te dou meu sobrenome

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Kelvin

Antonella dormia profundamente no banco de trás e eu estava quase no banco da frente. A festinha foi incrível, minha garotinha não parou de sorrir por um só instante e os convidados em sua maioria verbalizaram isso ao ir embora.
Meus olhos estavam pesados e Ramiro também parecia exausto, por isso me mantive firme para conversar com ele durante toda a viagem e evitar que ele acabe dormindo no volante.
— Amor... — chamei enquanto arrancava as unhas postiças que eu havia colado — Qual a história dos pais da Antonella? Digo, como ela veio parar com você?
Ramiro pousou distraidamente uma mão em minha coxa, fazendo carinho com o polegar.
— Ela é filha de um casal que era muito amigo meu, Petra e Luigi, ele era italiano, aliás. Você conhece Antônio La Selva?
— Conheço por nome só e também já notei que a Nella tem esse sobrenome
— Ele é um dos produtores rurais mais ricos da região e a Antonella é neta dele
Abri a boca, meio chocado com a notícia.
— Mas nesses casos da criança ficar órfã, a guarda não fica com o parente mais próximo?
— Fica, mas a família La Selva é uma família muito instável e a Petra não tinha essa confiança toda de deixar a filha dela com eles, caso acontecesse alguma coisa
— Caramba, disso eu não sabia. Os boatos só falam sobre como é uma família poderosa e essas coisas...
— Pois é, mas lá não é mil maravilhas — Ramiro negou com a cabeça. — Assim que a Antonella nasceu, a Petra procurou o advogado da família e fizeram quase que um testamento, dizendo tudo o que tinha que acontecer com a bebê, caso eles não pudessem estar aqui pra decidir
— Hum...
— E uma das coisas que exigiram, era que a guarda dela viria pra mim, o padrinho dela. No começo eu achei bobeira deles, a gente nunca acha que nada de ruim vai acontecer com quem a gente ama, né?
— É verdade — concordei com a cabeça, pousando minha mão sobre a sua em minha perna.
— Mas infelizmente os dois se foram, juntos. E deixaram o que tinham de mais precioso comigo
— Eles deixaram com a pessoa certa, sabia? Acho que não há ninguém que poderia cuidar melhor dela do que você
— A Antonella é o meu bem mais precioso, de verdade. Eu não deixo qualquer pessoa se aproximar, meu maior medo é que tentem tirar ela de mim
— Alguém já tentou fazer isso?
— Os La Selva — ele assentiu — Diversas vezes eles já recorreram na justiça pra tentar ter a guarda da Nella, sempre ganhei todas as causas, mas tenho medo de encontrarem uma brecha
— Acho que não, amor...
— Eu sou um homem solteiro, não tenho rede de apoio e cuido dela sozinho. Tenho um emprego bom, uma casa boa e ela estuda em uma escola boa também, mas são coisas que podem acabar um dia, entende? Se eu perder o emprego, não posso manter mais da metade das coisas necessárias pra que ela tenha uma vida confortável e é aí que mora o meu medo
— Você não vai perder o emprego, não fica com neura — fiz carinho em seu braço.
— Na verdade, eu tava pensando uma coisa, mas tava esperando um tempo porque não tinha coragem de te chamar pra conversar sobre isso
— Rams, você sabe que pode falar de tudo comigo, comunicação é um pilar importante pra isso aqui acontecer — apontei para nós —  e você sabe disso
— Eu sei... eu sei, só tava tomando coragem mesmo
— Ta, e o que é esse assunto tão importante?
— O que você acha da gente adotar a Antonella?
Uma risada surpresa saiu da minha boca no mesmo instante.
— Adotar?
— É, agora que a gente vai casar, podemos entrar com o pedido de adoção e colocar nossos sobrenomes nela. Não queria falar disso antes porque não queria te assustar, te assustei?
— Meu Deus, não! Nunca! Essa é uma das propostas mais lindar que você já me fez — respondi com a voz já falhando por conta do choro.
— Mesmo?
— Mas é claro! Imagina que lindo a gente se casar, dar os nossos sobrenomes pra ela, ser os pais dela de fato e não apenas no coração... não tem coisa melhor
— E de quebra, os La Selva não vão poder tentar mais pegar ela de nós
Enxuguei uma lágrima antes que ela rolasse em minha bochecha e borrasse minha maquiagem.
— Eu acho essa ideia linda, Rams
Ele levou minha mão até seus lábios, dando um beijinho no dorso.
— Antonella Neves Santana vai ficar lindo na certidão dela
— Ou Antonella Santana Neves
— Neves primeiro, amor
— Ue?
— Eu sou o pai dela antes, então meu sobrenome vem na frente
— Isso é injusto, eu não tinha como conhecer vocês antes, eu nem sou daqui
— Mas fica mais harmonioso
— Não acho — neguei com a cabeça — Santana na frente causa mais impacto
— Neves é mais curto e direto, simples, mas forte
— Santana é sofisticado. Escuta só: Antonella Santana, olha como desliza...
— É um nome, não uma marca de sabão, não tem que deslizar nada
Dei um soco em seu braço.
— Ramiro, para de ser um chatão e aceita que o meu nome na frente brilha mais
— Não brilha nada, Neves é muito mais conveniente
— Vamos perguntar dela e deixar ela decidir, então
— Acho uma ótima ideia, ela sabe escolher bem
— Sim, é por isso que vai escolher Santana, eu tenho certeza
— Você ta confiante demais, vai comprar ela com batata frita?
— Eu não vou fazer nada, só confio no bom gosto da minha filha
— Ela é minha filha também
— Então você vai entender as escolhas dela
— Que vai ser Neves
— Ramiroooo!

overnight (não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora