Kelvin
– Não acredito que vou fazer isso – repeti pela milésima vez enquanto balançava as mãos em ansiedade pura.
– Você pode desistir a qualquer momento – Ramiro relembrou.
– Posso desistir – assenti – mas eu não vou, eu sou corajoso!
– Você é corajoso
– Eu sou um homem, não uma borboleta
– Isso
– Mentira, eu sou borboleta sim, bastante até
– Ia abrir esse parêntese aqui
– Mas borboletas são destemidas
– Sim, elas são
– É só apertar no botão verde, né?
– Só isso
– Vou apertar
– Aperta
– É só um botão idiota
– Muito idiota
– Não, ele é um botão importante. Sem ele, eu não poderia ligar e aliás, ele é verde, cor que dizem ser da sorte. Não posso chamar ele de idiota, vai que ele resolve me gongar e simplesmente me dar azar ao invés de sorte, justamente agora onde eu preciso muito de sorte e boas energias e... – Ramiro me interrompeu juntando nossos lábios. Fechei os olhos, relaxando à caricia que sua boca fazia na minha.
Quando o beijo estava envolvente o suficiente para me fazer esquecer o que eu pretendia fazer, ele se afastou.
O olhei sem entender, porém não insatisfeito.
– Você ta uma pilha de nervos, precisa se acalmar – Ramiro falou ainda próximo de mim.
– To com medo
– Você não precisa fazer, se não quiser – Ramiro segurou meu queixo, olhando em meus olhos – Eles não tem mais poder nenhum sobre você, entende? Você é livre pra viver como quiser, amar quem quiser e não há nada que eles possam fazer pra mudar isso
– Ta bom – assenti – Vou fazer de uma vez, não há o que temer
Respirei fundo e apertei no botão verde.
– Quer que eu saia? – Ramiro sussurrou.
– Não, não. Fica aqui – rapidamente busquei sua mão, entrelaçando nossos dedos, temendo que ele saísse do meu lado.
Coloquei a chamada no auto falante e tremi enquanto a ligação não era atendida.
Quando a voz da minha mãe soou pelo ar, apertei a mão do meu namorado.
– Kelvin, é você?
– Oi... oi, sou eu
– Finalmente você retornou, menino. O que aconteceu no shopping, que surto foi aquele?
– Não foi um surto, mãe... – minha voz tremeu.
– Bom, foi o que pareceu, você fugiu de mim com aquela garotinha que chamou de filha. Eu, realmente, estou curiosa pra saber como isso aconteceu
– O que você quer?
– Como assim, o que eu quero?
– Desde que eu saí de casa, você não fez uma ligação, simplesmente ignorou minha existência, aliás, obrigada por isso, foi muito melhor assim. Mas o que você quer comigo, por que motivo apareceu do nada?
– Você sempre foi muito rancoroso, Kelvin, desde criança – ela deu uma risadinha.
– Não sou rancoroso, apenas tirei você da minha vida e não te dei autorização de voltar pra ela
– Kelvin, a vida não é preto no branco, as coisas não são simples assim
– Não? Então me conta como é, me conta. A vida pra você é desrespeitar as pessoas, querer me colocar em uma caixinha que eu não caibo?
– Kelvin, podemos nos encontrar pra conversar?
– Não quero ser visto com você em público, você sabe que existem pessoas de olho na sua vidinha e eu nunca mais quero ter meu nome na boca das pessoas assim como era quando eu morava com vocês
– Eu e seu pai estávamos conversando. Queremos você de volta em casa, recompensar os anos que se passaram. Fizemos novos contatos, Kelvin, você pode herdar muito do seu pai, é só se casar com a filha de um dos sócios da empresa, estamos com um contrato milionário em jogo...
– Lá vem você de novo com isso. Eu já falei que sou gay, você já se esqueceu? E eu não vou casar com ninguém só por dinheiro
– Kelvin, é só se casar e viver uma vidinha medíocre de aparências. Ou você acha que ela quer casar com você? Vocês podem dormir em quartos separados, se envolver com outras pessoas... é só ter cuidado pra não ser visto
Soltei uma risadinha de escárnio.
– Você só pode estar brincando comigo
– Não estou. E aí, o que me diz?
– Não volta a me procurar, ta entendendo?
– Mas, Kelvin... – eu a interrompi.
– Não. Me. Procure. Mais. – falei pausadamente.
– Kelvin, me escuta, são milhões
– Enfia os milhões no cu
Apertei o botão de desligar e soltei uma respiração que eu nem sabia que estava segurando.
Minha mão doía e demorei para perceber que era pelo aperto forte que eu dava na mão de Ramiro.
– Você foi muito bem – ele sorriu.
– Você viu? – joguei meu celular de qualquer jeito na mesinha de centro e pulei em cima de Ramiro – Mandei ela enfiar o dinheiro no cu! – comemorei e Ramiro riu, deitando no sofá comigo em cima.
– Você foi incrível mesmo
– Me sinto como se o mundo todo fosse meu, sabe? – sorri.
– O mundo todo é seu, você não sabe disso?
– Não preciso do mundo todo, só preciso de você e a Antonella
– Somos seus desde o primeiro dia
Me aproximei para beijá-lo.
– Ok, essa adrenalina toda ta me deixando animado, acho que vamos precisar ir pro quarto
Me levantei de cima dele e o puxei pelo braço.
– Precisamos ser rápidos, antes que dê a hora de buscar a Antonella
– Vamos ser rápidos se você for bonzinho e colaborar comigo – olhei para ele com um sorrisinho sugestivo.
– Tudo o que você quiser – Ramiro entrou no quarto e me sentei na cama, cruzando as pernas e me apoiando em meus cotovelos.
– Acho que essa frase pode melhorar
Ramiro riu.
– Tudo o que você mandar
– É assim que eu gosto – estalei a língua no céu da boca.
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overnight (não revisada)
RomansaRamiro tenta enfrentar o furacão que é sua afilhada Antonella e conciliar a vida de pai com a vida amorosa, que não vai nada bem. Até que, em uma visita ao bar que costuma frequentar, Ramiro tem uma bela surpresa: Kelvin, o professor da garotinha.