pra que inimigo?

359 37 18
                                    

Kelvin

Minha garganta secou completamente quando me deparei com o carinha de ontem a noite bem na minha frente. Que porra de azar é esse??
Ontem eu tava de quatro pra ele e hoje ele ta aqui todo gostoso, segurando na mão de uma garotinha linda.
Inclusive, será que é filha dele? Será que é casado? Meu Deus, será que eu fui amante?
– Eu... eu... eu... Kelvin - apontei para mim mesmo - professor
Bom, pelo visto eu também não sabia mais falar.
– Ramiro - ele estendeu a mão.
Ele quer que eu pegue na mão dele? Mão essa que estava por todo o meu corpo ontem.
Foco, Kelvin. Pensa nas crianças, muitas delas. Chorando e berrando, tirando catota do nariz e correndo.
Levei minha mão à dele, reconhecendo de imediato a sensação da pele dele em contato com a minha.
Fiz o aperto de mão ser o mais breve o possível e olhei para a loirinha que observava nossa interação.
Me abaixei para ficar da altura dela, não que fosse necessário muito esforço, mas gostava de falar com as crianças de igual para igual.
– E essa lindona aqui, quem é?
– Meu nome é Antonella
– Ai eu amei o seu nome, Antonella. Eu me chamo Kelvin e sou o professor do primeiro ano
– Eu sou do primeiro ano! - ela sorriu, demonstrando uma animação não muito esperada das crianças em seus primeiros dias de aula.
– Você jura? Então vamos ser da mesma sala - comemorei - e quantos anos você tem?
– Cinco anos
– Ah, uma mocinha já. É por isso que você ta tão confiante, não é? Você já ta crescida, já ta no primeiro ano - ela assentiu - então vamos dizer tchau pro seu papai e escolher um lugar pra sentar?
– Ele não é meu papai, é meu tio Ramiro
– Ah.. ah, então... - olhei rapidamente para o homem que observava nossa interação - então vamos dar um beijo no titi... quer dizer, você vai dar um beijo no seu tio
Ramiro se abaixou também e fazendo carinho nas bochechas rosadas de Antonella.
– Titio vai pro trabalho e vem te buscar mais tarde, tudo bem?
– Tudo bem - ela assentiu e abriu os braços, rodeando o pescoço do tio - te amo, titio
– Também te amo, princesa. Boa aula pra você - deu uma piscadela para ela.
– Vamo? Onde você quer sentar? - perguntei.
– Aqui - apontou para a cadeira mais próxima dela e se sentando, toda autoritária.
Ramiro estendeu para mim a mochila dela e eu, tentando evitar ao máximo seu olhar, a peguei.
– Amanhã temos... é... temos um café da manhã para as crianças. Vamos fazer um lanche no jardim e cada criança traz o seu lanche preferido
– Tudo bem, eu trago o lanche dela - Ramiro assentiu.
– Ta bom - murmurei e fiquei completamente sem ação quando Ramiro continuou parado onde estava - bom trabalho pra você
– Pra você também - ele coçou a nuca, saindo da sala como o diabo fugia da cruz.
Senti que ficou até mais fácil de respirar.
No mesmo momento, corri para pegar meu celular.

No mesmo momento, corri para pegar meu celular

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Ramiro

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Ramiro

Ficava muito difícil trabalhar quando flashes não paravam de me ocupar a memória, principalmente os da noite passada. Os gemidos, nossos corpos juntos, o suor se misturando, o prazer descomunal que senti e tenho até a leve impressão de ter saído de lá mais leve como nunca depois de uma noite de sexo casual.
Além de ficar toda hora tendo que recomeçar meu trabalho por conta da desconcentração, tinha também que pensar em uma forma de evitar todo o constrangimento que seria ter que encontrar o professor Kelvin todos os dias. Mudar Antonella de escola estava fora de cogitação, eu precisava ser adulto e lidar com a consequência dos meus atos. Consequência de um ato muito gostoso, diga-se de passagem.
E foi com essa determinação que terminei metade do meu expediente, dirigindo até a escola para buscar minha afilhada.
Respirei fundo e engoli em seco mais vezes do que poderia contar até chegar na sala do primeiro ano.
A porta se abriu e a primeira pessoa a sair do cômodo foi o motivo dos meus devaneios durante toda a manhã: Kelvin.
– Já vamos liberar as crianças - ele murmurou para mim e para os outros pais que aguardavam do lado de fora da sala - Antonella, meu amor, seu tio já ta aqui. Pode vir - ele sorriu para a garotinha que saiu da sala sorridente.
– Titio, que bom te ver! - ela pulou com os braços erguidos e eu a peguei no colo - hoje foi um dia muito legal com meus coleguinhas e com o tio Kelvin
– Foi? Que bom, minha princesa, você me conta mais no caminho - falei já caminhando pelo corredor.
– Espera! - ela falou apressada - eu tenho que dar tchau pro tio Kelvin
– Ah ta, tudo bem, vamos lá - falei mais para mim do que para ela.
O problema foi que, ao invés de descer do meu colo para se despedir do professor, Antonella se esticou para deixar um beijinho na bochecha do rapaz, me deixando próximo demais dele.
Perto o suficiente para sentir o perfume, o mesmo de ontem, e também o calor de seu corpo.
Tossi na tentativa de disfarçar que estava nervoso e logo me afastei.
– Já ta bom, amanhã vocês vão se ver de novo - sorri sem jeito e caminhei o mais rápido até meu carro.
Pelo visto, a conversa que eu ensaiei na minha cabeça teria que ficar para amanhã e era bom que Kelvin seguisse exatamente o roteiro que eu criei na mente.

overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora