais para o lado, mas Ramiro segurou meu braço e me puxou contra si.
— Vai ser tudo perfeito — ele afirmou — A mesa ta linda, a casa inteira decorada, a comida uma delícia, não tem do que reclamar
— É só que... — relaxei o corpo contra o de Ramiro, passando meus braço ao redor de seu pescoço — É nosso primeiro natal, eu só queria que nada saísse errado, eu planejei esse momento muitas vezes na minha cabeça
— O natal já vai ser perfeito porque estamos juntos. Juntos como uma família e com nossos amigos, não tem como dar errado, entende? — assenti, olhando em seus olhos — Então se acalma, ta bom?
— Vou tentar
— Acho que você já pode ir se arrumar, a Antonella já ta no banho
— Ta bom — me afastei de seu toque, caminhando em direção ao corredor que levava ao nosso quarto — Mas se chegar alguém, você pode... — Ramiro me interrompeu.
— Kelvin
— Ta boooom — murmurei, fingindo fechar um zíper na boca e indo para o quarto.
Depois de tomar um banho relaxante e me vestir, me sento para fazer uma maquiagem bonita.
Quando estou concentrado no delineado, ouço um toquinho na porta e peço para entrar, já sabendo quem é pela força aplicada.
— Papai? — a voz doce da garotinha invade o quarto.
— Oi, meu amor, vem aqui — guardo a caneta delineadora e a chamo com a mão.
Vestida em seu roupão das princesas, ela se aproxima com a maletinha de maquiagem que ganhou de presente de Berenice há semanas atrás.
— Você me ajuda a fazer maquiagem?
— Óbvio que eu ajudo, filha
Afasto um pouco para que ela se sente ao meu lado no banco e abro a maleta, expondo a maquiagem própria para crianças.
— Eu queria fazer uma maquiagem para o natal, mas eu faço feio
— Quem disse que você faz feio? — franzi a testa.
— Ninguém — ela deu de ombros.
— Eu não acho que você faz feio, amo quando você me mostra suas makes
— Eu queria fazer igual você faz quando se monta
— Amor, a maquiagem que o papai faz é muito pesada pro seu rostinho — acariciei sua bochecha — Você é muito linda naturalmente, então a maquiagem nem precisa ser forte. E também você é criança, não é saudável ficar colocando na sua pele os produtos de adulto, você me entende?
— Entendo — ela assentiu, parecendo tristinha.
— Mas com essas makes lindas que a tia Berê te deu, da pra fazer muitas coisas legais
— É?
— É — concordei, tirando um quarteto de sombras — Vamos fazer nossa maquiagem juntos?
— Ta bom — ela estendeu a mãozinha segurando a paleta.
— Acho que você vai ficar mais linda com esse rosa cintilante — apontei, entregando-a um dos meus pincéis — Toma, você pode usar um pincel meu
Com um sorrisinho no rosto, ela pega um pouco do pigmento e leva à pálpebra, passando com um pouco de dificuldade na coordenação.
Depois de um tempinho juntos ajudando um ao outro, terminamos juntos a maquiagem e a ajudei também a fazer o penteado.
— Papai Rams — chamei quando estava quase terminando o cabelo de Antonella.
— Chamou? — Ramiro apareceu na porta do quarto.
— Pega o vestido da Nenella, por favor?
Ele assentiu, trazendo o vestido escolhido por ela, assim como o sapato.
— Vestido e sapato da princesa — colocou ambos em cima da cama.
— Você não vai se arrumar?
— Vou, mas a minha parte é rápida. Só tomar banho e vestir uma roupa, sem muitos recursos pra ficar bonito como vocês estão
— Papai, mas você é lindo — Antonella protestou, colocando as mãos na cintura.
— É, papai, você é um gatão — concordei.
— Ah, só vocês mesmo — ele riu, se abaixando para deixar um beijo na bochecha de Antonella e na minha.
Quando estávamos prontos, as pessoas começaram a chegar.
Todas as meninas do Naitandei vieram, assim como Cândida, que me entregou um embrulho rosa brilhante.
