Ramiro
Eu estava completamente confuso, nada parecia se encaixar, eu tinha a impressão de que havia algo que eu não estava sabendo.
Mas eu estava disposto a passar uma borracha na situação que aconteceu entre Kelvin e Antonella. Partiu meu coração vê-la daquele jeito e eu simplesmente reagi como qualquer pai faria.
Eu só não coloquei na balança que a vítima da minha reação era o cara que eu gostava e que eu havia o machucado apenas por supor que ele seria hostil com Antonella de graça.
Eu era mesmo um burro.
Mas só consegui botar todos esses pensamentos em ordem quando vi Kelvin entrando no carro claramente fugindo e mim e depois de ter dito que eu o perdoava. Que piada. Se alguém tinha que ser perdoado ali, esse alguém era eu.
– Ramiro? – uma voz feminina me chamou e me assustei ao sentir um toque no ombro.
Me virei para ver quem era e fiquei mais confuso ainda.
– Menah?
– Eu vi o Kelvin saindo que nem um foguete e depois você, vim saber o que tava acontecendo
– Pelo visto, muita coisa que eu não sei – suspirei cansado, usando o meu único braço disponível para pegar meu celular no bolso da calça social.
Estava sem carro e obviamente sem poder dirigir.
E também sentindo uma dor muito forte no punho machucado, mas decidi que aprenderia a conviver com ela até que ela decidisse não mais me encher o saco.
– Você precisa de uma carona pra casa?
– Queria uma carona até a casa do Kelvin, preciso falar com ele
– Ele vai querer te receber? Vocês pareciam estar brigados
– Ele vai ter que me receber, eu preciso urgentemente de uma explicação e entender por qual motivo a Gladys simplesmente demitiu ele
– Ela demitiu? – Menah perguntou incrédula – Não, isso ta muito errado
– Você sabe de alguma coisa que eu não to sabendo, Menah? – olhei para ela, bloqueando o celular no mesmo momento.
– Eu não sei até onde você sabe, mas vou te contar tudo o que eu sei
– Por favor, faz isso – implorei.
– Vamos só sair daqui da frente – ela apontou para um caminho na lateral da casa festas que sairia em um jardim velho com fontes secas.
Nos sentamos em um dos bancos de pedra e ela suspirou.
– Olha, eu e Kelvin somos amigos na escola, mas não sou amiga próxima o suficiente pra estar te contando da vida dele. Só vou fazer isso porque eu sei que o Kelvin gosta muito da Antonella e de você
– Ta bom – concordei com a cabeça.
– A Antonella e o Kelvin aparentemente têm uma relação especial, uma conexão diferente, sabe? E é perceptível, mas o Kelvin nunca deixou de tratar bem os outros alunos e cuidar. Muito pelo contrário, depois que eu assumi a turma dele, percebi o quão avançados aqueles alunos estão
– Assumiu a turma dele?
– Calma, eu vou chegar lá. Então, essa relação dele com a Antonella começou a chamar atenção da Gladys e ela começou a pegar no pé do Kelvin por isso. E, Ramiro, vou falar muito respeitosamente, você e o Kelvin nunca conseguiram esconder no olhar que desejavam um ao outro – Menah falou com cuidado, fazendo-me sentir as bochechas queimando – e é óbvio que a Gladys também prestou atenção nisso. O relacionamento entre professores e pais de alunos não é permitido, a não ser que já sejam casados antes da admissão
– Certo... – assenti, mostrando que estava entendendo.
– Mas eu acho muito errado a Gladys tentar se meter no que quer que seja a sua relação com Kelvin, se for fora da escola. Na verdade, isso tem nome e significado, acho que você sabe muito bem o que é...
– Sei sim – assenti, decepcionado.
– O Kelvin ficou sob avisos e ameaças disfarçadas esse tempo todo, realmente pendurado na beira do penhasco, só precisando de um empurrão pra cair e mesmo assim, continuou com aquilo que ele achava conveniente. Até a Gladys decidir que era melhor pra ele trocar de turma e cortar relações com a Antonella
Senti minha garganta fechar e o ar ficando preso ali.
Não. Não. Não.
– Então ele ter se afastado da Antonella, foi coisa da Gladys?
– Óbvio que foi, ele tava todos os dias sendo pressionado e coagido a tomar essa decisão. Acho que ele nem chegou a verbalizar, mas acho que tava considerando até se demitir muito em breve, só não esperava que a Gladys fizesse isso antes
– Eu... a gente brigou... eu achei que ele... – passei a mão no rosto e suspirei.
– Ramiro, você ta bem? – a professora perguntou, preocupada, tocando meu ombro.
– Não muito, Menah... eu posso ter perdido por besteira a pessoa que eu gosto e desse lado, consigo pensar em como ele era certo pra mim
– Calma, vocês só precisam conversar de cabeça limpa, não precisa desse drama todo – Menah resmungou, me fazendo rir – É sério, se acalma, eu tenho certeza que ele gosta de você
– Tem? Como?
– Ah, Ramiro, as vezes o amor é tão... amor – ela riu – as pessoas complicam, mas as vezes só é simples, entende?
Assenti.
– Obrigado, Menah, de verdade – apertei sua mão que ainda estava em meu ombro.
– Não precisa agradecer – ela sorriu solícita – Você ainda quer uma carona pra casa dele?
Pensei por uns segundos.
– Acho que ele merece uma coisa muito melhor do que uma conversa de fim de noite após ser demitido
– Também acho, sabia? Ele precisa de apoio agora
Concordei, sentindo-me aliviado e ao mesmo tempo muito burro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
overnight (não revisada)
RomanceRamiro tenta enfrentar o furacão que é sua afilhada Antonella e conciliar a vida de pai com a vida amorosa, que não vai nada bem. Até que, em uma visita ao bar que costuma frequentar, Ramiro tem uma bela surpresa: Kelvin, o professor da garotinha.