Kelvin
Lecionar era lindo, adorava as crianças e o carinho que elas eram capazes de nutrir por nós, professores.
Mas uma coisa que eu detestava era reunião de pais.
Pais simplesmente não aceitavam que seus filhos eram seres humanos com defeitos e era inacreditável como confiavam que seus anjinhos tinham a capacidade de não se comportar em sala de aula.
Alguns sequer liam quando eu mandava recado na agenda e quando chegava na reunião, ficavam espantados com minhas reclamações diretas sobre seus filhos.
E de quem era a culpa? Deles? Nãaaao, jamais!
A culpa era minha, o professor que queria apenas ensinar o básico. Tudo bem que a escola e os pais tinham que andar de mãos dadas, mas a educação vinha de casa, não é mesmo?
Exausto de tanto engolir insinuações e indiretas disfarçadas sob um tom amigável, pego minhas coisas, pronto para ir embora.
– Kelvin, gostaria de conversar com você – Gladys me chama no meio do corredor e eu bufo de raiva.
– Oi – respondo a contragosto.
– Precisamos fazer uma reuniãozinha, você não acha?
– Olha, diretora, vou ser bem sincero com você. Estou cansado do dia de hoje, engoli muito sapo e a última coisa que eu quero é ter uma reunião. Então, por favor, só hoje, me deixa ir pra casa descansar
Ela me olhou como se eu fosse um ser de outro planeta.
– Ta, ta, vai logo – me enxotou com a mão e eu não pensei duas vezes antes de dar as costas para ela.
O carro de Ramiro estava no estacionamento da escola e eu estranhei.
Ele baixou o vidro e eu franzi a testa para ele. Não havíamos combinado dele vir me buscar.
– Já? – perguntou e eu assenti – entra aí
Dei a volta no carro e entrei, batendo a porta talvez com força demais.
– O que foi? – Ramiro estranhou.
– Odeio reunião, odeio, odeio! – passei a mão no rosto – E to morrendo de fome, to cansado, to exausto
– Ta bom, ta bom – Ramiro falou, fazendo carinho em meu pulso – vou te levar pra casa, você almoça, toma um banho e descansa, ta? Depois você passa na sua casa, pega suas coisas e a gente vai pra praia, tudo bem? Descansar de verdade
– Ta bom – assenti, tentando me acalmar – Você se importa se eu ficar calado? Não gosto muito de conversar quando estou estressado, eu fico um pouco ignorante, não quero te tratar mal
– Não diga mais nada – ele beliscou meu queixo e eu coloquei o cinto.
Assim que saímos do estacionamento, Ramiro ligou o rádio e sorri escondido quando ele deu o comando de voz para tocar Taylor Swift.
Com o balanço gostoso do carro, acabei cochilando e me assustei com a porta do carro batendo.
De início, achei que tínhamos chegado, mas logo reparo que estamos em um posto de conveniência.
– Desculpa, não queria te acordar – Ramiro sussurrou.
– Ta tudo bem
Ele me entregou uma sacola e eu a peguei sem entender.
– Comprei pra você
Espiei o que tinha dentro e o olhei sorrindo depois de ver as besteiras que eu gostava de comer ali dentro.
– Não acredito que você comprou isso pra mim
Ramiro se aproximou, segurando o meu rosto e deixando vários beijinhos em meus lábios.
– Pra acalmar você, meu estressadinho
– Ah, não me chama assim – tentei fazer cara fechada mas não consegui, soltando uma risada.
Abri um dos chocolates e comi, saboreando a incrível combinação do chocolate com o recheio de morango.
Ramiro estendeu a mão para que eu compartilhasse com ele e eu segurei a sacola contra o peito.
– Meu. – franzi a testa.
– Ah, você não vai me dar, é?
– Hã-hã – neguei com a cabeça.
– Vou anotar no meu caderninho de mal criações e você vai ficar de castigo
– Você não é meu pai
– Não é desse castigo que eu tô falando – deu um sorrisinho ladino.
– Pra você – estendi a sacola para ele, fazendo-o rir.
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overnight (não revisada)
RomanceRamiro tenta enfrentar o furacão que é sua afilhada Antonella e conciliar a vida de pai com a vida amorosa, que não vai nada bem. Até que, em uma visita ao bar que costuma frequentar, Ramiro tem uma bela surpresa: Kelvin, o professor da garotinha.