— Meu presente para a garotinha — apontou para Antonella.
— Obrigada, Gloriosa, ela vai amar — coloquei debaixo da árvore.
— Pra você eu não trouxe presente, meu presente foi ter te apresentado seu marido. Acho que isso vale por uns bons anos
— Vale pra sempre, não poderia ter presente melhor
— Que bom, assim eu gasto menos dinheiro. Mas então, filho, você falou com o Frank?
— Falei, já discutimos tudo, Gloriosa. Ano que vem vou começar a fazer shows pelo Brasil e fazer a abertura dos show do Oddy King quando ele vier fazer a tour aqui, tô bem esperançoso com tudo isso
— E o nome da drag?
— Star
— Star — Cândida testou o nome, sorrindo em seguida — Eu gostei
— Eu também
— Conheço donos de casas de shows, vou mexer meus pauzinhos, parado você não vai ficar
— Ai, Gloriosa — a puxo para um abraço — Você faz tanto, tanto por mim. Não sei nem como te agradecer
— Você, querido, é o filho que eu nunca tive. Quero te ver feliz e fazendo o que você ama, no que você é bom
— Eu nunca vou te agradecer o suficiente
— Não precisa agradecer, só seja feliz, viva sua vida e não deixa nada passar
— Eu não vou deixar, eu juro
— Acredito em você — ela deu dois tapinhas em meu ombro — Agora vai, vai receber seus convidados que eu vou aproveitar sua ausência pra beliscar as coisas da ceia
Dei risada, indo falar com as meninas, que estavam babando na Antonella.
A campainha toca e eu chego antes de Ramiro à porta, abrindo e dando de cara com Luana, Rodrigo e o garotinho que era quase oficialmente o filho deles, Ruan.
Ele era tímido, ainda não estava tão acostumado conosco, portanto ficava mais calado no seu canto.
Antonella era a única com quem ele conseguia relaxar um pouco e brincar, apesar de ser um pouco mais velho.
— Boa noite, família! — sorri para eles, abrindo espaço para que entrem.
— Amigo, a casa ta cheia hoje, hein? — Luana comenta ao me abraçar.
— Ainda bem, do jeitinho que eu queria
Abraço Rodrigo, recebendo os presentes que ele trouxe.
Ruan me olhou e deu um sorrisinho tímido.
— Oi
Me abaixei para falar com ele.
— Oi, Ruan, tudo bom? — fechei a mão, incentivando-o a me dar um soquinho.
— Tudo
— Você ta muito bonito, essa roupa ficou maneira em você
Ruan assentiu, tocando os botões da camisa.
— Agradece o tio Kelvin, filho — Luana falou.
— Obrigado, tio Kelvin
— De nada, querido — fiz um suave carinho na bochecha dele — A Antonella ta ali, você pode ir lá com ela, se quiser — apontei para a garotinha.
Ruan olhou para Luana.
— Posso? — perguntou baixinho.
— Claro, vai lá — ela sorriu, dando uma piscadela para o menino, que caminhou tímido até Antonella.
Observei minha filha o envolver em um abraço apertado e começar a falar descontroladamente, puxando o menino para perto da árvore de natal.
— Eles vão ser muito amigos — Rodrigo comentou, também os olhando.
— Vão mesmo — concordei — Aliás, como vai o processo?
— Ta dando tudo certo, logo vamos estar oficialmente com a guarda dele — o advogado sorriu.
— Que notícia boa, gente!
— E tem mais uma coisa — Luana comentou, segurando um sorriso.
— O que?
— Rodrigo me pediu em casamento — mostrou o anel.
— Mentira? — coloquei a mão na boca — Lu, que legal! Você vai contar tudo pra gente agora mesmo — puxei ela até onde Ramiro estava.
E enquanto Luana contava entusiasmada sobre o pedido de casamento, pude ver a sala cheia, o barulho das conversas e das risadas, os sorrisos no rosto, todos animados, o brilho do natal.
Aquilo sim era um sonho.

Aquilo sim era um sonho

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overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora